sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A Corrupção no Brasil

                                       

         O menos que se possa dizer é que a corrupção em nosso país tem presença africana. Nesse sentido, creio que importa precisar que isto não é mera alusão à participação do ditador da Guiné Equatorial em nosso carnaval, através de bancar a apresentação da escola de samba Beija Flor.

        A corrupção no Brasil assume dimensões africanas, na medida da notória presença desse flagelo em África. Dos efeitos deletérios desse fenômeno sociológico no continente vizinho, há muito e pouco que dizer. Muito pela sua presença em quase toda parte, defraudando a população sofredora com líderes ávidos e perniciosos. Eles tornam ainda mais miseráveis os pobres, além de fazê-los conviver com o pior dos parasitas, eis que essa escumalha possui o dúbio dom de negar-lhes o futuro, enquanto se espojam nas riquezas das terras de que se apossam.

        E não vá a Europa e o Ocidente colocar lenços de renda nas narinas, como se tais aromas os incomodassem! Desde Patrice Lumumba, o mártir congolês, a presença ocidental continuou a ser nefasta, cuidando de plantar os seus Tchombé e mais tarde talvez o maior cleptocrata de todos os tempos, Mobutu, que morreu de morte morrida, depois de sugar, com a conivência dos antigos senhores, todo o futuro da rica terra congolesa.

        Dessarte, na África os Nelson Mandela se contam nos dedos de u’a mão! Será decerto um escândalo, mas andemos devagar se os censuramos, como novos Savonarolas, que sobem nos rostros com o dedo em riste, prontos a ralhar o seu público.

        Vejam o próprio quintal, antes de nos animar a zelos de Catão. Nada como um cronista de Brasília, em jornal de S. Paulo, para trazer-nos ao Rio algumas verdades acerca da Sapucaí: “não basta reclamar da Beija-Flor, que levantou o troféu com patrocínio do sanguinário ditador da Guiné Equatorial. Uma conversa a sério sobre o financiamento do Carnaval do Rio precisa discutir os repasses de verba pública às escolas de samba e o controle da festa mais popular do país por uma entidade ligada ao crime, com as bênçãos do Estado e da prefeitura.”[1]

       Recordam-se da juíza que de uma sentada prendeu a todos os chefes do Bicho no Rio de Janeiro? Talvez o problema do Brasil esteja no caráter efêmero de todas as penadas. Faz tempo, não? A decisão, saudada por gregos e troianos, deixa-nos amarga lembrança, eis que os senhores do bicho não esquentaram tempo no xadrez. No entanto, como um quadro na parede, ele pode doer, mas tais senhores permanecem, como também as sólitas mesinhas de seus agentes...

       De outra parte, quando olvidar-nos deste carnaval, e de que houve apenas um único jurado em um único quesito que não deu dez! à Beija Flor, poderemos até pensar na entrevista do Ministro José Eduardo Cardozo com os advogados das empreiteiras – sem falar da pessoa a quem ele topou por acaso – vejam só!- na sua antessala -, no medíocre ministério de D. Dilma (39 brasileiros!), e, descendo a ribanceira, vamos topar com os condenados da Ação Penal 470, o famoso mensalão (e já estão quase todos com o pé na rua, livres pela graciosa doutrina da progressão de pena) que só se tornou possível como exemplo graças ao estro e à coragem do Ministro Joaquim Barbosa, que infelizmente não está mais no Supremo, enquanto o seu sucessor, Ricardo Levandowski, viaja pelas Europas, e visita o Papa Francisco e a Raínha Elizabeth, da Inglaterra!

       Mas, ‘pera aí, ilustre leitor e passageiro, que as funduras aí não param, pois para desbrenhar temos diante de nós o pântano do Petrolão. Chico Caruso, que com um risco nos mostra laudas e laudas de ínvias sendas no chavascal de Pindorama, ora nos aponta os baixios do Petrolão. Até impressões digitais ele já nos apontou em barris da nossa maior empresa...

       E o brasileiro? Continuará otimista, com essa gente à sua volta?

 

( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo, Carlos Drummond de Andrade )



[1] Bernardo Mello Franco, O crime compensa na Sapucaí, Folha de S. Paulo, 14.II.2015.

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