quarta-feira, 11 de março de 2015

Castanhas no Fogo

                                  

A digestão da Crimeia

 

            Vladimir Putin, em veia reminiscente, se digna revelar que a anexação da península da Crimeia – que Krushev concedera em 1954 à Ucrânia, então república soviética – ele já a pensava há tempos, quando a revolução Maidan enxotara do palácio o cleptocrata Viktor Yanukovich. Afinal, na lógica do Senhor do Kremlin, o governo de Kiev deveria pagar de alguma forma por esse malfeito... 

             Passado um ano da anexação, excluído o papel pouco dignificante de alguns países[1], que se prestaram a aprovar um ato à revelia do direito internacional e dos pacta sunt servanda,  as sanções do Ocidente, e dos Estados Unidos em especial, continuam a punir o procedimento irresponsável e imperialista da Federação Russa sob o punho de gospodin Putin.

            O turismo não é bem-vindo por aquelas plagas, eis que os voos internacionais não mais incluem a península nas suas conexões. Por outro lado, o turista só pode virar-se com dinheiro vivo, eis que os cartões de crédito não têm validade naquela área. Tampouco pode usar celular. Quanto às franquias, como a McDonald´s, só ficou a casca, mas não o serviço. Dessarte, hotéis, restaurantes, bares e supermercados, como assinala um enviado da Folha, só aceitam o dito dinheiro vivo.

            O que Putin tem feito com a Ucrânia, mandando doze mil soldados para transformar os ‘separatistas e rebeldes’ da região oriental em ameaça crível, além de toda a artilharia pesada para lá transportada, serve a projeto autoritário de poder, perante o qual o regime de Kiev ainda não encontrou a resposta adequada.

            Outra vítima desse processo foi o político honesto (uma raridade e não só naquelas paragens) e experiente Boris Nemtsov, abatido nas vizinhanças do Kremlin.  Ele, entre outros projetos, se preocupava com a agressão do regime Putin contra a vizinha Ucrânia. Nesse sentido, nas vésperas do assassinato, ele se empenhava na promoção de marcha em favor da terra de Kiev, infelizmente tão próxima da Rússia.

            Foram prontamente indiciados suspeitos tchetchenos para esse assassínio por encomenda.  Apresentadas celeremente pelo FSB (o sucessor do KGB), tais designações, dados os laços da poderosa agência com o poder, mais servem para mostrar serviço do que propriamente encontrar o mandante e eventuais autores materiais do magnicídio.

 

 Hillary responde a acusações

 
              Em discurso, a pré-candidata à presidência, Hillary Clinton, respondeu às acusações da mídia – notadamente do New York Times – que questionou a sua preferência pelos e-mails pessoais e particulares, ao invés dos oficiais, ao ensejo de sua longa presença à testa do State Department.

            Como é seu feitio, que lidera as pesquisas dentre os candidatos democratas à Casa Branca, respondeu de forma direta às dúvidas lançadas pelo grande jornal nova-iorquino acerca da propriedade de não utilizar-se de e-mails  oficiais.

            Disse Hillary que o fez por motivos de praticidade. Os meios publicísticos não estão convencidos, eis que, no seu entender, os e-mails oficiais, pela natureza das questões, muitas vezes seriam mais apropriados.

             Outra questão pendente é se a então Secretária de Estado terá tratado de assuntos classificados (i.e., confidenciais ou secretos) na sua longa série de e-mails particulares.  Hillary garante que não, mas para se ter certeza  um exame abrangente semelha indispensável.

             Visto de longe, o tópico pode ser de lana caprina, mas semelha difícil prima facie afastá-lo. De qualquer forma, por motivos nem sempre fáceis de determinar, a mídia não tem uma boa relação com Hillary Clinton.  O levantamento dessa questão, que corresponde decerto à indústria de um repórter, pode ser indicação suplementar  desse relacionamento não exatamente fácil.

 

Superpoderes para Maduro

 

             O país de Nicolás Maduro sofre de aguda desorganização. Falta tudo nos supermercados venezuelanos, a inflação é a mais alta da América Latina, e o sentir da população não pode ser mais o do início do mandato, tais as comoventes provas que o sucessor de Hugo Chávez vem dando. Daí o temor oficial de uma vitória oposicionista nos comícios para a Assembléia Nacional.

              Por outro lado, as prisões de expoentes da oposição se sucedem, sempre com acusações vagas de conspiração. Depois do prefeito de Caracas, mandado ilegalmente para a cadeia onde já está o líder López,  a perspectiva de cada prócer mais ativo das forças políticas contrárias ao regime chavista na sua versão atual do caminhoneiro é ser mandado para as masmorras do poder.

               Há pouco lá esteve uma missão da Unasul que não agradou aos lideres oposicionistas como Maria Corina Machado, pela timidez no que tange ao regime. Dessa forma, a missão não achou oportuno reunir-se com opositores, a par de não denunciar as violações aos direitos humanos.

               Como sói acontecer em regimes incompetentes (e corruptos), Maduro em discurso perante a Assembleia Nacional, pediu mais um ano de superpoderes. Ao agitar o espantalho da intervenção americana – sob a imposição de sanções pela Administração Obama a sete funcionários ligados ao Governo – Maduro pediu o apoio da maioria chavista para mais uma Lei Habilitante, que lhe permitirá governar por decreto.

               Por outro lado, em ‘retaliação’ às sanções americanas, Maduro determina que o pessoal da embaixada americana seja reduzido para os mesmos dezessete funcionários que a missão venezuelano tem em Washington.  

               Eis uma medida típica do regime de Nicolás Maduro:  pro-forma e ineficaz, serve apenas para a dúbia satisfação de ter forçado a superpotência a manter o mesmo número de pessoal diplomático do que a sua própria embaixada na capital americana...

 

 
( Fontes:  Folha de S. Paulo, O Globo, The New York Times )



[1] Aí incluída infelizmente a diplomacia de D. Dilma.

Nenhum comentário: