quarta-feira, 12 de junho de 2013

CIDADE NUA VI -- Estórias Rodriguianas


Antunes, o Conquistador  (4)

                                                       

           “Que tal o Lamas ?”, perguntou.

           “Pra mim tá ótimo,” disse ela.

           O taxista, um português mal-humorado, respondera com grunhido à indicação. Como a maioria dos táxis então rodando, era um sedan preto antigão, e andava devagar. Mas o parzinho no banco de trás, não parecia preocupado com tais detalhes.   

           No escurinho do carro, Antunes se deixou escorregar para o canto onde a moça estava. Não queria dar bandeira de afoito, mas nem de tímido. Sem reagir, a moça lhe dava entrada para as festinhas. No silêncio do banco traseiro, apenas o ranger das velhas molas traíam a movimentação.

           Sob a indiferença do motorista, calejado por incontáveis corridas noturnas, os murmúrios da jovem pontuavam o assédio que, às vezes, parecia avançar ligeiro demais. Aí,  gesto ou sussurro um pouquinho mais forte aquietaria, por momentos, os avanços de Antunes. 

           E nessa dança, com a cumplicidade da noite, chegaram até o restaurante. Tinham ido lentamente, pelo tráfego algo congestionado na Beira Mar e nas ruas do Flamengo, na atmosfera de começo de fim de semana. O próprio Antunes não se dera conta das voltas adicionais que o chofer acrescentara ao taxímetro.

           Com a moça pelo braço, ainda sem sequer saber-lhe o nome, ele se encaminhou para as mesas de dentro, buscando mostrar a naturalidade que só lhe viria depois.

                                                          *

           Mandaram vir bife com fritas, que ambos pediram malpassado. Apesar de sua insistência, ela não quis saber de bebida. Só aceitou guaraná, e ele achou melhor aderir. Bem que preferiria uma cervejinha, no entanto...

           A mesa quadrada tampouco ajudava. Que diferença para o banco do táxi... Talvez devesse ter procurado uma gafieira. Beberiam uns goles apressados, beliscariam os petiscos e dançariam... Mas como manter o clima se não era exatamente um pé de valsa?

           Bem que mal, tratou de acercar-se dela, de acariciá-la. Sentia que a atmosfera mudara um pouco, porém ela não o rejeitava... Se o ambiente não era o mesmo, Antunes procurava compensá-lo de alguma forma.

           “Conte um pouco de você...”      

           “Vim do norte...”

           “Somos dois então...”

           Ela sorriu.

           “Que tal se a gente se apresentasse ?”

           “Acho que já tá em tempo...  Meu nome é Antunes,  José Antunes.”

           “E eu me chamo Corina...”

           Antunes permaneceu calado. Com um leve meneio, no entanto, deixou claro que esperava pelo sobrenome.

           Para sua surpresa, ela franziu a testa e disse:

           “Vamos deixar pra depois...”

           Meio esquisito, pensou. Optou, no entanto, por não insistir. Voltaria à carga depois.

                                                          *

Nenhum comentário: