sábado, 9 de novembro de 2019

Para Moro, Congresso pode debater 2ª Instância


                       
         O ex-juiz e atual Ministro da Justiça, Sérgio Moro, defendeu ontem,8 de novembro, o direito do Legislativo de alterar a Constituição para prever a prisão após condenação em segunda instância, um dia depois de o STF vetar tal possibilidade.
            Nesse sentido, proposta sobre o tema deve ser votada na 2a. feira, em comissão na Câmara e, segundo o Presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) pode ir a votação em plenário caso seja aprovada. Tal medida, no entanto, enfrenta resistências entre lideranças partidárias no Congresso, onde cerca de um terço dos parlamentares é investigado.
            Por seis votos a cinco, como se sabe, o Supremo decidiu anteontem que um condenado tem o direito à liberdade até o fim de todos os recursos judiciais. "O Congresso pode de todo modo, alterar a Constituição ou a Lei para permitir nova- mente a execução em segunda instância, como, aliás, reconhecido  no voto do próprio presidente do STF, Dias Toffoli", disse Moro ao Estado. "Afinal, juízes interpretam a lei e congressistas fazem a lei, cada um em sua competência."
            Duas propostas de emenda à Constituição (PECs) estão em discussão, simultaneamente na Câmara e no Senado. A que está em análise pelos deputados deve ser votada na segunda-feira pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A data foi marcada ontem pelo presidente do colegiado, Felipe Francischini (PSL-PR), após tentativas frustradas de se a medida antes do julgamento no Supremo.
             "Uma proposta polêmica nunca é fácil de ser aprovada, mas vejo que há apoio de vários deputados", disse Francischini. São necessários os votos de ao menos 34 dos 66 integrantes da CCJ para a proposta ser aprovada. O texto ainda precisará passar por uma comissão especial e só então pode ir ao plenário, onde precisa do apoio de três quintos dos deputados (308 dos 513 parlamentares).
                Integrantes de partidos do Centrão e da oposição, porém, resistem à PEC. "Nenhuma possibilidade de passar. Nem pauta. O pessoal que está querendo é minoria, mas no plenário não passa. É um erro porque o Supremo acabou de tomar uma decisão", afirmou o presidente do Solidariedade, Paulinho da Força (SP). "Se isso for feito (passar a PEC) vai ser lido  como uma afronta ao PT", disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP),em uma referência à liberdade concedida ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após o novo entendimento do STF.
                   Já a chamada bancada "lavajatista", porém, pressiona o presidente da Câmara a levar a proposta  ao plenário. Ontem, grupo de quinze deputados do PSL assinou documento em que ameaça obstruir a pauta a pauta caso a medida não avance. A esse propósito, questionado pela reportagem, se a PEC será pautada no plenário após passar pelas comissões, Maia respondeu: "Acredito que sim."
Ulterior resistência. No Senado Federal, o presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP) ainda resiste em levar adiante uma proposta no mesmo sentido. A presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Simone Tebet (MDB-MS), porém, anunciou que vai pautar uma PEC  do Senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) para o próximo dia 20.
                       Dos 81 senadores, 43 já se declararam publicamente a favor da prisão em segunda instância - são necessários 49 para aprovar a PEC no plenário da Casa. O cenário demonstra que uma proposta com esse teor tem menos resistência  no Senado do que em relação à Câmara.
                          Líderes dos partidos, porém, pedem cautela. "É preciso ver como isso está funcionando em outros países. Tem gente que quer jogar para a platéia, curtir, comentar e compartilhar. Não é assim que se deve fazer lei", afirmou o líder do PSDB, senador Roberto Rocha (MA). "Toda essa discussão aconteceu porque o Lula foi preso. Se a PEC for valer apenas para casos futuros, eu voto", afirmou o líder do PSD, senador Otto Alencar (BA).

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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