Chapa Campos – Marina
Carece de
muita frieza e algum desprendimento, a decisão de Marina Silva – que as
prévias deverão confirmar ou não – de aceitar ser vice na chapa do PSB, encabeçada por Eduardo Campos.
É poção
amarga, mas que a sessão do Tribunal Superior Eleitoral – negando licença à Rede Sustentabilidade – por força de uma
série de manobras, mas sobretudo a estranha recusa pelos cartórios do ABC paulista (reduto do PT, como se sabe) de reconhecer muitas das
firmas de subscritores da dita Rede
– tornou inevitável.
Agora é
conferir a evolução nas prévias. Se a candidatura do governador Campos decolar,
tudo bem. Mas se o céu enfarruscar-se para esses lados, e Marina persistir a
ser a única candidata (excluído José
Serra) a forçar um eventual segundo turno para a Presidenta, serão de
prever-se, no campo socialista, perturbações nada atmosféricas.
Ecos da Primeira Guerra Mundial
A Humanidade
– e em especial a Europa – atravessava época de grande prosperidade. Nada como
um conflito, portanto, e com as dimensões que o definiriam os contemporâneos
como a Grande Guerra, para pôr tudo a perder, substituindo o congraçamento pelos
ódios nacionais, as perspectivas de indefinido progresso pelas crises
econômicas e a miséria do pós-guerra.
A chamada Belle Époque não era a mítica Cuccagna (terra da fartura), mas se caracterizava por abertura e
tolerância recíproca. O que aconteceu com o Titanic
em 1912, ao afundar na madrugada de 15 de abril, na maior catástrofe marítima
da História (1517 pessoas afogadas) para alguns já pressagiava maus augúrios.
Pensar no luxo e esplendor do transatlântico diante do gritante despreparo para
um naufrágio (acidente que não pode ser esquecido no mar), é talvez uma
metáfora para a fragilidade da sociedade de então, em um mundo de riquezas e
até opulência, cercada por ameaças para as quais não estava preoparada.
Semelha
oportuno recordar que naquele período – assinalado por níveis de comércio e
desenvolvimento que ficariam inatingíveis por muito tempo – sem falar de toda a
burocracia do medo dos tempos atuais, que é imposta aos viajores, não existiam
limitações para as viagens, além da precariedade das estradas. Pois os
viajantes de então – que se serviam do trem e dos navios – não precisavam de
passaporte!
Estavam
livres, portanto, da burocracia dos vistos e de todas as demais maçadas que o
progresso subsequente lhes providenciaria.
Quanto às
causas da calamidade de l914-1918, não é aqui decerto o local para
aprofundá-las. Para mim, a deposição branca do Príncipe Otto von Bismarck em 1890 pelo novel imperador Guilherme
II foi o signo precursor da desgraça
vindoura. Premonitório o desenho da revista Punch,
com o Chanceler descendo a escada da nave Alemanha, sob as vistas displicentes
do jovem Imperador. O último Hohenzollern
misturava a vaidade pessoal com a inepta soberba dos neófitos. Custou-lhe tempo
para desfazer a tapeçaria de alianças que o unificador da Alemanha sob a
Prússia tecera com arte e diplomacia.
Mas ao cabo, o Kaiser lá chegaria, enquanto prometia às suas tropas que estariam
de volta ao lar germânico quando caísse a folhagem (daheim wenn das Laub fällt).
Dessarte, a ambiguidade de Edward Grey,
Secretário do Exterior de Sua Majestade Britânica, foi apenas umas das peças na
engrenagem maldita. Engrenagem esta que Guilherme II, como aprendiz de
feiticeiro, saberia desencadear para infortúnio de tantos e, sobretudo, do
Século XX, que entraria nos decênios subsequentes na marcha batida da loucura,
de que seria o principal causador um cabo austríaco...
Com vistas,
no entanto, a dar melhor impressão para a comunidade internacional, gospodin Putin levantou a proibição
antes estabelecida contra quaisquer manifestações de protesto. Posto que exista
enorme diferença entre as manifestações pacíficas e as explosões de
homens-bomba, os regimes autoritários têm o vezo de desconhecê-los, e até de
aplicar a reuniões pacíficas de protesto o pesado tratamento com que as
ditaduras distinguem os seus opositores.
Obrigada pelo
Comitê Olímpico Internacional (COI) a
reservar espaço para demonstrações de dissenso (nas olimpíadas de Beijing, de
2008), a China cumpriu à risca a regra, só que no espaço vazio não admitiu
qualquer manifestação, além de acossar e até prender os grupos de protesto
(pelo simples fato de requererem a necessária autorização para externar a
respectiva opinião).
A propósito
do decreto de Putin, disse Tanya Lokshina,
representante russa da Human Rights Watch[1]: ‘o afrouxamento
da proibição faz parte do esforço do governo russo em convencer os críticos de
que é uma democracia, em que se respeita, dentro de limites razoáveis, a
liberdade de expressão’. Lokshina, no entanto,
acrescenta: ‘Sugiro que não se
deixem convencer tão facilmente’.
Não
surpreende, outrossim, que haja discrepância entre as declarações otimistas de
Yakunin, presidente das Ferrovias russas, e que conectou os sítios olímpicos
com Sochi. Para ele, faltam apenas ‘alguns detalhes’ nos preparativos, embora
alguns locais não estejam prontos, como o estádio principal e o trampolim para
as provas de esqui (cuja construção foi marcada por uma série de escândalos
financeiros).
O Inferno de Cristina Kirchner
Por vezes,
quem não está habituado a esse percalço do subdesenvolvimento não situa
corretamente os inúmeros dissabores trazidos pelo apagão. Os incautos, que só
enfrentaram o problema de forma superficial, pensam que implique apenas no
desconforto de ficar preso em elevador ou de padecer de canícula, pela falta de
ar condicionado.
No vasto
mundo subdesenvolvido, a falta de luz e de energia ataca mais fundo a população,
que se vê privada das benesses da geladeira (depois de 24 horas sem corrente
elétrica todos os alimentos têm de ser jogados fora). Assim, o desconforto da
falta de ar condicionado – e de subir ou descer escadas de edifício, é problema menor (se o infeliz não ficar preso
em elevador escuro, e sem qualquer ventilação: não há melhor exame prático para
saber se alguém sofre de claustrofobia).
A reação
da senõra viuda de Kirchner se ateve
ao respeito exclusivo da privacidade de seus infelizes concidadãos. É bem
verdade que não havia tevê ligada para ouvi-la, mas será que uma palavra de
conforto e de alguma participação emotiva não caberia? A onda de calor foi,
decerto, grande: mais de 30º por cinco dias consecutivos. Se para nós
brasileiros não é coisa de assustar, para os argentinos, de clima temperado, terá
sido uma situação difícil.
O pior estava
na previsibilidade dos blecautes. Uma longa série de secretários de energia
alertou sobre o colapso do sistema. E, nesse contexto, o verdadeiro culpado
pela crise é o populismo tarifário do governo. Por falar em bondades do governo, será que o
comportamento da administração de Cristina Kirchner, que oferece subsídios ao consumidor, mas não deixa margem para
investimento de parte das distribuidoras energéticas, será tão solitário e
excepcional assim, em termos de América do Sul?...
(Fontes: O Globo; Folha de S. Paulo; The New York Times; VEJA; Der Spiegel)
[1] Vigia de Direitos Humanos. Diretores dessa NGO foram sumariamente expulsos da Venezuela (no governo do finado Hugo Chávez) em vôo para o Brasil, pelo
‘crime’ de registrar as inúmeras infrações aos direitos humanos do governo de
Caracas.
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