segunda-feira, 4 de março de 2019

Lembranças de Bouteflika


                                
          
                Na virada do século, saí de Argel e, nesse contexto, bem me recordo da longa audiência que me concedera o presidente Abedelaziz Bouteflika, que então iniciava o seu regresso ao poder na Argélia.
                   Apesar de um contato esparso - chefes de estado não são figuras fáceis - depois de um couscous na residência de um amigo comum,  Bouteflika - que, após  uma longa eclipse, voltava à cima do poder - haverá simpatizado comigo. Não terá atrapalhado o relacionamento as circunstâncias  que já estivesse faz tempo na antiga colônia francesa e que nos encontrássemos na mesma faixa etária.
                     Bouteflika despontara ainda na mocidade como um dos maiores valores na nova geração de líderes argelinos. Pela própria popularidade, incomodava a velha geração, e daí muitos dos problemas que teve para galgar o poder.
                     Pessoalmente, era de trato afável, mas hoje, pelas notícias, com os protestos estudantis, a reação dos jovens a mais outros anos dele na presidência, o levou a prometer que se eleito, renunciará a meio do mandato.

                      Ele está há vinte anos no poder. Ontem, prometera aos argelinos, em carta lida na rede nacional de tv, que, se reeleito não terminará  seu novo mandato  e convocará eleições antecipadas, para então se aposentar.
                       Segundo circula, ele estaria hospitalizado na Suiça, em Genebra, onde passa por "exames médicos periódicos". 
                       Não há previsão de regresso imediato ao país. Há outros líderes, como o general Ali Ghediri, já na reserva, que apresentou a candidatura na manhã de ontem.
                        Por sua vez, o fantasma da guerra civil, que Bouteflika encerrara em 2002, costuma ser levantado de forma ritual, por vezes,  como empregado  recentemente pelo primeiro ministro Ahmed Uyahia, à guisa de alerta aos manifestantes quanto aos riscos da radicalização dos protestos. 

                        Nesse aspecto,  o temor permanece sobretudo no que tange ao comportamento das forças de segurança, diante de um eventual crescimento das manifestações.  Com elas, na Argélia, costuma estar a chave do poder.


( Fontes: O Globo e Folha de S. Paulo)
                           

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