sexta-feira, 14 de junho de 2013

CIDADE NUA VI -- Estórias Rodriguianas


Antunes, o Conquistador (5)



            Ao saírem do restaurante, Antunes lhe passou o braço pela cintura. Fê-lo naturalmente, e sentiu que Corina gostara do gesto, por singelo que fosse. Depois da sensaboria de antes – que quebrara o chamego no táxi – todo contato físico era desejável.

            Caminhavam devagar, enquanto bem próximos os corpos de sentiam.  À sua volta, na penumbra da calçada, as casas cerradas não tinham a indiscrição do meio-dia.

            “Que tal se a gente pegasse um ônibus ?”

            Grato, ele a apertou um pouquinho mais forte.

            E trocando beijos, foram andando para os lados da praia, por onde passava o 12.

                                                           *     

            Saltaram na parada da Francisco Sá, no posto seis. Passada a meia-noite, ele encontrou o quarteirão da Raul Pompeia com as portarias dos prédios fechadas e as casas, de luzes apagadas.

            A expectativa, no entanto, lhe apressava os passos. Quase ali defronte, pairava o pensamento na entrada do edifício na Júlio de Castilhos, que esperava encontrar deserta.

             Corina sentiu a tensão naquele jeito arisco. Mas a pronta chegada, a chave a girar nervosa na fechadura, e a subida pelos lances da escada até o terceiro andar pontuaram a travessia por aquelas paredes por trás das quais sabia lá quantas pessoas dormiam.

             Foi então que, com a porta fechada e a voz baixa, no apartamento silencioso, Antunes, como se numa carícia, lhe disse:

             “Seja bem-vinda, meu amor.”

                                                           *

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