sexta-feira, 21 de junho de 2013

Para a Crise, reunião ministerial !

                                 
                                   
        Tudo o mais, nesses dias do junho quente dos protestos do Povo, será necessariamente visto como se fora pano de fundo dessa revolução que bate à porta dos palácios da República.
          Ora ,vejam só, até entra na dança o Palácio do Itamaraty  – assim chamado por causa de outro palácio, este histórico, que ficou no Rio de Janeiro. Durante a mudança da capital do Rio de Janeiro para Brasília, houve a preocupação de conservar-lhe o nome, para que dúvidas não subsistissem de que ali também se faria política externa. No caso da noite passada, um punhado de arruaceiros ali tentou adentrar. Alguns vidros quebrados e pouco mais, antes que a ordem fosse restabelecida. E aquele palácio, desenhado por Niemeyer, voltará decerto a dormir, nesse letargo determinado pela Presidenta, que avocou para si, nas câmaras do Planalto, a decisão de todas as questões que considera importantes. E será neste nicho que entram as externas.
           A dizer verdade, a dílmica ânsia de centralismo mandonista vai muito além do velho ministério, pois ela quer também dispor e decidir dos demais assuntos da República. Para quê ? Fora  o alarido dos gritos e das promessas, o  povo não sente nem vê os rastros e as marcas de tanta presença.

           Depois de elogiar as manifestações – que foram marcadas pela vaia no estádio Mané Garrincha, vaia essa que o gnomo Blatter atreveu-se a contestar, no que se deu muito mal – e depois de reunir-se às pressas com o Líder Máximo, dona Dilma resolve agora convocar reunião ministerial de urgência.
           Império e República estão coalhados de reuniões de cúpula ministerial, convocados sob a mágica ilusão de que iriam entender e resolver a maldita crise.  Com os partidos em baixa – acabam de ser escorraçados pelas multidões de junho, pela sua não representatividade e por serem corresponsáveis nesse duromomento a confrontar as  autoridades da República – fica difícil antecipar se o encontro congregará os trinta e nove ministrinhos, ou apenas uma parcela deles.
            De qualquer forma, a expectativa do povo será tendente a zero, como apreciava falar um antigo patriota e mestre meu, que por causa das Parcas terá tido a boa ocasião de não de assistir à atual desmoralização dos poderes constituídos.
            Ao cabo, será que a personagem convocará mais uma rede nacional para comunicar o que o Paço pretende fazer ? Como a senhora presidenta abusou do instrumento, a sua entrada nas salas de visita e nos auditórios do Povão corre o risco, ou de afundar-se na própria anterior irrelevância, ou de vir a tornar ainda mais sanhuda a reação.
            De minha parte, diante da personificação em carne e osso do erro de Lula, prefiro a raiva à indiferença. Através do afeto freudiano, a reação talvez colabore para que esse estágio das manifestações seja superado. Não através de vandalismo, de roubos e redistribuições oportunistas da riqueza (e do trabalho) alheios, mas com algo de positivo.
            Sem embargo, o ceticismo avança. Por que a criatura da algibeira do líder que aprontou toda essa confusão, poderá trazer-nos algo de útil ? Se na hora do aperto, ela já correu para consultar-se (ou melhor receber as instruções) com Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje seja dito - com todos os pigarros e mesuras - que apesar de Máximo Lider não passa de um mero cidadão comum ? Não terá sido o grande benfeitor que nos cozeu o prato da realidade presente, com a partidarização do Estado, e a geral inchação  do desvairado empreguismo petista, a explosão da carga fiscal (36% !) e a correspondente baixa geral nos serviços públicos e em tudo o mais que de construtivo se poderia esperar ?
              Não se apoquente, senhora Presidenta, que o grande guru e os seus ávidos seguidores hão de inventar mais outro slogan. Quem há de importar-se que o bombástico aí se misture com o vazio, pois, quem sabe , consiga reverter para o futuro as vindouras manifestações da ira popular.

 

( Fonte:  O Globo  on-line )

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