Diante das evidências de que o Relatório Robert
Mueller reúne muito mais elementos que inculpam de forma grave o Presidente
Donald Trump, de o que a princípio se supunha, crescem as possibilidades de impeachment pelo Congresso do 45º presidente.
Com
efeito, a primeira reação pública, logo
após tornada conhecida a versão bastante
editada das conclusões do Relatório - em que foram eliminados os aspectos mais
negativos do texto da equipe de Mueller - como que conduziu a uma avaliação
anticlimática, como se o dito relatório, tão temido pela Administração Trump,
não correspondesse ao esperado potencial negativo que era presumido pela
mídia.
Na
verdade, não resistiria muito essa doce ilusão. Ao contrário de um relatório
"sem dentes", como a versão editada pelo Secretário de Justiça William
Barr (que segundo a usança americana é mais conhecido como Attorney General - Procurador-Geral), por exigências do Congresso, e notadamente de
Nancy Pelosi, que preside a Câmara, e Chuck Schumer, líder da minoria democrata
no Senado, apareceu por fim a versão sem cortes
do relatório Robert Mueller.
Com efeito, ao tomar ciência de que havia chegado à tona o texto real do
relatório Mueller, este foi o comentário
chulo do presidente:" Isso é terrível. É o fim da minha presidência. Estou
f..." Esse súbito pavor presidencial corresponde ao inteirar-se de que
uma equipe especial será formada para investigar as ligações entre a sua
campanha presidencial e a Rússia do "amigo" gospodin Vladimir Putin.
Ao contrário de o que versão editada
do Relatório Mueller queria fazer fosse presumido, na verdade a versão
autêntica desse relatório lista uma
série de ações do presidente para obstruir as investigações,as quais se
propunham definir e tornar manifesto que o presidente Trump cometera o crime de
obstrução de Justiça. Nesse
sentido, Mueller listara dez desses episódios reveladores dos reais desígnios presidenciais.
Como se verifica pela dinâmica da atuação do Conselheiro Mueller, não se
pode atribuir à suposta lisura presidencial que as investigações não tenham
levado a conclusões firmes e inequívocas de obstrução de Justiça. Além dos
cuidados - para alguns excessivos - do Relatório Mueller, "os esforços do
presidente para influenciar a investigação foram de forma majoritária
mal-sucedidos, mas isso é amplamente
explicado pelo fato de que as pessoas de seu entorno se recusaram a executar
ordens ou acatar pedidos".
Há certos trechos do relatório
Robert Mueller que indicam um viés do texto que pode não resistir a uma
investigação - ou arguição - ulterior. Desperta perplexidade quanto ao relatório do
Procurador Especial, a circunstância de
que o exame por sua equipe conclua por
não ter havido conluio da campanha de Trump com os russos para favorecer-lhe a eleição à Casa Branca embora a própria equipe que
gerenciara a disputa por Trump pela presidência haja mantido diversos contatos
com enviados russos, mas não chegou ao
nível de cometer crimes. Não obstante a pluralidade desses indícios, o
relatório Mueller afirma que a campanha de Trump "tinha a expectativa"
de se beneficiar das ações ilegais da Rússia
nas eleições.
Tampouco o relatório Mueller toma
atitude mais firme e conclusiva, ao manter postura ambígua, tanto quanto a expectativas mais incisivas, diante da pluralidade de
contatos, assim como defronte da série de provas em contrário, quanto ao fato
que Trump se haja engajado em obstrução
de Justiça. O relator Mueller prefere inspirar-se na conhecida configuração
da Justiça como uma personalidade que tem os olhos vendados. Não é de desconhecer-se
essa imagem tradicional, que tem a ver com a isenção do Magistrado diante da condição da pessoa julgada. Pois o Procurador Especial se exime de concluir se houve ou não
obstrução de justiça de parte do Presidente Donald Trump.
Chega mesmo a afirmar que o presidente fez várias tentativas de
influenciar a investigação, mas não teve êxito em razão da recusa de
subordinados seus em acatar-lhe as ordens. Há limites para a presunção de
inocência.
Há uma certa similitude nessa propensão, que semelha corroborada pela
postura do Procurador-Geral em isentar de juízos negativos o Presidente
Donald Trump tanto em valer-se da ajuda dos emissários do
Presidente Vladimir Putin em
matérias nas quais ressalta o patente interesse de Trump em favorecer a
respectiva posição e valer-se de ajudas espúrias , quanto à assertiva de que
existiu obstrução de Justiça em diversas ações supramencionadas, embora a
intenção do presidente seja manifestamente obstrucionista, e que a ação em
tela não se concretize apenas pela oportuna
intervenção de auxiliares bem-intencionados.
Em outras palavras, tudo
leva a crer que o dolo exista, mas que - ou não seja possível determiná-lo,
pela falta de acesso a informações
concernentes à segurança - ou que, no segundo caso, a instituição da
Presidência tenha sido preser-vada, pela oportuna intervenção de agentes do
Estado com maior consciência das respectivas responsabilidades do que o próprio
Presidente dos Estados Unidos.
( Fontes: The
New York Times, O Globo )
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