sábado, 14 de fevereiro de 2015

De que serve o cessar-fogo?

                                     

          As negociações em Minsk nesta última semana foram cercadas por nuvem de ceticismo. O esforço de Frau Merkel acompanhada por M. François Hollande em defender a causa da Ucrânia, invadida a leste e escarnecida pelo risonho gospodin Vladimir Putin, deixava, não obstante as promessas de ajuda do Ocidente, com seu semblante contraído, solitária a figura do presidente Petro Poroshenko.

          Seria, como se, a despeito dos acordos assinados, e as palavras de apoio dos dois maiores países da União Europeia, tais argumentos pouco pesassem na balança das nações. A incipiente Roma aprendera com o gaulês Breno, que a vencera, o escasso valor que tem a retórica no prélio das armas. Como houvesse contestações nos romanos sobre os termos do ‘acordo’, Breno jogou, com a própria espada na balança, as palavras:

          Vae, victis!”[1]   

          Com esse dito célebre, Breno atalharia os reclamos da jovem Roma derrotada. Diante da força preponderante, as palavras de pouco valem.

          Assim como Neville Chamberlain, acolitado pelo francês Édouard Daladier, viajara em fins de setembro de 1938 até Munique, pensando  salvar a paz europeia, ameaçada por litígios com países de que nada sabiam, a Chanceler Angela Merkel ao tomar o avião para Minsk já excluía de plano qualquer reação mais forte do que a diplomática.

          Na geral avaliação, Putin, nessa nova rodada de cartas, já saía com a quase certeza de levar vantagem. Líder na Comunidade Europeia, a Merkel se esquecera de  que em negociação diplomática o segredo é a alma do negócio. Excluindo qualquer apelo à força, real ou figurada, ela caminhava altiva no caminho do lobo Putin.

          Por isso, o esgar de Poroshenko, sempre sozinho nas fotos em patética e muda  confrontação com o riso irônico do Senhor do Kremlin.

          Putin desdenha a diplomacia, se despojada de pressões respeitáveis (como as sanções e eventuais medidas militares). Entende-se, por conseguinte, o sorriso nos lábios descarnados de Vladimir Putin. Na sua terra, ele não se distingue pela face risonha. Nele o semblante sério e contraído é marca registrada.

          Mas como não há de rir, se o segundo acordo de Minsk concede aos litigantes um generoso prazo para a respectiva entrada em vigor?  É erro garrafal, pueril mesmo, dar uma lata extensão à continuação do conflito, que só servirá ao lado mais forte, que é o russo, com as suas armas pesadas e o respectivo bem-equipado exército. De lambuja se concede aos rebeldes – contingentes armados e dirigidos por Moscou – mais uma generosa janela para avançar no território da Ucrânia oriental.

          Que cessar-fogo é este que principia com um vale-tudo pró-Russia?

          O risinho de Vladimir se alimenta do primarismo diplomático da dupla franco-alemã. Ninguém parte para empreitada que deseja exitosa, se de saída se priva do aporte das armas (excluindo qualquer ajuda nesse sentido à Kiev) e reafirmando a própria fé na diplomacia, justamente perante adversário, que com o gesto e comportamento afeta privilegiar a força marcial!

           Os neófitos na diplomacia se autocondenam. No poker, como na diplomacia, o segredo é a alma do negócio. Com aliados como esses, Petro Poroshenko está bem arranjado.

 

(Fontes:  The New York Times, Folha de S. Paulo)



[1] Ai dos vencidos!

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