sábado, 20 de abril de 2019

O impasse na Venezuela pode ser superado ?


                              

         Segundo o Economist desta semana   duas conclusões se impõem: o plano do Governo Trump de derrubar o regime de Nicolás Maduro não dá (a), por ora, a impressão de uma força já em movimento (versão otimista), e (b) até mesmo não se poderia excluir que possa, em fim de contas, falhar.
             A estratégia americana  inclui (i) o reconhecimento como presidente interino da Venezuela de Sr. Juan Guaidó (54 países já o reconhecem como tal); (ii) sanções mais pesadas. As medidas contra a PDVSA, o monopólio estatal do petróleo, já sustaram as suas exportações para os EUA. Sem o seu melhor cliente, a PDVSA se vê forçada a vender o petróleo para consumidores mais longínquos, v.g. Índia, com lucros menores. Também as medidas americanas dificultam a aquisição de diluentes, de que a PDVSA carece para processar o seu óleo pesado.  Essa medida causou em grande parte os cortes de energia nas usinas venezuelanas (apagões), com pesadas e conhecidas consequências sociais sobre o dia-a-dia em muitos centros populacionais do país, inclusive Caracas.

                  Dando prosseguimento a essas medidas disruptivas,   o Tesouro americano  juntou o Banco de Desenvolvimento da Venezuela como mais uma entidade com que as instituições financeiras americanas não podem manter contatos de qualquer espécie. Segundo autoridade estadunidense de alta categoria, isso equivalerá a "encerrar toda a rede de transações em dólar americano. Por outro lado, membros do regime chavista e seus familiares - alguns dos quais estudam em universidades americanas - tiveram as suas contas bancárias bloqueadas e seus vistos revogados.

                     O terceiro tentáculo está na ajuda humanitária. Como é do conhecimento geral, a tentativa de transportar ajuda através das fronteiras - tanto com a Colômbia, quanto com o Brasil foram bloqueadas com facilidade pelo regime. A alternativa será dada pela Cruz Vermelha - como já referido em blog desta semana - que estará dando assistência em uma escala similar àquela de destinação para a Siria, para cerca de 650 mil pessoas. Aceitar a recepção dessa ajuda já é uma concessão tácita do Señor Maduro, que no passado sempre desmentira a existência da emergência sanitária. Ainda nesse contexto, a Administração Trump busca aumentar a capacidade da "equipe" de Juan Guaidó para reconstruir a Venezuela. Dentre tais providências que visam incrementar o papel de Guaidó se inserem, em sentido contrário, as várias medidas chavistas já mencionadas pelo blog no sentido de desestruturar o grupo do presidente interino.

                     Como o Economist reconhece, até o presente, o Exército e as demais Forças Armadas  venezuelanas continuam a obedecer o governo Maduro, ainda que haja fortes indícios de que o chavismo ou não mais confie nelas,ou ainda acredite em medidas de intimidação.  Unidades do exército tem o seu armamento trancado à  noite, e o seu combustível racionado, de acordo com funcionário americano.  Há videos de oficiais dissidentes sendo torturados, segundo revelado por um antigo agente de inteligência. Por isso, o governo usa forças pára-militares para suprimir manifestações  e prender ativistas da oposição. Também nesse sentido, funções de segurança são delegadas a agentes de inteligência cubanos, e o governo Maduro se serve desses funcionários cubanos - estimados entre dois a cinco mil - como espias e pessoal de segurança  para a prevenção de levantes militares.  Nesse sentido, segundo William Brownfield, um antigo embaixador em Caracas, eles estariam inseridos na cadeia de comando, com autoridade de dar ordens.
                      Não é decerto mistério e também o corrobora a Administração Trump, o regime Maduro está mais fraco  e a oposição, mais forte do que em princípios de 2019. Nesse sentido, está ficando difícil para Maduro governar, o que para essa fonte seria uma progressão dentro de um processo existente.
                       Apesar dessa previsão otimista, há indícios de que a Oposição está perdendo a determinação e a força inercial. O ambiente na Venezuela, com cortes de luz e consequentes falta d'água, não é algo que inspire otimismo. Instituições americanas constataram crescimento de mortes de mães e recém-nascidos, o avanço de doenças  como sarampo, difteria e tuberculose, além de altos níveis de desnutrição infantil. Para as autoridades, é óbvio que as ações aumentarão as dificuldades e, por conseguinte, levarão ao aumento da emigração.

                          A opção militar, a despeito da recusa de Trump em admitir a sua exclusão, não é de molde a inspirar uma ação rápida e determinante, como foi v.g. no Panamá, contra o regime Noriega, no tempo do senior Bush. Como o Economist assinala, a invasão convencional de um país duas vezes maior que o Iraque, e com muitos civis armados representaria uma ação militar maciça e arriscada, ainda que Mr Brownfield sugira que alguns emigrantes venezuelanos poderiam transformar-se  em guerrilheiros contra o regime.
                               A alternativa, consoante o Economist,  está em pôr mais ênfase na negociação, e ao mesmo tempo encorajar a América Latina e a Europa em aumentar a pressão, pelo congelamento dos bens dos líderes chavistas.  Nesse sentido recorda que Maduro instrumentalizou em 2015-16 "conversações de paz" para ganhar tempo e dividir a Oposição.
                                 Se bem que a parte estadunidense diga que o único tópico para discussão com o Señor Maduro e seus cupinchas seria uma discussão sobre as condições de sua partida,  a alternativa da realização de eleições livres surgiria como inelutável, e, nesse sentido, todas as partes, inclusive o governante movimento chavista, deveriam ser incluídas. 
                                   Lembra-se,nesse sentido, que todas as transições democráticas na América Latina - excetuada Granada e Panamá, países menores que foram invadidos pelos Estados Unidos - foram resolvidas através de um processo de negociação.

( Fonte: The Economist )                                         

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