quinta-feira, 6 de junho de 2013

CIDADE NUA VI -- Estórias Rodriguianas

        
         Antunes, o Conquistador  (2)


         Na rota do trabalho, lia o Correio da Manhã. Gostava do matutino e de muitos de seus colaboradores. Nem sempre concordava com as opiniões do Moniz Vianna, que escrevia sobre cinema. Apreciava, contudo, a seriedade da crítica e a ficha técnica. Por vezes, até a recortava, sobretudo nos filmes do oeste americano.

         Quando chegava à repartição, cumprimentava um que outro colega, e logo se enfurnava na sua mesinha de auxiliar de escriturário. As tarefas eram maçantes, mas cuidava de passá-las adiante com presteza. Sonhava com promoção a escriturário, embora soubesse que ela dependia não de assiduidade e do serviço bem feito, porém da palavrinha do padrinho político.

        Achando-se esquecido em lugar de baixo salário, fora visitar o seu pistolão na Câmara. Quando estava disponível, o deputado ouvia o seu reiterado pedido, enquanto folheava outros papéis. Antunes por vezes saía desanimado do gabinete, por não ver qualquer receptividade do congressista. De volta à escrivaninha, pensava em escrever para o chefe político no seu Estado. Sem o empenho dele, nada feito. Talvez o melhor fosse aproveitar as férias, para dele lograr, com a interveniência do tio, um pedido mais forte. Se o deputado sentisse o empenho da chefia regional do partido, a  promoção estaria assegurada. E pensando nisso, despachava a resma de papéis acumulados na sua ausência para o visto do diretor da seção.

                                                             *       

         Na saída, deu com o Tavares. O único conterrâneo seu com que se relacionava, este o procurava amiúde, e sobretudo no fim do mês, para filar  sanduíche no botequim, ou até mesmo uns trocados.

        “Olha, dessa vez não vai dar.”

        “Que é isso, Antunes ! Somos amigos, não é ? Cê pensa que é só pra pedir que te procuro ?”

        Com o seu jeitão formal, o outro o encarou.

        “Se não é, ‘cê me desculpe...”

        “Queria te fazer uma proposta...”

        A desconfiança de Antunes aumentou, mas algo o fez esperar.

      “Na Praça Tiradentes, tem nova revista do Walter Pinto...”

      “A entrada não é muito cara?”

      “Não, se for das cadeiras de trás.”

      “E dá pra ver de lá ?”

      “Sim ! e que mulheres, seu Antunes...”

      “Como é que se chama o show?”

      Tem bubu no bobó!”

      “Está bem, então. E quando é que seria?”

      “A caminhada até lá não é das maiores. Que tal se fôssemos ao teatro comprar as entradas para a sexta de noite?”

      OK, Tavares. E espero não me arrepender...”

                                                            * 

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