terça-feira, 9 de abril de 2019

As Chuvas de Verão


                       

      Estamos em abril, mas ainda é época das mal-sinadas torrentes  que despejam sobre bairros, ruas e avenidas dessa antiga Cidade Maravilhosa uma boçal quantidade de água, e que se compraz em arrancar árvores quase centenárias, enquanto os logradouros do Rio de Janeiro viram correntes caudalosas.
       Desde que me entendo, as autoridades agem como se surpreendidas por inauditas caudais, que de repente se despejaram sobre a mui leal e heróica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

        Elas torcem as orelhas a implorar pela colaboração da cidadania. Agem na verdade como se se tratasse de um fenômeno cruel e inesperado, quando, na verdade, os cariocas têm pela frente as habituais tempestades do verão tropical, que cáem sobre bairros ricos e pobres com a mesma cruel violência.
         E pasmem, os estragos são grandes por toda a parte, sem muitas diferenças nos bairros de cartão postal e nomes famosos, do que nos íngremes, rípidos morros onde estão os casebres e as favelas.

         Muitos se espantam com a violência dos aguaceiros e, em especial, nas ruas e avenidas que se supunham bem-cuidadas.
            Sem embargo, elas se inundam rapidamente, graças ao descaso das autoridades, mas também das vizinhanças, que agem como se bueiros fossem depósitos de lixo. É a improvidência de porteiros e outros supostos agentes da limpeza, que, por indolência ou estupidez, ou o somatório dessas duas, despejam folhas e quejandos nos bueiros da rede hidráulica, de modo a inviabilizar-lhes a capacidade de escoamento quando aqui baterem precipitações que nada ficam a dever àquelas das monções.  
  
          O que são desastres muita vez repetidos?  Para mim, que já dobrei o cabo da Boa Esperança, me recordo dos lancinantes apelos das autoridades, que nos chegaram até às margens do Sena, em tempos pré-revolucionários, quando os chefes de então arrancavam cabelos e, quem sabe?, roupas,  exigindo contribuições  para enfrentar a terrível catástrofe das enxurradas estivas, que, pasmem, se repetem a cada verão, para vergonha... sabe-se lá de quem, porque na terra de tantas benesses e onde tudo dá, falta só coitada, a virtude da providência, a desentupir canos e sobretudo limpar bueiros!


( Fonte: vivência na Cidade Maravilhosa )

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