segunda-feira, 3 de setembro de 2018

O Museu Nacional que a incúria destruíu


          

       O palácio da Quinta da Boa Vista, que abrigava o Museu Nacional, foi destruído por incêndio, causado por secular negligência. O sinistro leva junto um grande acervo, que o abandono e a incúria contribuíram para despojar-nos.
       Especializado, e o mais antigo centro de ciência do país, o Museu Nacional completara duzentos anos em junho último, em situação marcada pelo  menosprezo que deriva, sobretudo, da funda ignorância dos que nos governam, com a sua incapacidade de valorizar tanto a memória nacional, quanto o próprio acervo  cultural.           
        Infeliz é o país que negligencia o trabalho de seus maiores, e, por conseguinte, a História nacional.
         Recordo-me de aí estar, quando de minha visita a essa joia que acabamos de perder. No passado, residência de nossa família real, e em madrugada a ser esquecida, um tenente fora mandado acordar o imperador d. Pedro II, para colocá-lo e a sua família na rota do exílio. O arbítrio em geral tem pressa.
         Não era decerto ao exército de Caxias que pertencia o tenente. Depois de mais de cinquenta anos de reinado, tal seria a gratidão da mãe-pátria com o imperador filósofo. Não foi tampouco por acaso que lamentara o triste ensejo estadista argentino que lembrou, com o floreio da ironia, perder então a América Latina a sua única república...  
          Não vamos pôr na lata do lixo a História nacional, que aí vai com H maiúsculo, como se deve, em respeito aos nossos maiores.
          Dinheiro para a manutenção de museus e da memória pátria não são reais postos fora.
           Chega de menosprezo por um passado decerto muito superior à indigência do presente.  
            Basta da negligência que é fruto da ignorância de o que fomos. Tratemos de ser dignos do passado, e, por isso, de ser responsáveis pelo que nos legaram os nossos maiores.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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