Estamos
em abril, mas ainda é época das mal-sinadas torrentes que despejam sobre bairros, ruas e avenidas
dessa antiga Cidade Maravilhosa uma boçal quantidade de água, e que se compraz
em arrancar árvores quase centenárias, enquanto os logradouros do Rio de
Janeiro viram correntes caudalosas.
Desde
que me entendo, as autoridades agem como se surpreendidas por inauditas
caudais, que de repente se despejaram sobre a mui leal e heróica cidade de São
Sebastião do Rio de Janeiro.
Elas
torcem as orelhas a implorar pela colaboração da cidadania. Agem na verdade
como se se tratasse de um fenômeno cruel e inesperado, quando, na verdade, os
cariocas têm pela frente as habituais tempestades do verão tropical, que cáem
sobre bairros ricos e pobres com a mesma cruel violência.
E
pasmem, os estragos são grandes por toda a parte, sem muitas diferenças nos
bairros de cartão postal e nomes famosos, do que nos íngremes, rípidos morros
onde estão os casebres e as favelas.
Muitos se espantam com a violência dos aguaceiros e, em especial, nas
ruas e avenidas que se supunham bem-cuidadas.
Sem embargo, elas se inundam rapidamente, graças ao descaso das
autoridades, mas também das vizinhanças, que agem como se bueiros fossem
depósitos de lixo. É a improvidência de porteiros e outros supostos agentes da
limpeza, que, por indolência ou estupidez, ou o somatório dessas duas, despejam
folhas e quejandos nos bueiros da rede hidráulica, de modo a inviabilizar-lhes
a capacidade de escoamento quando aqui baterem precipitações que nada ficam a
dever àquelas das monções.
O
que são desastres muita vez repetidos? Para mim, que já dobrei o cabo da Boa
Esperança, me recordo dos lancinantes apelos das autoridades, que nos chegaram
até às margens do Sena, em tempos pré-revolucionários, quando os chefes de
então arrancavam cabelos e, quem sabe?, roupas, exigindo contribuições para enfrentar a terrível catástrofe das
enxurradas estivas, que, pasmem, se repetem a cada verão, para vergonha...
sabe-se lá de quem, porque na terra de tantas benesses e onde tudo dá, falta só
coitada, a virtude da providência, a
desentupir canos e sobretudo limpar bueiros!
( Fonte: vivência na Cidade Maravilhosa )
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