sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Resolução da ONU contra Maduro


                      

         A despeito da resistência do governo da Venezuela e de sua representação nas Nações Unidas, o Conselho de Direitos Humanos reconheceu, por primeira vez, que a Venezuela vive "uma crise humanitária". A votação foi marcada por apelo de Brasil, México e a Europa, contra qualquer iniciativa dos Estados Unidos de recorrer à intervenção militar para resolver a crise.
            Como se sabe tanto a OEA, quanto a Administração Trump vêm levantando a possibilidade da intervenção contra o ditador Nicolás Maduro. Além das conversações militares de iniciativa contra o regime de Maduro, que vazaram nesse mês, houve mesmo contatos com militares venezuelanos que se opõem ao governo e sobretudo à situação de crise econômica e humanitária que tem forçado um êxodo em massa de boa parcela da população venezuelana. Como referi em blog anterior, o povo da Venezuela, dada a penúria, a astronômica hiperinflação, a falta geral de medicamentos e mesmo de gêneros, vem votando com os pés, ao buscar em países vizinhos e não tão-vizinhos o minimo existencial que não mais encontram na sua pátria.
            Por enquanto, a maioria dos países latino-americanos se opõe à intervenção militar na Venezuela, embora não haja unidade consensual no Grupo de Lima.  O Itamaraty, conforme à tradicional posição contrária do Brasil ao emprego da força,  de que participam muitas - mas não todas as nações do Continente - se tem negado por ora associar-se, ainda que retoricamente, a formas mais contundentes de ação contra o regime de Maduro. Nesse ponto, a OEA mantém posição mais incisiva no capítulo, como o demonstrou recentemente o Secretário Geral Almagro.
              O texto ora aprovado pelo Conselho de Direitos Humanos reconhece, por primeira vez, que a Venezuela vive "uma crise humanitária". Na pressão diplomática contra o regime de Nicolás Maduro - com o seu desrespeito à democracia e aos direitos humanos elementares - a aprovação de Resolução pelo Conselho de Direitos Humanos não é gesto vazio e óbvio, pois abre as cancelas para atitudes mais incisivas no plano internacional.  O corrupto governo de Maduro reconheceu a seriedade da ameaça, e por isso Caracas envidou pressões para convencer vários países a não apoiar o documento.
                 O temor de Caracas é de que a crise seja declarada "desastre humanitário", e justifique a intervenção militar.  O regime chavista - que desde a "eleição" da "Constituinte dos Bairros" descambara irremediávelmente para a ditadura e a espúria convocação - com amplo recurso à fraude eleitoral para a "eleição" da dita "Constituinte" - o que é fato comprovado pela própria firma estrangeira encarregada da instrumentália para arregimentar esse estranho corpo de eleitores.  Não é de resto por acaso que no próprio Brasil houve partido que entoou loas ao "método" e à própria ideia desse aleijume constitucional, ignorando adrede que a tal convocação desse organismo espúrio, que é presidido pela notória "incondicional" Delcy Rodriguez, serviu na prática a dissolver a Assembleia Legislativa, eleita por todos os venezuelanos, e onde a oposição era maioria - o que foi a razão precípua da formação da falsa Constituinte e a clausura na prática da legítima câmara legislativa.
                    A tropa de choque de Maduro - como o Ministro do Exterior, Jorge Arreaza - chegou mesmo a criticar o uso dos direitos humanos como arma (sic) para justificar eventual intervenção. Chegou mesmo a dizer que a assistência humanitária é cínica, como se fizesse parte da hipocrisia de uma "guerra econômica".
                     Dentro da facúndia desses servos de Maduro, o seu cinismo retórico os leva à audácia de responsabilizar as sanções americanas e europeias pela crise humanitária. Perdem, dessarte,  qualquer razão nessa discussão, quando ignoram o mínimo respeito que devem à calamidade trazida pelo sucessor de Chávez à terra de Bolívar. Ao voltarem para casa deveriam, portanto, evitar sobremaneira olhar-se no espelho maldito da miséria que Maduro trouxe para a Venezuela.

  ( Fonte:  O Estado de S. Paulo )    

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