domingo, 29 de março de 2015

Colcha de Retalhos C 11

                                 

E os empréstimos secretos do BNDES como ficam?

 
       Este blog teve acesso por cortesia de amigo à análise jurídica sobre problema que o governo Dilma Rousseff tem logrado manter longe da atenção da imprensa, i.e., a sua crescente utilização do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), sob a direção do Sr. Luciano Coutinho para concessões de vultosos empréstimos a governos chavistas na América do Sul, a Cuba, e a governos africanos, a despeito da cleptocracia imperante em muitos Estados da África.

      Em estudo de autoria de Marco Aurélio Barcelos Valente está documentada a crescente utilização do BNDES pela administração petista. Segundo assinala o autor: “Ao analisar a Constituição Federal (...) percebi que o dinheiro do Tesouro Nacional injetado pela Presidente Dilma Rousseff no BNDES foi a maneira que se encontrou para dar a volta no artigo 47 da Constituição Federal para financiar obras no estrangeiro”.

      Segundo observa o articulista, insultam o Povo brasileiro os investimentos em outros Estados no que concerne os princípios fundamentais da Constituição de desenvolvimento do Brasil, dignidade do cidadão brasileiro, erradicação da pobreza, marginalidade e desigualdades sociais e regionais.

      De todos os funcionários da área de competência do Ministro Joaquim Levy, apenas o Diretor-presidente do BNDES, Luciano Coutinho, foi mantido no cargo.  Mas não ficou nisso a Presidente Dilma Rousseff. Recentemente, resolveu nomear Luciano Coutinho presidente do Conselho de Administração da Petrobrás,  que acumulará com a presidência do BNDES.  

       Dado o caráter delicado dessas novas funções – que Dilma Rousseff bem conhece pela circunstância de haver sido longo tempo presidente desse Conselho de Administração da Petrobrás – desperta espécie que as competências de Luciano Coutinho sejam alargadas ao invés de revistas, dado o manifesto caráter inconstitucional de muitos desses empréstimos, como é amplamente discutido na análise do Dr. Marco Aurélio Barcelos Valente.

 

Dois Anos de Papa Francisco[1]

 

       Ao contrário de seus antecessores, Papa Francisco concede entrevistas. A rationale para não falar à imprensa estava no caráter específico do múnus pontifício e a necessidade de preservar o Santo Padre de um contato mais imediato com os jornalistas, o que pode dar ensejo a comentários errôneos e visões distorcidas.

        O futuro dirá se a iniciativa do atual Papa foi aquela correta, o que dentro da imagem joanina abriria mais uma janela no pensamento do Sumo Pontífice.

        Agora, Papa Francisco afirmou que tem a sensação de que seu papado será breve, de quatro ou cinco anos.  “Eu sinto que o Senhor me colocou aqui por um curto período de tempo, e nada mais. Pelo menos dois já passaram.”

         Para especialistas consultados, as declarações são mais uma demonstração de marcas de Francisco, como a simplicidade e a disposição para romper com alguns padrões estabelecidos anteriormente na Igreja. Para todos os efeitos o papado corresponde a uma monarquia, sendo por conseguinte o múnus pontifício atendido até a morte. Bento XVI não inovou na sua abdicação – mas foi o primeiro Papa em seiscentos anos que abdicou ao trono pontifício. Nesse sentido, Francisco já teria sugerido que o seu papado seria curto, não descartando a hipótese de aposentar-se.

          Até o presente, nenhum Papa se retirou por excesso de idade, embora em certos casos tal fosse cabível, como com Leão XIII, que no final de seu pontificado dava sinais de senilidade.

           Talvez ao falar de pontificado breve, Papa Francisco tenha presente o exemplo do Papa Buono, João XXIII, que teve uma morte dita pontifical no seu leito, vítima de câncer no estômago. Nos anos sessenta do século passado, o avanço da ciência médica não era comparável ao de hoje. Sem embargo, apesar da brevidade de seu pontificado, poucos Sucessores de Pedro marcaram tanto  sua presença no trono apostólico.

