sexta-feira, 7 de setembro de 2018

O próximo membro da Corte Suprema ?


                      

           Trump pode ser um dos presidentes mais desmoralizados em seu primeiro mandato, como o atesta o artigo anônimo do New York Times, supostamente da autoria de um membro da equipe presidencial.
            Esse editorial que seria da responsabilidade de um adversário secreto de Donald Trump dentro da própria Casa Branca fez com que o "dono da casa"  prometesse uma busca implacável para descobrir quem é, na verdade, esse misterioso  pinpinela escarlate que ousa afrontá-lo no centro mesmo do poder  do 45º presidente...
             A jogada do Times teria um quê de pueril, pois um presidente que se desse a si mesmo valor e respeitabilidade não cairia nesta armadilha.
              Procurar freneticamente por esse suposto "traidor" parece quase brincadeira de criança.
              As carantonhas rituais, as ameaças - inclusive para alguém que revisita a Casa Branca depois de o que levantou de outro desmoralizado antecessor seu, como Richard Nixon - não devem causar muito medo.
               Há, no entanto, uma questão em que este presidente, com todos os seus colossais defeitos, parece prestes a conseguir, que é a de lograr transformar a Suprema Corte em baluarte de o que de retrógrado possa existir na sociedade estadunidense.
                Como já assinalei em outro blog,  a falha começou com a timidez de Barack Obama que não soube criar condições para colocar Merrick Garland no Supremo, não obstante as suas excelsas qualidades como jurista e a despeito de dispor da vaga oriunda da morte de Antonin Scalia.
                 Obama rendeu-se à audácia do líder da maioria republicana no Senado,  Mitch McConnell, que  obteve  mais pelo próprio chutzpah de que por argumentos jurídicos sólidos - faltava-lhe qualquer suporte constitucional - que a vaga no Supremo só viesse a  ser preenchida pelo próximo presidente.  Obama temeu levar avante um ataque para valer contra a dúbia constitucionalidade de impedir na prática que o 44º presidente pudesse colocar no Supremo um jurista com plenos títulos para lá ocupar o lugar a que não só ele, mas a própria Nação americana reclamava. E o republicano McConnell faria valer na marra que a cadeira deixada vaga pela morte súbita de Scalia ficasse esperando por um ano que Trump viesse nomear mais um republicano.
                   A timidez de Barack Obama viria a permitir que esse presidente, por infelicidade seu sucessor, e  um dos mais desmoralizados ainda em primeiro mandato, consiga colocar na Corte Suprema dois conservadores - Neil Gorsuch e, agora, Brett Kavanaugh - o que há de alterar-lhe o perfil, tornando-a fundamente contrária ao sentir da sociedade americana, com todas as suas desastrosas, mas previsíveis consequências  para os progressos jurídicos entrementes alcançados, eis que o inepto Trump, com todas as suas falhas, dispõe agora da tenebrosa oportunidade de legar  para futuro bastante alentado uma Suprema Corte que promete considerável retrocesso no que tange às conquistas alcançadas pela sociedade civil americana.

( Fontes: The New York Times, O Estado de S. Paulo )

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