terça-feira, 25 de junho de 2013

Pif Paf (V)

                                                 
  Um Republicano para o FBI

 

                O  presidente Barack Obama indicou James Comey para suceder a Robert Mueller na chefia do Federal Bureau of Investigation (FBI). A posse efetiva de Comey só ocorrerá, no entanto, depois da sabatina pelo Senado. A bancada republicana, posto que minoritária na Câmara alta, tem sido obstáculo e tanto para as nomeações de Obama, em seu segundo mandato. Daí, a indicação presidencial não daria ao eventual designado a certeza do exercício do cargo.
               O próprio fato de ser republicano – como o é James Comey – não aumenta necessariamente essa possibilidade. O ex-Senador do GOP, Chuck Hagel, enfrentou verdadeira batalha (sem trocadilho) para lograr a sua confirmação pelo Senado, como Secretário da Defesa. Terão contribuído para tal resistência extrema notadamente dois fatores: (a) o clima antagônico existente no Senado, onde qualquer aparência do bipartidismo no que tange a postos importantes e questões de óbvio interesse nacional é hoje simples lembrança de passado remoto; (b) a circunstância de Hagel ser amigo de Obama e, sobretudo,  pertencer à ala moderada do Partido Republicano,  atualmente  espécie em rápido processo de extinção.
               Há várias outras indicações do atual presidente, dentre essas chefes de agências importantes – como a da defesa do consumidor (o que é anátema para o GOP, defensor de grandes empresas)– e de juízes para tribunais superiores que estão na gaveta, pelas táticas dilatórias da bancada minoritária, a principal delas sendo o emprego do filibuster.
               A situação perdura em parte pela atitude do líder da maioria democrata, Harry Reid (Nev/Dem), que,  apesar de dispor de apoio bastante para reformar o regimento do Senado – na famosa regra 22, que facilita o filibuster, dada a maioria qualificada de sessenta senadores (em cem) que é hoje indispensável para ab-rogar esse recurso da minoria – não se tem valido dessa oportunidade.
               Pensado para casos limites, onde haja real ameaça para a democracia, o filibuster é utilizado pelo GOP para inviabilizar a entrada em funções dos indicados pelo presidente para cargos federais (ou os juízes superiores, temidos por serem mais liberais do que os preferidos pelos republicanos).
               A falta de empenho de Obama – que permitiu fosse sepultada reforma bastante moderada no controle prévio de antecedentes criminais para adquirentes de armas, malgrado a opinião pública traumatizada pela tragédia de Newtown, no estado de Connecticut,  apoiar com esmagadora maioria esta medida – encontra um paralelo no Senador Reid, que, pressionado pelo líder da minoria, Senador Mitch McConnell (Ky/Rep) até agora não se decidiu a agir como maioria, e fazer votar a reforma do anacrônico regimento instrumentalizado pela bancada do GOP.
               Se é difícil de entender tanta mansuetude, em face da paralisia na agenda da Administração Obama, a indecisão do Senador Harry Reid evoca saudades de líderes democratas do século XX, como o Senador Lyndon Johnson, que cuidava de aprovar as leis e de confirmar as indicações que fossem do interesse da maioria.

 

  Os problemas de Erdogan                                            

 
                Há dez anos no poder, o Primeiro Ministro Recep T. Erdogan navegara até há pouco em mar de almirante, dado o  sucesso em estabelecer sólida maioria de seu partido, o AKP (partido da Justiça e Desenvolvimento). Malgrado o viés islamizante, Erdogan soubera até o presente conciliar grande parte da sociedade civil, consolidar o próprio poder, controlar o exército, antes fiscal do laicismo implantado pelo fundador da Turquia moderna, Mustafal Kemal Ataturk, e, por conseguinte, gozar de popularidade que lhe permitiu  não só aumentar a respectiva bancada, senão  ainda fruir do renome de estadista.
                Tudo lhe ía tão bem que passou a considerar seriamente a possibilidade de trocar o cargo de Primeiro Ministro pelo de Presidente – mas não mais com poderes cerimoniais,  a exemplo dos exercidos pelo atual correligionário, Abdullah Gül, mas dentro do modelo presidencialista.
                Se na superfície tudo parecia ir a contento do líder turco, havia a insatisfação larvar com os métodos mais severos, com processos incriminando ampla faixa de opositores, o ressurgimento da política islamizante (banida pelo laicismo do pai da pátria, Mustafá Kemal) e legislações estranhas, como a dos parâmetros da turquicidade (modalidade de censura, com traços fascistóides,  que chegou até a ameaçar o Prêmio Nobel de Literatura de 2006, Orhan Pamuk).
               Como todo líder autoritário (embora com a pele de cordeiro do democrata) Erdogan terá pensado que as eventuais resistências não passariam de débeis aragens diante da própria inexorável progressão.
                A hubris do poder explica-lhe a dificuldade de entender que a resistência na praça Taksim, em Istambul  (em que se propôs pôr abaixo as árvores para levantar um centro comercial  e uma réplica de antiga  caserna otomana) não era simples capricho de grupelho de elementos desajustados. A dificuldade de lídar com símbolos na resistência da cidadania é um dos calcanhares de Aquiles dos supostos homens fortes (V. praça Tahrir no Cairo e outros).
               A despeito dos repetidos ultimatuns e da violência policial, com amplas prisões de suspeitos,  as manifestações continuaram e ao invés de se limitar à praça condenada, hoje se estendem igualmente à capital, Âncara.
               Para quem apreciava visitar os antigos países da órbita otomana, e lá ter o régio tratamento dispensado aos maiores próceres do mundo do Islã, os ecos das praças e as cenas da repressão policial – além de desaguisado internacional com a Chanceler alemã, Angela Merkel, que ousou censurá-lo pelas detenções arbitrárias e a mão pesada sobre os demonstrantes – de um mar de almirante o líder turco Recep Erdogan semelha adentrar nos ardores do inferno astral.

 

(Fontes: Folha de S. Paulo,  International Herald Tribune )

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