domingo, 24 de novembro de 2019

Destruidor depoimento do embaixador Sondland


           

          O embaixador dos Estados Unidos na União Europeia, Gordon Sondland, confirmou a vinte de novembro corrente que o presidente Donald Trump ordenara a suspensão da ajuda militar à Ucrânia para pressionar o governo daquele país a anunciar uma investigação sobre o democrata Joe Biden.

           A ordem presidencial foi transmitida, segundo Sondland, através de Rudolf Giuliani, que como é público, trata-se do advogado pessoal de Trump. O depoimento era dado por Giuliani "e sabíamos que essas investigações (sobre Biden)  eram importantes para o Presidente", declarou Sondland, durante testemunho no Congresso, como parte do inquérito de impeachment de Trump.
             Sondland reconheceu a existência de um "canal paralelo"  que 'redefiniu' a política externa dos Estados Unidos em relação à Ucrânia. A diplomacia informal era realizada por ele, Sondland, pelo secretário de Energia, Rick Perry, e pelo enviado especial dos EUA à Ucrânia, Kurt Volker. O eixo é conhecido como " os três amigos". Seguindo as ordens de Trump, eles coordenaram a pressão sobre Kiev com  Rudy Giuliani.
                 No seu depoimento, Sondland confirmou a existência de "quid pro quo", expressão latina que significa dar algo em troca de uma ação determinada, ou de qualquer coisa específica. Essa barganha está no centro da investigação do impeachment. "Houve 'quid pro quo'? A resposta é afirmativa", disse Sondland.
                  Houve dúvidas sobre o intuito da instrução de Trump.  O embaixador disse  aos deputados  que conversara por telefone rapidamente  com o presidente. Trump teria dito a ele que não queria nada do presidente da Ucrânia Volodmir Zelenski. Já na Casa Branca, Trump usou esse trecho para se defender: "Eu disse ao embaixador em resposta, não quero nada. Não quero um 'quid pro quo'. Diga a Zelenski que faça a coisa certa", afirmou Trump.
                    Sondland é um empresário do ramo hoteleiro de Portland. Ele doou um milhão de dólares para a cerimônia de posse do presidente em janeiro. Em seguida, foi nomeado embaixador na UE. Depois de negar negligência em seu testemunho inicial a portas cerradas, ele fez algumas correções, entre elas o reconhecimento de que ele próprio tinha comunicado ao governo ucraniano, em setembro, que os Estados Unidos não entregariam ajuda militar até que uma investigação sobre Biden fosse anunciada.
                        Como é notório, o inquérito de impeachment foi instaurado pela bancada democrata na Câmara de Representantes em razão de um telefonema de Trump para Zelenski, no dia 25 de julho. Na conversa, cuja transcrição foi divulgada pela Casa Branca, o presidente americano pediu a abertura de uma investigação  sobre Joe Biden e  seu filho Hunter.  Assinale-se que, como é do conhecimento geral, Biden  é pré-candidato democrata à Presidência dos EUA nas próximas eleições de 2020, e está à frente de Trump nas pesquisas. Por sua vez, o filho Hunter era membro do conselho diretivo da Burisma, empresa ucraniana do setor de gás.  É óbvio que o anúncio de uma investigação sobre corrupção que envolvesse o rival, beneficiaria a campanha pró-reeleição de Trump. 
                           Mais tarde, os democratas descobriram  que, em princípios de julho, antes do telefonema para o presidente Zelenski, Trump tinha mandado suspender o envio de US$ 391 milhões em ajuda militar para a Ucrânia combater os rebeldes pró-Russia. Há uma guerra civil, estipendiada por Moscou, na Ucrânia oriental, em que o exército ucraniano luta contra esses "rebeldes" pró-Rússia. Nesses termos, reter essa considerável soma do financiamento americano dessa luta que Kiev se vê forçada a empreender contra essa facção "rebelde" estipendiada pelas ambições anexionistas de gospodin Vladimir Putin - essa decisão do presidente Trump de suspender tal  ajuda de US$ 391 milhões é uma forma brutal de pressionar o presidente ucraniano a investigar Biden, e por conseguinte torna a política americana de proteger os seus aliados contra a Rússia dependente dos caprichos pessoais de Trump, no seu propósito de forçar uma investigação de Joe Biden, e pôr, por conseguinte, a diplomacia americana  a serviço dos caprichos e do interesse pessoal de Donald Trump, enquanto candidato a reeleição.
                        Ontem, 20 de novembro, em depoimento aos deputados, Laura Cooper, vice-secretária da Defesa, revelou por primeira vez, que os ucranianos sabiam que a ajuda militar estava suspensa no dia 25 de julho - data do telefonema de Trump a Zelenski. Essa revelação derruba a tese  dos republicanos de que não haveria pressão, eis que a Ucrânia não sabia que a ajuda tinha sido suspensa.
                          Os testemunhos até agora indicam que Zelenski também vinha solicitando uma reunião com Trump, e o encontro estava sendo usado como outra moeda de troca. No dia nove de setembro, o deputado democrata Adam Schiff recebeu uma denúncia formal protocolada por um delator anônimo que denuncia a pressão do Presidente sobre a Ucrânia. Dois dias depois, a ajuda financeira de US$ 391 milhões foi finalmente liberada. Caracteriza-se, por conseguinte, nesse episódio, a retenção, por motivos exclusivamente pessoais, pelo Presidente Trump de assistência financeira destinada a fornecer meios para um país aliado para enfrentar uma invasão do próprio território, realizada a mando do Presidente Putin, em um processo tentativo de gradual vassalagem da Ucrânia pelo Kremlin.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )       

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