segunda-feira, 23 de março de 2015

Ted Cruz quer ser presidente


 

        O Senador republicano pelo Texas tem grandes ambições, mas vistas muito estreitas, como disse Jean-Jacques Rousseau do Abbé de Saint-Pierre[1].  Mas pelo menos seja dito que a censura de Rousseau fustigava o Abbé pela generosidade e pouca adequação às realidades da política internacional.

        Não é o caso de falar de generosidade desse primeiro candidato do GOP à presidência. Havido por muitos como um demagogo da extrema-direita (a sua origem é a facção do Tea Party), já foram vistas nesse hispano-americano muitas e inquietantes semelhanças com o maior demagogo da direita de todos os tempos, o Senador Joseph McCarthy.

       Ele é o primeiro candidato de maior peso político a entrar na liça para 2016 no Partido Republicano.

       A famosa nomination, que para os muitos será apenas miragem no deserto, na sua ambição decerto não duvida  de  que subirá ao pódio para ‘aceitar’ a chamada indicação para representar o Grand Old Party na eleição presidencial.

       Que ele chegue até lá semelha pouco provável, porque todo grande partido político procura evitar extremistas, e não por motivos pessoais.  Por isso, têm medo de programas demasiado radicais, menos por questões de princípio, que por razões de bom senso.

        Não o subestimemos contudo. Em pouco tempo, se tornou um expoente da direita ultraconservadora, e o espicaçam ambição sem limites e uma autoconfiança que lhe semelha ir muito além das barreiras da sociedade a noveis personagens na cena política. Bom orador, logrou afirmar-se no Senado americano, rompendo com as barreiras que em geral limitam a atuação dos jovens senadores. Como a personalidade a quem foi comparado – e da qual intenta dissociar-se – a ousadia é o seu cartão de visitas, e a quase insolência na própria afirmação se lhe reflete tanto na postura, quanto nos lances que confundem aqueles que se apegam às tradições e regras estabelecidas.

         Após escolher a dedo o local do lançamento de seu repto à presidência – a  Liberty University em Lynchburg, na Virgínia – o jovem público conservador  saudou entusiasta o quadro esboçado de otimismo sem fronteiras: “Imaginem os jovens saindo da faculdade com quatro, cinco, seis ofertas de emprego. Imaginem ao invés de estagnação econômica, um boom de crescimento econômico.” E tem mais: “imaginem a inovação espoucando na internet,  os Estados Unidos finalmente se tornando auto-suficientes em energia”. E por fim, “Imaginem um governo federal que proteja os direitos à privacidade de cada americano.”

         São imagens decerto idílicas, mas é importante também olhar como Ted Cruz pretende trazer a mítica terra da Cuccagna (onde todos os desejos são concedidos) aos Estados Unidos. O hispano-americano Cruz  tenciona selar as fronteiras – a América para os americanos.

         Ele pretende igualmente abolir o Serviço da Renda Interna, vale dizer a Receita Federal de Tio Sam.  

         Sendo do Tea Party, é óbvio que tem ódio da grande reforma da saúde américana, a Lei do Congresso que instituiu o ACA, o atendimento médico custeável para todos, e que já está funcionando, e bem, obrigado.  Sem embargo, os republicanos e o senhor Cruz é um deles tem ódio irracional contra o Obamacare, que o termo pejorativo por eles inventado para expressar o seu repúdio contra essa disposição que estendeu a assistência médica a milhões de americanos, que antes dela não dispunham. É difícil determinar as razões dessa negação limitada do GOP, contra essa reforma sanitária. Será porque ela foi inspirada pela reforma sanitária do estado de Massachusetts, implantada pelo governo estadual republicano de Mitt Romney?

          Como não poderia deixar de ser, Ted Cruz não acredita no papel do homem como fator para o agravamento do aquecimento global. Está fechado com os opositores do aborto nos Estados Unidos, um direito lá arrancado pelas mulheres, com base no respeito à sua privacidade, na célebra sentença Roe v. Wade, da Corte Suprema de 1973  (que hoje está sendo podada pelas bordas pela maioria conservadora dos senhores juízes dessa corte[2]).

          Por seu lado, a principal candidata democrata, Hillary Clinton, vai avançando no terreno minado que lhe saúda  sua renovada aspiração. A grande imprensa já inventou uma questão para atrapalhar-lhe a progressão como primeira colocada na corrida para a Casa Branca (do lado democrata).  O New York Times, que a seu tempo saudara a candidatura do marido com  investigação que denominada Whitewater custaria muitos dólares ao Erário Público, e uma ida ao  grande júri da esposa Hillary, não é que inventou outra, com o caso dos e-mails particulares de Hillary Clinton, enquanto foi Secretária de Estado?

          É uma das contradições americanas. O New York Times, o maior jornal do mundo, e que defende posições liberais estadunidenses, vez por outra realiza investigações contra políticos democratas, que patrocinam causas também liberais (a esquerda é um nome feio na América, de que todos os políticos com futuro se dissociam nervosamente).

         Isto posto, será que Hillary Clinton afinal chegará a empolgar a nomination do partido democrata? Seria demasiado que desejasse igualmente enfrentar esse jovem dinossauro da política texana, de nome Ted Cruz?

 

( Fonte:  The New York Times ).




[1] ‘Des grandes idées, mais des petites vues’ (literalmente, grandes idéias e pequenas vistas)
[2] A maioria atual na Corte Suprema favorece os conservadores contra os progressistas por cinco a quatro.

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