sábado, 24 de janeiro de 2015

Putin volta a atacar

                                        

        Só um tolo poderia confiar na promessa de Vladimir Putin, como garante do cessar-fogo de setembro de 2014, firmado em Minsk, na Bielo-Rússia. Mas poucos poderiam imaginar que a luz verde seria dada em pleno inverno ucraniano, que não tem a clemência como norma.

         Aleksandr Zakharchenko, o quisling que se intitula líder da chamada República Popular de Donetsk, na Ucrânia oriental, declarou que o seu ‘exército’ atacará. “De nosso lado, não faremos esforço de falar sobre o cessar-fogo. Agora vamos observar como Kiev reage. Kiev não entende que nós podemos atacar em três direções ao mesmo tempo.”

         Atrás da empáfia de Zakharchenko, está a ordem do presidente Putin de retomar a guerra no leste. Terá sentido que a população russa, a despeito da crise, da desvalorização do rublo e das sanções, não desdenhe a guerra?  Sua popularidade não cresceu quando os soldadinhos verdes, sem marcas na farda, se apossaram, ilegalmente e em clima de festa, da Crimeia, que fora incorporada na Ucrânia pelo Secretário-Geral do PCUS, Nikita Kruchev, em 1954?

         Assim, no entender do ex-dirigente do KGB, a medicação adequada é mais guerra.

         Com a permeabilidade da longa fronteira ucraniana no leste, um número imprecisado de ‘voluntários’ russos penetrou adentro dos campos nevados da região em torno de Donetsk. Já se tornou axioma nessa guerra não-declarada que toda vez que as forças rebeldes se acham em dificuldade diante do exército regular da Ucrânia, gospodin Vladimir Putin cuida de reforçá-las com homens (pudicamente não portam insígnias da Federação Russa), e equipamento pesado de artilharia.

         O Ocidente a tudo assiste e, por ora, muito pouco faz. O conflito com a Rússia nuclear não deve decerto pôr a Humanidade em perigo, mas há limites para a inação diante desse imperialismo com cinismo hitlerista.

         Com o tesouro enfraquecido pela vertiginosa queda na cotação internacional do barril de petróleo, e o próprio rublo colocado sob cuidados de emergência,  o senhor do Kremlin pensa transformar fraqueza em força, atacando a vizinha Ucrânia, como se recursos tivera para mais uma expedição de conquista.

        O Ocidente e os Estados Unidos, em particular, na qualidade de seu líder, têm duas opções pela frente: ou adotam a postura da Presidente Dilma Rousseff, que declarou não ser a Ucrânia problema para o Brasil, ou apoiam o Presidente Petro Poroshenko, e tratam de não tornar a vida demasiado fácil para  o Presidente Putin.

        Como sugestões de ação, cuidar da porosidade extrema das fronteiras orientais, estruturar melhor as forças do exército ucraniano e manter contato com os finlandeses, que tanto conhecimento já demonstraram nos combates invernais. Além disso, o Presidente Barack Obama poderá pensar em mais medidas contra esse poder que apoda de regional, sobretudo as sanções pontuais, com potencialidade acrescida de incômodo para o erário russo, que não atravessa a sua melhor fase.

        O imperialismo agressivo, aquele que arranca pela força terras dos próprios vizinhos, não é infelizmente por ora o que deveria ser, criatura anacrônica, um pária nas relações internacionais.

        Pois se deve sê-lo, não será por olhar para o outro lado, como é tendência ocidental, nem tampouco, na contramão da respectiva tradição diplomática, como vem sendo a deplorável atitude do governo de Dilma Rousseff – que tem envergonhado pelo seu míope oportunismo, além de sólida ignorância diplomática, a tricentenária tradição da diplomacia brasileira, com o precursor Alexandre de Gusmão no Tratado de Madrid (1750), e o patrono Barão do Rio Branco, com o respeito aos tratados e a diplomacia de Estado, encimada  pelas vitórias arbitrais que consolidaram as nossas fronteiras. Por não balançar no mar da política partidária e das alianças de ocasião, a diplomacia do Itamaraty marcou presença e colheu respeito através dos séculos.

       O axioma latino já nos ensina que a Paz não é objetivo inatingível mas deve ser preparada por disposição que confronte quem se demonstre inimigo do Direito das gentes.

( Fonte:  The New York Times ) 

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