domingo, 16 de junho de 2013

Colcha de Retalhos A 21

                                        
A Vaia

        Na abertura da Copa das Confederações, a presidente Dilma Rousseff teve a confirmação de sua presente impopularidade, ao ser por três vezes fortemente vaiada por boa parte dos 67 mil espectadores no estádio Mané Garrincha.   
       Até sobrou para o presidente da Fifa, Joseph Blatter, que em espanhol reclamou mais fair play  do público. Com isso, Blatter tão só logrou ter a sua quota de apupos, por meter-se em questão interna brasileira, que, ao ver do povão, não era de sua conta.
       Não é mistério que Dilma não seja exatamente uma aficionada do futebol – como tampouco o foi a seu tempo Fernando Henrique. O seu jeitão magisterial pode amedrontar  fâmulos e  cortesãos, mas não funciona com a multidão.
       De resto, isso de aparecer em palanque para inaugurações de certamens não é tarefa invejável, como o próprio Lula o experimentou, ao ser vaiado na abertura dos jogos pan-americanos, em 2007.
 

A Manifestação 

 
         Foi dura e violentamente reprimida manifestação estudantil pelo passe livre e de repúdio aos excessivos gastos para a Copa das Confederações e a vindoura Copa do Mundo. Diante da dinheirama dispendida com os estádios, entende-se a revolta ao cotejar-se a gastança por causa da Fifa diante do atraso nas obras para a educação, saúde, saneamento básico,etc. além do gritante déficit na infraestrutura viária no Brasil. É o fasto desses grandiosos elefantes brancos que incomoda.
         Por outro lado, preocupa e muito o procedimento que parece tornar-se padrão na repressão, pelas polícias militares, desses brasis dos protestos populares. Se o Brasil é uma democracia, suas autoridades carecem de respeitar a voz das ruas, desde que ela se expresse de modo pacífico.
         Não imitemos ditaduras, caindo na histeria da hiper-repressão, com recurso imediato à violência-  balas de borracha,  sprays de pimenta e congêneres- sem falar nos porretes e nas cargas de cavalaria.

 
As Armas de Obama  

 
         Ao final desta semana, a longa hesitação do Presidente Obama quanto à cessão de armas à Liga Rebelde na Síria terá chegado ao fim.  Diante do emprego deslavado de armas tóxicas – desrespeitando a advertência americana – a distribuição de armamento para os acossados adversários de Bashar al-Assad chega em momento crítico para a causa da revolução.
         Dispondo apenas de armamento leve, e de um arsenal precário, resultante da inventiva dos armeiros rebeldes, não é necessário ser grande especialista para que se possa prever os sucessivos êxitos das antes desmoralizadas forças governamentais. Os seus fornecedores -  Putin, Ali Khamenei e os novos aliados do Hezbollah – não tem medido despesas, nem experimentado crises de consciência para reforçar continuamente com mais armamento e homens o exército do regime alauíta.
         As apreensões de Barack Obama quanto a desvio de armas podem resultar em uma inesperada vitória do campo adverso. Antes, os próprios sustentadores encaravam com pessimismo a respectiva sorte na luta.
          Se o numero de refugiados e de deslocados pelo conflito se estende pelos países vizinhos – Turquia, Jordânia e Líbano – aumentando as possibilidades de convulsão social,  é enorme o sofrimento da população síria que ainda não emigrou. A queda da localidade de Qusair não é um evento isolado, mas assinala a reversão na tendência da guerra civil.
         Os aviões e helicópteros de Bashar pouco têm a temer das frágeis defesas da Liga Rebelde, seja em Alepo, uma cidade dividida em duas, com a destruição sistemática da área residencial ocupada por povoação que busca fugir da violência da milícia shabiha (pró-Assad),  seja em outras regiões, que estão sob nominal controle rebelde, mas que são sistematicamente bombardeadas pelos aviões governamentais.
         A guerra civil na Síria já ultrapassou a marca dos oitenta mil mortos.  Semelha evidente que a conferência de paz em Genebra, anunciada pelo Ministro Sergei Lavrov, da Federação Russa,  e bem acolhida ,a princípio, pelo novel Secretário de Estado John Kerry só terá alguma possibilidade de êxito se houver um real impasse na luta. Se o prélio das armas corre em favor de Assad, diminuirá em consequência o interesse do campo sírio (nele incluídos os aliados russo e iraniano) em preparar uma paz duradoura, que minimamente atenda às reivindicações da Liga Rebelde.
          Sinalizada afinal a disposição de Washington de armar os rebeldes, só resta verificar como se procederá a respeito, e se a mudança de postura do presidente Obama terá vindo ainda a tempo de pesar na sorte do conflito.
 

Eleição no  Irã

 
           Teve acolhida favorável a vitória do clérigo centrista Hasan Rowhabi, já no primeiro turno, com 50,7% dos votos. Saudado como o único moderado junto aos outros cinco, todos conservadores, o clérigo teve também o apoio dos líderes da oposição,  hoje marginalizados pelo regime.
           Diante da precedente vitória fraudulenta em 2009 de Mahmoud Ahmadinejad contra o movimento verde de Mir Hossein Mousavi e do clérigo Mehdi Kerroubi (hoje desaparecidos do visor político, e provavelmente em detenção domiciliar), triunfo este da feitura do Líder Supremo Ali Khamenei, não há motivo para grande otimismo quanto às possibilidades do moderado clérigo Rowhabi.  Dado o pandemônio deixado pelo governo de Ahmadinejad, com inflação alta (parcialmente decorrente das sanções do Ocidente), entende-se a expectativa favorável da população, que acolhe prazerosa as assertivas de Rowhabi de que a sua eleição é “ o triunfo da moderação e do desenvolvimento” e “da religião sobre o extremismo e o ódio”.
          Se o novo presidente lograr pôr alguma ordem na casa,isto será decerto  motivo de gáudio para os sofridos iranianos. É bom, no entanto, não esquecer que sobre o novo presidente  estão o Líder Supremo Ali Khamenei e Mohamed Ali Jafari, comandante dos Guardiães da Revolução ( Forças Armadas ). Se Ahmadinejad não é, como comprovou, nenhum grande estadista, tampouco agiu de forma solitária. E a liderança está solidamente empunhada por Khamenei, com a sustentação dos Guardiâes da Revolução.
         Não esperemos, portanto, de uma presidência tutelada, o que ela não está em condições de proporcionar.

 

( Fontes:  Rede Globo, Folha de S. Paulo,  International Herald Tribune )         

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