sábado, 21 de março de 2015

À Sombra do Impeachment

                              

       Lula da Silva, o grande estadista, anda muito nervoso. Outro dia, ao visitar sua pupila rebelde, parecia ‘pilhado’, segundo afirma gente ligada ao dílmico poder.        Reclamava aos gritos de o que devia ser feito. O ex-presidente não está habituado a ser contrariado. Por isso, se irrita e se exaspera mesmo, com a teimosia da pupila, que não mais atende a seus reclamos e instruções como antigamente.

       Ela demora com a reforma ministerial, mesmo aquela pontual preconizada por Lula, que deseja substituir Pepe Vargas por alguém com mais traquejo de política.

       O encontro a sós, pelo que ouviram, terá rendido pouco, pelos altos decibéis do diálogo entre os dois magnos personagens. Nessa hora, os cortesãos se põem ao largo, porque a acrimoniosa discórdia dos patrões não lhes pressagia nada de bom.

       Dessarte, os validos se afastam.  Quando dois valores muito mais altos se desentendem, manda a prudência dos clientes manter distância ou mesmo desaparecer de cena. Nesse sentido, a comparação com o velho Oeste é a que cabe.

       O velho ‘saloon’ se esvazia – até o pianista se manda! – ou então cai o silêncio e não se move vivalma na rua principal. Cada um trata da sua, e a exemplo do Maluf não estão nem aí para o duelo anunciado.

       Mesmo que no bate-boca, o perigo não seja carnal, seria como se fora. Por-se ao largo é a norma não-escrita do membro do bando. Assim, eles evitam ser mal-lembrados  ou pagarem o pato por briga que não é a deles.

        No entanto, Dilma parece andar um tanto à deriva, pois não é que aceitou um mau conselho de Lula da Silva? Este último brandiu não faz muito com ridícula ameaça de convocar o ‘exército do Stédile’.

        É coisa que parece comportamento irresponsável  e, em verdade, é mesmo. Pois, pasmem senhores, que a Presidente da República resolveu ir, no Rio Grande do Sul, prestar homenagem ao dito exército dos sem-terra.

        A fragilização dos chamados ‘movimentos sociais’, evidenciada na fraqueza da manifestação do MST, CUT e UNE (que sob o petismo, se transformaram em ‘chapas brancas’ sociais) que antecedera aos dois milhões  de quinze de março, não dissuadiu Dilma de render homenagem a João Pedro Stédile, no assentamento Lanceiros Negros, em Eldorado do Sul (RS).

         Ao prestar-se a tal papel, a antes presidenta mais semelha nave desgovernada, que nesse transe que atravessa, atende a orientações de seu antigo chefe, Lula da Silva. Ao fazê-lo, ouviu coisas que não devera, e como sublinha a coluna de Merval Pereira, dele ouviu “ mais que conselhos, orientações de como deve governar”...

          Em um governo claudicante, com presidente que no rosto e no olhar transmite a ansiedade de comandante de barco à deriva (como se viu em outro patético encontro, com elogios do governador Marconi Perillo), será que o arroubo (como diz o usualmente prudente Merval) seria renovada tentativa  de firmar a própria liderança, e deixar de ser vista como um fantoche de Lula ?

             Pelo visto, a grande esperteza política do mago Lula, que pretendia reinar por interposta pessoa, está dando chabu. Por presunção, entregou a quem não é do ramo a difícil missão. Como reza a sabedoria popular, na hora da onça beber água, não há ninguém para defendê-la.

             Para quem preparara a bomba fiscal do primeiro mandato, mandava a prudência passar o abacaxi a Lula da Silva. Preferiu não fazê-lo e o seu triunfo nas urnas por minguados 3%, se transforma em vitória de Pirro.

             Depois do Petrolão e das mentiras da campanha, seria mais do que previsível que a sua popularidade despencasse, como de fato ocorreu.

             E agora, no banhado, está sozinha, em meio à inconformidade geral. E por mais que reze, as assombrações surgem por toda a parte, numa folgança só.

 

( Fontes: O Globo, Coluna de Merval Pereira )

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