terça-feira, 2 de abril de 2019

Interrupção de pena após 2ª instância ?


                  

         As rediscussões de pena continuam a ressurgir na berlinda, diante da flexibilidade das regras e das mudanças na orientação da Corte Suprema, após breves intervalos decorrentes de mudanças anteriores nas decisões da mesma Corte.
        Nesse contexto, o Ministro Luis Roberto Barroso faz um diagnóstico severo: o Supremo Tribunal Federal pode perder sua legitimidade e provocar uma crise institucional se não conseguir corresponder aos sentimentos da sociedade.
        O pano de fundo dessa discussão está na reabertura da questão, por instâncias do Ministro Marco Aurélio Mello, que é defensor da tese da reanálise da questão pelo STF, após a condenação em segunda instância.
        O entendimento anterior da maioria da Corte, a que se chegara em 2016, pela manutenção da prisão em segunda instância, correspondera a uma longa campanha de imprensa, contrária ao recursismo então imperante, que habilitara a criminosos confessos a se manterem em liberdade, como no caso de Pimenta Bueno e de outros mais.
          Revoltara a Sociedade que os meios do réu - em casos de manifesta culpa - possibilitassem a extensão dos litígios judiciais, de modo a que criminosos confessos se mantivessem em liberdade, graças a disporem de meios e de bons causídicos.
          Nesse contexto, parece de grande oportunidade ter presente a argumentação do Ministro Luís Roberto Barroso: o Supremo Tribunal Federal pode perder sua legitimidade e provocar"uma crise institucional" caso a Corte "repetidamente" não consiga "corresponder aos sentimentos da sociedade". Tal assertiva do Ministro Barroso foi feita quando o ministro defendeu já existir decisão definitiva e vinculante no tribunal sobre a prisão de réus após condenação em 2ª instância.
           "Acho que nós precisamos ter isso em conta porque as instituições são os pilares da democracia. Portanto, não podemos destruir as instituições nem as instituições podem se autodestruir", afirmou o Ministro Barroso. 
            Deve-se ter presente que o STF  deve voltar a analisar a matéria no dia dez de abril. Nesse contexto, réus como o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, condenado em 2ª instância e preso pela Lava Jato, serão soltos caso o Tribunal mude  a orientação que vigora desde 2016.
            "Você pode eventualmente ser contra-majoritário, mas se repetidamente o Supremo não consegue  corresponder aos sentimentos da sociedade, vai viver problema de deslegitimação e uma crise institucional", disse Barroso ontem,1º de abril, no evento Estadão Discute Corrupção. 
               Realizada na Sede do Estado de S. Paulo, em parceria com o Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP), o ministro Barroso discutiu as operações  Lava Jato e Mãos Limpas, esta última na Itália.
               O Ministro reforçou sua posição com números. Disse que o Supremo reforma apenas 0,4% das decisões dos tribunais inferiores e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) só faz isso em 1,2% dos casos. Assim, não faria sentido, por menos de 2% dos processos, mudar a decisão do STF sobre a prisão após a 2ª instância. "Estamos falando de optar por um sistema que funciona, ou um sistema que não funciona."
       
( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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