Como se há de
recordar o leitor, muitas das vítimas do incêndio criminoso da Boite Kiss – que completa um ano na data de hoje – ainda enfrentariam longas semanas
de penoso tratamento como pacientes internados em hospital de Porto Alegre, e
já o tribunal de alçada daquela cidade concedia as liminares para que os
principais acusados como diretamente responsáveis pela tragédia esperassem em
liberdade o julgamento criminal. Os réus são Elissandro Spohr (sócio da casa noturna), Mauro Hoffmann, também sócio, o cantor da banda Gurizada Fandangueira Marcelo de Jesus dos Santos, e o produtor Luciano Bonilha Leão.
Indisturbados,
continuam até hoje em liberdade, enquanto o processo se arrasta. Houve até o advogado
da defesa de Elissandro Spohr que solicitou da juíza competente que fossem chamados para depor na ação os seiscentos sobreviventes daquele incêndio
que vitimou 242 pessoas, a maior parte delas jovens com toda uma vida pela
frente ! Em boa hora a juíza denegou a insólita pretensão.
Hoje é o
infausto aniversário da tragédia. O delegado de polícia se tem esforçado em
indiciar servidores municipais e o prefeito de Santa Maria, Cezar
Schirmer. Em incrível decisão, o Ministério Público se dispunha a
mandar arquivar os indiciamentos policiais, sob o pretexto de falta de
fundamentação. Tal só não ocorreu por intervenção do Conselho Superior do Ministério Público, que exigiu a manutenção do
caso até que os novos inquéritos policiais sejam encerrados.
Mal passado um
ano, há procurador do M.P. que
reclama pelo fato de ter sido obrigado a interromper suas férias, para intervir
em debate... Suas Excelências não encontram razões suficientes para indiciar
muitos servidores municipais a quem se apontam responsabilidades pontuais. Bem
fazem os parentes das vítimas a participarem de passeatas que findam diante da
sede do Ministério Público local, em cujo local os manifestantes apõem balões
brancos alusivos às vitimas (os portões do M.P. estão cerrados, quando deveriam
estar abertos, não fora para dar explicações cabíveis àqueles que perderam
entes queridos).
Tampouco,
apesar do indiciamento proposto pelo delegado competente, não vê o M.P. motivo
para avalizar o procedimento do delegado policial. Para o Ministério Público,
não há informações suficientes para denunciar o prefeito de Santa Maria, Cezar
Schirmer (PMDB).
O incêndio da boite Kiss, na noite de 27 de janeiro de
2013, é uma vergonha nacional. E não só pelas 242 vítimas ceifadas na juventude. O Congresso
Nacional, essa instituição com parlamentares que estão entre os mais bem pagos do
planeta, é uma assembleia de ausentes,
eis que o seu único dia útil de trabalho pleno é a quarta-feira. A terça é
reservada para o incômodo de viajar para Brasília, e a quinta, para
escafeder-se já de manhã para longe da capital federal. Quando se trata de
elevar a respectiva remuneração, aí toda a urgência é aplicável. Em prova de
falta aguda de sensibilidade e de respeito ao Povo Soberano, todo o Brasil viu
com que insolência Suas Excelências cuidaram de atualizar em uma só jornada,
dada a pressa na providência, o teto de
suas remunerações, em que estão igualados Senadores, Deputados,os Ministros
do Supremo, e a Presidenta da República.
Entrementes, transcorre um ano de uma desgraça
nacional e o chamado Congresso das Quartas Feiras não
encontra tempo para redigir, examinar, deliberar e votar uma lei federal que
estabeleça o que deva ser feito para obter a autorização para abertura e
funcionamento de boites, que possam ser livres dos nefandos percalços que
condenaram a boite Kiss. Mas não com as irregularidades que macularam a licença
concedida para que aquele nefando estabelecimento se transformasse numa
verdadeira e criminosa arapuca.
Só mesmo no
Brasil, com a indolência e a displicência de deputados e senadores, nada é
feito pela memória de 242 vítimas. Não há lei federal para que o escândalo da
Kiss não mais se repita! Suas Excelências não encontraram tempo !
Seria o caso
de repetir a célebre pergunta: Será que os senhores não têm vergonha?
Será que não
apreenderam um iota quanto aos seus mínimos deveres ? Para aprovar a gastança
do Padrão Fifa nos estádios, assim
como dispor sobre propaganda política obrigatória em que cada dia se
metem em nossas casas com suas promessas, lorotas e sandices, repetidas no
horário nobre com arrogância e menosprezo pelo cidadão ? Será que não há limite
para essa festança de partidos – somos o país das 32 legendas e das 32
ideologias ! Que pública confissão de falta de discernimento ou de artificiosa
falta de respeito com a cidadania !
(Fontes: O Globo on-line, Folha de S. Paulo )
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