A tragédia
provocada pelo caminhão-caçamba na Linha Amarela, na manhã de 28 de janeiro de
2014, pode ser objeto não apenas das devidas lamentações e protestos, mas
também de providências por uma vez sérias e abrangentes.
A revista Economist, em um de seus números,
referiu o dito relativo ao Brasil de que é um país onde existem muitas leis,
que, infelizmente, na sua maior parte, não são aplicadas.
Antes de verificar,
na medida do possível, se tal acusação genérica procede, é importante lembrar
que muita vez quem lança tal tipo de juízo, que beira o achincalhe, deveria
igualmente olhar para o próprio umbigo e tentar verificar se a nacionalidade
respectiva está acima de qualquer doesto e ofensa.
Os ingleses –
reporto-me às classes C e D - não deixam amiúde boa impressão por onde passam.
Recordo-me, a propósito, de aeroporto em Jacinto (ilha grega), que deixaram
coalhado de latinhas de cerveja, enquanto aguardavam o voo charter que lhes
iria transportar de volta à mãe-pátria.
Tal tendência a
desconhecer das latas e outros repositórios para o lixo não se restringe
decerto às acanhadas dependências dos aeroportos da Grécia insular. Por ocasião de jogo de futebol importante,
entre equipe helênica e a correspondente inglesa, houve invasão de torcedores
britânicos. Se os temíveis hooligans seriam coisa do passado, os seus
sucessores continuam a mostrar comportamento antissocial.
Quiçá para
manifestar o próprio desagrado com a circunstância, decerto molesta, mas que
faz parte do esporte, vale dizer a derrota do time inglês pela equipe da casa,
os buliçosos hooligans literalmente encheram a praça Sintagma (a central de
Atenas) das características latinhas de cerveja, que semelham ser, não só o
elixir tônico preferido, mas também a maneira inconfundível de marcar a sua
buliçosa presença.
A observação
acima não pretende fazer parte de dispensável querela sobre certos traços
marcantes de individualidades nacionais. O intuito é outro. As características
desses turistas ingleses parecem um tanto agressivas, a ponto de que o hooligan
tenha identificado personagens que o comum dos mortais prefere ter à distância.
A esse respeito, não há negar que a legislação inglesa tenha alcançado grandes
avanços em coibir o comportamento antissocial dessas hordas, que antes eram o
terror dos vizinhos países europeus. Sem embargo, os ingleses – máxime os que
viajam por voos charter, com destinação de fim de semana – continuam a guardar
algumas atitudes que não dispensariam maior adequação para que, a sentir dos
eventuais anfitriões, viajem melhor.
Voltemos, no
entanto, à tragédia da Linha Amarela. Ela foi causada por um
caminhão-caçamba. É difícil qualificar o
comportamento do motorista: além de entrar na linha Amarela, em horário
proibido para esse tipo de veículo, ele percorreu, em alta velocidade, uma das
pistas com a caçamba levantada. A razão
de estar no ponto mais alto (o que além de interferir com o equilíbrio do
veículo, é uma ameaça para as diversas passarelas) a caçamba teria sido
levantada pelo motorista para esconder o número da chapa. Com isso, o condutor
visava inviabilizar a(s) multas devidas
por excesso de velocidade, tráfico proibido, levantamento da caçamba e, por
último, estar falando ao celular (o que fez durante todo o trajeto do caminhão
antes do desastre).
Cinco pessoas –
quatro de imediato e uma após mais sofrimento em hospital – morreram, por
força dessa criminosa irresponsabilidade. Duas estavam na passarela destruída, uma em um táxi, e duas em viatura particular.
Não é ocasião, Senhor
Prefeito Eduardo Paes de vir a público pedir desculpas à sociedade pela
sucessão de erros e de negligências que acompanharam a trajetória do caminhão.
A falta de
punição é a causa do contínuo desrespeito das posturas municipais – que estão
aí para evitar que calamidades como a do dia 28 de janeiro venham a ocorrer.
Mas não é
somente falta de punição que está em causa. O desrespeito às normas do trânsito
– e o que vem ocorrendo na Linha Amarela é eloquente sinal disto – assume características
sistêmicas. Não é mais a hora para pedir
desculpas. As mortes estúpidas reclamam mais do que justiça. Reclamam, em
verdade, uma mudança no paradigma da punição. As multas devem aumentar e, se
reincidentes, de forma a inviabilizar que as empresas (que estão na raiz do
desrespeito pelos motoristas) possam sequer considerar repetir a infração. As
multas precisam ser pesadas, muito pesadas, e aplicadas com severidade crescente no caso de
reincidência.
O Rio de
Janeiro, no plano municipal, tem sido um desastre. Os ônibus desrespeitam de forma consistente
os sinais. Aquele que ignoram em geral é o de pedestres – aquilo ridículo
intervalo de oito segundos dado ao pedestre (não importa se idoso) para
atravessar qualquer logradouro. Para os ônibus sinal amarelo é o mesmo que
verde. Ai do pedestre que se fiar no sinal verde do semáforo aberto para ele. O
ônibus, com a truculência habitual, invade esse espaço, e o que sobra é uma ridícula
nesga de quatro segundos, claramente insuficiente para a parte mais fraca. E o
Senhor Prefeito poderia resolver isto de uma penada: se colocar pardais em
todos os sinais, os rendimentos da prefeitura aumentariam deveras, até que as
empresas de ônibus determinem aos motoristas que respeitem os sinais de
trânsito.
Quanto ao lixo –
com toda a propaganda das multas a serem aplicadas aos sujões – a campanha da
prefeitura seguiu o padrão usual. No dia do lançamento, as blitzes para colher
na rede os infratores. Passado um dia ou
dois, tudo volta à situação anterior,
com a displicência (e o absenteísmo) da autoridade, e o lixo no passeio
público, nas praias e nos logradouros torna a comparecer, eis que quem joga o
lixo tem a virtual certeza da impunidade...
Como se
verifica, o princípio é sempre o mesmo.
Não há credibilidade da autoridade no que tange à aplicação da lei, da
norma e postura seja municipal, estadual ou federal. Para onde olhamos, há de que preocupar-nos:
ontem a Linha Amarela, há um ano a Boite Kiss, em todos os dias o descontrole
sistêmico do transporte público ... e estavam faltando, as desculpas da
Autoridade, dizendo-nos com a cara por vezes confrangida, por vezes não,
que lamenta muito, muito mesmo...
(Fontes subsidiárias: O Globo,
O Globo on-line, Folha de S. Paulo)
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