            Convocou o Concílio Ecumênico, de que deu a orientação geral na oração para os padres conciliares, na abertura da Primeira Sessão. Em uma série de Encíclicas, dentre as quais a  Mater et Magistra, e a Pacem in Terris, transmitiu os princípios do ecumenismo e da abertura aos irmãos separados. Além disso, através de sua frase quanto à necessida de abrir as janelas dos Palácios pontifícios sublinhou a necessidade eclesial de renovar-se dentro da fé.

            Em menos de cinco anos, Papa Roncalli mostrou que se deveria dar outro sentido ao cognome de Papa de transição, que se lhe outorgou de início, por causa de sua avançada idade. Sem que os seus eleitores se dessem conta, ele se deu por tarefa colocar a Igreja no século, de que deu prontas mostras logo depois de assumir. Visitou o cárcere romano de Regina Coeli e pôs por terra as barreiras existentes entre os irmãos separados, assim como na abertura ao ecumenismo.

            Havido como tradicionalista, o Cardeal-Arcebispo de Veneza – região próxima ao querido Sotto-il-Monte, quando o visitante peregrino à casa natal de Angelo Giuseppe Roncalli se dá conta da dignidade da camponesa pobreza dos pais do futuro Pontífice.

            A santidade plena do Papa do Concílio iria tardar, menos pelas qualidades de seu Pontificado, do que pelo seu caráter inovador e revolucionário. Sucedido pelo hamletiano Paulo VI, que daria ao Secretario de Papa Giovanni, Loris F. Capovilla,  a alegria de receber o nome de bispo-titular  de Mesembria, mas pouco mais do que isso, negando-se sempre a elevar o Papa Buono aos altares.

            O domínio conservador na Igreja – que o grande teólogo jesuíta Karl Rahner chamaria de inverno na Igreja (depois da primavera do Concílio) criaria as condições para que Papa João XXIII só fosse beatificado pelo sucessor conservador Papa Wojtyla. Caberia a Papa Francisco canonizar Papa João XXIII, o que seria feito em conjunto com a santificação de João Paulo II, o papa polonês de linha conservadora.

                 Ao ser eleito, Papa Francisco já inovara, pedindo aos fiéis congregados na Praça de S. Pedro, que rezassem por ele.  Quero crer que Papa Francisco se sente próximo de Papa Giovanni – que surpreenderia o mundo, como o atual, pela liberalidade de seus gestos - e é neste sentido que fala de um pontificado breve. Alguém pode passar muitos, demasiados anos no Sólio pontifício, e não deixar marca alguma.Tal, decerto, não foi o testemunho dado por um Papa que se limitou a dar durante a sua curta permanência na Sé de Pedro o exemplo que já prestara durante toda a sua peregrinação nesta Terra.

                  Talvez seja o que queira dizer o primeiro Papa jesuíta aos fiéis e seguidores. A duração do Pontificado, ainda que curta, não será limitação à transmissão da respectiva mensagem.

                   Por muitos anos, a orientação conservadora do Papado, que chegava até à freiras que se ocupavam da cripta da Igreja de São Pedro, aonde estão os túmulos de inúmeros Papas, tinham uma única resposta quanto às manifestações dos fiéis no que tange a então negada santidade de Papa Giovanni. Sem curar-se dos eventuais católicos que ali se encontrassem a render-lhe homenagem, muita vez através de orações, essas freiras, com a desenvoltura que lhes é consueta, cuidavam de retirar as flores que, copiosas, mais diziam sobre o que pensava o laicado.  Ter-se-ão algum dia dado conta que ao retirar-lhe  da tumba as flores trazidas pelos fiéis que o homenageavam, essas silentes agentes da face temporal da Igreja como poderiam atinar que se cingiam a arar o oceano com a sua pontual mesquinhez ? Malgrado as barreiras temporárias, dispor sobre a aura de santidade não lhes pertencia em verdade. Enquanto isso, um outro pontífice só podia ambicionar a púrpura rosa que lhe colocava  na solitária campa alguma irmã que ali diuturnamente a deixava por incumbência de autoridade do seu tempo.

 

( Fontes:  Folha de S. Paulo; O Globo; estudo de Marco Aurélio Valente )



[1] Por fatos de todo alheios à minha vontade, não foi possível noticiar a seu devido tempo o aniversário pontifical de Papa Francisco.
 

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