segunda-feira, 17 de junho de 2013

Ecos da Fiesta Espanha x Uruguai

                                    
           Ver a seleção espanhola jogar deveria ser um prazer para o espectador. De início,  a chamada Fúria praticou um estágio mais avançado de esquema de jogo. Foi o que se pôde ver em boa parte da partida com o Uruguai, e em particular durante o primeiro tempo.
           Há duas maneiras de enfrentar o futebol consoante é praticado pela seleção da Espanha e o Barcelona. A receita do Chelsea – que com alguma dose de chance conseguiu deter o time de Messi – ao transformar a defesa em espécie de fortaleza, e recorrer ao contra-ataque isolado. Nessa partida, caracterizada por heróica resistência – e alguma chance – o Chelsea conseguiu surpreender. Sem embargo, além da férrea disposição, contou com boa dose de sorte.
           A outra é a do Bayern, como o demonstrou recentemente na Copa dos Campeões. É o enfrentamento pela qualidade, com a contestação sistemática da posse de bola, com o resultado que se viu.
           Conforme se depreende, o paradigma introduzido pelo Barcelona – e seguido pela seleção espanhola – não é esquema invencível, mas exige para contrastá-lo muita aplicação tática e um domínio de bola que não tem ultimamente caracterizado as seleções sul-americanas.
            Não foi o que se viu ontem na partida em mais um estádio de primeiro mundo, construído nos moldes da Fifa (no Recife se esqueceram de entrosá-lo com as vias de acesso, que continuam como dantes).  A posse de bola pela equipe do técnico Vicente del Bosque – malgrado as patéticas vaias da torcida – dominou de forma sufocante o primeiro tempo, por negar à Celeste que lograsse concatenar jogadas com mais de dois ou três passes.
            Ao ver a Espanha jogar, o espectador que procure ser minimamente objetivo se conscientizará que está presenciando  maneira superior de jogar futebol. Por quê ? Por negar ao adversário a posse da bola e, na eventualidade de que o outro time principie a jogada, se vê logo literalmente sufocado pelos adversários.
             Desse modo de jogar, o Santos já experimentara a derrota – e por quatro a zero! -  na final do campeonato mundial de clubes. O pior na época não foi a contagem em si,  mas a maneira abúlica como os jogadores santistas, e o próprio Neymar, se deixaram abater pelos companheiros de  Messi. A atitude  de Muricy Ramalho, o então técnico  santista  se rendeu à superioridade espanhola com a resignação de alguém diante de uma força superior. Não é a reação que, em outros tempos, se esperaria do futebol brasileiro.  Mas aquela partida que não terá provocado um exame generalizado de consciência  como deveria, representou um marco, um turning point, para quem ainda alimentava ilusões sobre as possibilidade da seleção.
           Qual foi a reação do Uruguai diante do desafio do superior esquema de jogo e de técnica da equipe espanhola ? Ora, apelou para o sovado e conhecido recurso da celeste, quando  posta em dificuldade. Foi assim com Obdúlio Varela e seus companheiros no pretenso maracanazo de dezesseis de julho de 1950, e não terá diferido muito na partida de ontem, em que, aproveitando-se de árbitro fraco e que não soube impor-se,  descambaram para a ignorância, na prática da velha violência, de que se servem aqueles que se sentem inferiorizados pela técnica.  Foi o que se viu em campo com a tímida e envergonhada presença do juiz japonês Yuichi Nishimura, que, na provada receita do árbitro tarimbado, deveria ter cortado os arreganhos uruguaios (com um receituário amplo, indo das botinadas às cotoveladas, e por aí afora, na prática deplorável do anti-jogo) antes que perdesse o pulso da partida.
          A maioria dos torcedores brasileiros muito apreciaria que o escrete canarinho reeditasse antigas proezas para arrebatar o troféu da Copa das Confederações, apesar da aparente maldição que pesa sobre os ganhadores, no que concerne à seguinte Copa do Mundo.
           Leio em Tostão, crítico que respeito, que o Brasil (e Felipão) já tem um time. Não sei o que pensa o celebrado campeão de setenta e atual pensador do futebol,  mas o nosso técnico, se deseja que o scratch nacional prevaleça, e sem valer-se do  instrumento da violência  - que já é reveladora admissão de inferioridade técnica - carecerá da  inventiva que não teve Muricy Ramalho, para enfrentar com alguma possibilidade de sucesso a atual seleção campeã do mundo.

 

(Fontes:  Rede Globo,  O  Globo, Folha de S. Paulo )

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