quarta-feira, 19 de junho de 2013

Tudo vai bem, senhora Marquesa !


                        Tudo vai bem, Senhora Marquesa ! (*)
 
         Grandes eventos, não pela simples circunstância de quebrarem a rotina do cotidiano - rotina que costuma confundir-se com a ordem prevalecente – são vistos a princípio com ceticismo.
         Vejam as manchetes de dois jornalões, de ontem e de hoje: na terça, a Folha diz: ‘Contra tudo’ e por mudanças milhares vão às ruas no país’; e O Globo: ‘Um país que se mexe – O BRASIL nas ruas’;  e hoje, quarta-feira, a Folha clama: ‘Ato em SP tem ataques à prefeitura, à mídia, saques a lojas e depredação’; por sua vez, O Globo reitera: ‘O Brasil nas ruas -  Capitais já baixam tarifas de ônibus; protestos continuam’.
         Um juízo quiçá apressado dirá que a Folha de S. Paulo estampa juízos alarmistas e descrentes, enquanto O Globo aparenta uma visão mais pró-ativa do fenômeno. Os cabeçalhos, no entanto, podem enganar, eis que o jornal paulistano tende a ser encarado como mais liberal do que o carioca.  
         Os colunistas, por igual, podem, sob o acicate da hora, vir a emitir opiniões que mais tarde talvez desejem revisar. Nesse sentido, na Folha, Hélio Schwartsman : “Multidões podem ser muito sábias e estúpidas demais” e Antonio Prata “Sejamos francos: ninguém está entendendo nada”; e no Globo, Merval Pereira, “Corrupção é o Foco”, Miriam Leitão, “É preciso ouvi-los”, e Zuenir Ventura, “Lembrando 68”.  Por sua vez, Elio Gaspari, que é publicado por ambos, escreve: ‘O Monstro foi para a rua’ – JK assim chamara a opinião pública, em dezembro de 1974, quando da derrota nas urnas da ditadura.
         Ainda, o que poucos lêem, mas no momento terá alguma relevância, i.e., a página editorial: na Folha, tem a ementa: Apesar de cenas isoladas de vandalismo, protestos mobilizam a classe média insatisfeita com desempenho de vários níveis de governo; e no Globo, sob o título ‘Decifrar as mensagens da rua’ vão duas observações: “estas manifestações já são dos mais importantes fatos políticos e sociais ocorridos desde o início da redemocratização, há 28 anos”; e “ A situação, confortável no poder, e a oposição, também passiva, foram surpreendidas pela fermentação de insatisfação nas redes sociais”.
         Por fim, o que diz o Poder ? Em uma jogada que se pretende hábil, Dilma Rousseff monta sobre o corcel das manifestações. Como se não fosse um dos alvos principais dos protestos, em cerimônia no Palácio do Planalto, a presidenta afirma: “Essa mensagem direta das ruas é pelo direito de influir nas decisões de todos os governos, do Legislativo e do Judiciário. É de repúdio à corrupção e ao uso indevido do dinheiro público. Essa mensagem direta das ruas comprova o valor intrínseco da democracia, da participação dos cidadãos em busca de seus direitos.”  E acrescenta: “Minha geração sabe o quanto isso nos custou.”
          Diante da folha corrida do Governo Dilma, é declaração hábil, em que se apresenta como  espectadora de um processo.  Em outra reação igualmente típica, logo depois do dito evento (para os anais da irrelevância, foi ao ensejo de cerimônia palaciana de lançamento do marco regulatório da mineração), Dilma Rousseff, a presidente da república, voou para São Paulo, a fim de encontrar-se com o ex-presidente Lula da Silva (o líder máximo do Partido dos Trabalhadores e, porque não, do Governo) para analisar (sic) os atos populares que marcaram os últimos dias.
          Para que conste igualmente dos anais da república petista, D. Dilma está convencida de que o protesto não é contra ela, mas representa uma insatisfação popular com várias coisas.
          Quiçá seja oportuno completar o quadro com os resultados da última pesquisa do Datafolha: em matéria de prestígio das instituições, para 42% o Congresso Nacional não tem nenhum prestígio (e para mais quarenta por cento, pouco). Para o muito, ficam 12%.
          Já os Partidos Políticos – cujas bandeiras foram escorraçadas das manifestações – gozam de 44% de total rejeição (nenhum prestígio),  35%, como pouco prestígio, e 16%, com muito prestígio.
 

 
( Fontes :  Folha de S. Paulo; O  Globo )

                  

(*) refrão de antiga canção revolucionária,  Tout va bien, Madame la Marquise !        

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