domingo, 22 de março de 2015

Colcha de Retalhos C 10

                       
A comemoração de Putin

 
        O Presidente Vladimir V. Putin prepara a comemoração dos Setenta Anos da vitória da União Soviética na Segunda Guerra Mundial. Dentre os convidados, não comparecerão nem os Estados Unidos, nem a Alemanha, nem o Reino Unido. Com efeito, Putin, através dos seus mais chegados auxiliares, sofre as sanções de Barack Obama. Submetido igualmente a medidas punitivas da União Europeia, tampouco comparecerão a Chanceler Angela Merkel, da R.F.A., e o Primeiro Ministro inglês David Cameron.

        Dentre os convidados, encontra-se um pária internacional, o líder máximo da Coréia do Norte, Kim Jong-un.

        Castigado pela sua guerra não-declarada contra a Ucrânia - anexou em abril passado a península da Crimeia à Federação Russa, e tem apoiado por intermédio de ‘voluntários russos’ (cerca de doze mil, segundo a Otan) a rebelião dos chamados separatistas da Ucrânia oriental, com dois acordos de cessar-fogo desrespeitado, no melhor estilo hitlerista - a Rússia de Putin foi afastada do G-8, e tem sido penalizada por sanções pontuais de Washington e de Bruxelas (União Europeia).

         Transformado em personagem malquisto por seu desrespeito da soberania ucraniana, Putin ainda colheu a censura internacional pela derrubada através de míssil russo possivelmente manejado pelos rebeldes pró-Rússia do voo AH 17 da Malaysian Airlines, com a morte de 298 passageiros e tripulação.

         Há pouco Boris Nemtsov[1], opositor de relevo de gospodin Putin, caíu nas vizinhanças do Kremlin, sob balas de contract-killers,[2] o mesmo sistema pelo qual foi morta a jornalista também sua opositora, Anna Politovskaya, abatida esta no saguão do prédio residencial onde vivia.

         Nemtsov se opunha à guerra não-declarada contra a Ucrânia, e estava organizando manifestação, prevista para o final da semana em que foi liquidado,  de repúdio a esse conflito, e em apoio ao governo de Kiev e seu povo.

         Pelo que consta, as relações da Rússia com o regime da Coreia do Norte florescem sob o aspecto comercial.  Presume-se que Vladimir Putin deseje estreitar tais laços com o supremo-líder da Piongyang, cujo regime que muito se assemelha ao de Joseph Djugachvilj, aliás camarada Stalin, na antiga URSS.

         Dada a atual situação do Presidente Vladimir Putin  em relação a comunidade ocidental, quiçá esse convite ao ditador norte-coreano seja um gesto irônico do Senhor do Kremlin, dada a existência de alguma similitude em termos de trânsito internacional entre os dois líderes.

 
A gastança do Congresso

 

              A falta de sintonia do Congresso com a opinião pública, o corporativismo elevado às alturas, e sobretudo o cinismo do aumento no fundo partidário para o corrente ano, são sinalizações importantes para indicar o porquê do pouco apreço que tem o Povo brasileiro por Câmara e Senado.

               Suas Excelências deveriam ter tais números mais presentes para nortearem a respectiva ação. O que se vê, no entanto, é estranho corporativismo, que trata o Povo Soberano como algo que apenas se considere e se busque cativar na cercania das eleições. Entrementes, através da detestada propaganda eleitoral obrigatória, abrem a porta para as inserções publicitárias de partidos desconhecidos, tornados possíveis pela ridícula sentença do Supremo que abriu as comportas para todas as representações partidárias. Tais anúncios são feitos, com grande desfaçatez, no horário nobre (hora do jornal Nacional), e somos obrigados a ouvir sandices e  falsos programas de desconhecidos. Antes tais programas eram feitos apenas em anos eleitorais. Agora, as comportas estão abertas para ouvirmos os lugares comuns e os vãos compromissos desta sopa de letras que é a atual representação partidária no Brasil.

                  Perde-se, assim, mais uma oportunidade de regular e de conter essa pletora de intromissões de partidos sem representatividade.  E, malgrado os votos anteriores de ordenar esse sistema disfuncional, o que se vê é outra mostra de total alheamento da realidade nacional.

                   O Congresso de Renan Calheiros e de Eduardo Cunha, ambos com contas a prestar para com o Ministério Público Federal, no âmbito da operação Lava-Jato, resolveu triplicar a proposta do Executivo  para o fundo partidário em 2015.

                  Assim, foi à sanção presidencial o absurdo montante de R$ 867,5 milhões (ao invés dos R$ 289,5 milhões propostos). Em instante de contenção de despesas e de esforços do Ministro Joaquim Levy e equipe para pôr ordem no panorama fiscal deixado pelos quatros anos anteriores de dílmicas loucuras, esses senhores, como frisa editorial da Folha, fazem o contrário. Não parecem decerto interessados em melhorar o sistema político brasileiro. Tanta alienação e falta de sentido público explica  por que o Datafolha anotou, na última pesquisa, que 50% dos brasileiros consideram ruim ou péssimo o desempenho dos legisladores, enquanto 9% aprovam o seu trabalho.

 
Por que Luciano Coutinho é inamovível no BNDES ?  

 

                      Ao contrário de outros postos importantes no panorama fiscal, a presidente Dilma Rousseff blindou o atual presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

                     E, no entanto, há dados inquietantes sobre a utilização desse banco, no último quadriênio, que geram muitas interrogações não respondidas até hoje.

                     Tem-se a impressão de que o BNDES virou chasse gardée[3]  para a Presidenta. Ao contrário dos demais postos nessa área fiscal, Dilma fez saber que desejava reter Luciano Coutinho à frente do banco, que no seu anterior mandato – aquele, em que, pelas suas insânias fiscais, criara as condições do caos econômico-financeiro que a equipe de Joaquim Levy e Nelson Barbosa se empenha em desfazer.

                     Porque será que Luciano Coutinho tem tanta importância assim? Na sua gestão, decerto por ordens superiores, o BNDES expandiu deveras o próprio campo de ação, e há operações que carecem de exame, por serem feita de forma sigilosa e, por conseguinte, longe do crivo das autoridades competentes.

                     O porto de Mariel, em Cuba, constitui disso egrégio exemplo. Ao ver a fila de magnos dirigentes que acorreram à sua inauguração – a que compareceu a principal responsável pelos fundos a ela destinados, v.g., a própria Dilma Rousseff  - perguntei-me por qual razão tantos abelhões da área chavista, a saber Nicolás Maduro, Rafael Correa, e outros tantos, engrossavam a fila.

                     Tanta munificência para tornar realidade em uma distante ilha do Caribe um grande porto com equipamentos de dar inveja – e que por estas bandas não se vêem, com os problemas decorrentes para as nossas exportações – deixa mais de uma pulga atrás da orelha quanto ao hiper-sigilo do financiamento brasileiro – de que o BNDES é o encarregado.

                     A secretividade da operação desperta muita espécie, porque pela Constituição não é admissível colocar sob segredo empréstimos com dinheiro público. O BNDES também adota a mesma prática para financiar obras de cleptocratas africanos. Tudo isso careceria de exame mais acurado, porque tais regras foram feitas para preservar o interesse nacional.

 

( Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo )                         



[1] Ex-Primeiro Ministro de Boris Ieltsin
[2]Matadores sob contrato.
[3] Espaço privativo de caça.

Nenhum comentário: