quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Trincheiras da Liberdade: revolução na Ucrânia

                         

         Não está escrito que as forças populares prevalecerão na Ucrânia. Sem embargo, como outros tiranos no passado, será a húbris do poder, ou a eventual promessa do modelo russo, o presidente Viktor Yanukovych semelha viver em alguma esfera inacessível aos clamores da própria gente.
         Parece esquecido da chamada revolução laranja que, por forçá-lo a novo pleito contra Viktor Yushchenko – a fraude pairava sobre os comícios anteriores  - o deveria tornar mais atento à vontade popular, e ao caráter por vezes imperioso de seus reclamos.

        Pensou poder escarnecer do sentir da cidadania quanto à necessidade de aproximação com a União Européia e às perspectivas de liberdade do Ocidente.
       Enquanto finge escutar os anseios da multidão, ele tem preferido, por mais de uma vez, a porta aberta da Federação Russa. Se evita conversar com Bruxelas, ele atende de pronto aos chamados de Vladimir Putin, com seus acenos de descontos no gás que compra da antiga metrópole, a par de dúbia participação em União Aduaneira, sob a égide de Moscou.

        A multidão ucraniana que na praça da independência volta a expressar o seu voto, decerto buliçoso, libertário e nobre, se recusou a baixar a cabeça diante da arbitrária e fascistóide lei que tenta proibir manifestações na capital.
        Yanukovych terá como triste modelo o regime autoritário de Putin. Espanta que após conquistar a ansiada liberdade, com a dissolução da União Soviética, esse presidente se ponha como objetivo a sujeição ao velho império dos tzares e dos comissários do defunto PCUS.

        Confrontado por repetidas vezes com o sentir majoritário da nação ucraniana, ele finge conformar-se, acena negociar com Bruxelas, para em seguida correr para Moscou, onde gospodin Putin não negaceia acenos de renegociação de dívida, de preços menores para o combustível, sem falar de um projetado empréstimo. Dado o tamanho da Ucrânia, compreende-se o quanto o senhor do Kremlin julga relevante trazê-la para o aprisco, eis que para aquilatar o valor da presa basta olhar no mapa. Essa união aduaneira mostra por ora a Bielo-Rússia, a Moldava e a Armênia, como associadas da Federação Russa.

       Ontem, o movimento ucraniano deu mais um passo no caminho da revolução. Até então, nos vários confrontos com a polícia de choque, os manifestantes tinham logrado prevalecer sem perda de vidas. Com a morte de quatro manifestantes, e os ferimentos sofridos por cerca de trezentas pessoas, a escalada da violência atinge novo patamar.
       Nesse contexto, de seu catre do lazareto de Kharkov, a líder oposicionista Yulia Timoshenko declarou que Yanukovych ‘não é mais o presidente da Ucrânia, mas um assassino’. Por ora, três partidos de oposição – os de centro Batkivshina e Udar, e o de direita, Svoboda – responsabilizam pelo derramamento de sangue ao Presidente e ao Ministro do Interior Vitali Zajárchenko.  A reivindicação imediata das oposições é a exoneração do primeiro ministro, Mykola Azarov, que chamou os manifestantes de ‘terroristas’ e culpou os líderes da oposição pelo incitamento à violência e consequente desestabilização do país.

        Após a reunião com o presidente, Vitali Klitschko (Udar) pediu unidade aos manifestantes, concentrados na praça central de Kiev, e afirmou que ‘se Yanukovych não fizer concessões amanhã (hoje, 23), passaremos à ofensiva’.

       No âmbito internacional, a Federação Russa significou que o apoio europeu aos manifestantes é indecente (sic), e pediu à U.E. que não aplique sanções a Kiev.  Por sua vez, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso não excluíu a possibilidade de que o bloco viesse a tomar medidas contra a Ucrânia.

 

(Fonte: Folha de S. Paulo)

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