sábado, 10 de janeiro de 2015

Paraíso dos Bandidos ?


                                                 

        “O que mais me dói é pensar que daqui a
        alguns dias a história dele será esquecida por

        muitos. E o crime esquecido pelas autoridades.”

       

                         Mais um brutal assassínio em Botafogo, na rua General Severiano. Os roubos  estão na ordem do dia. A falta de policiamento é a regra. Uma  lojista resumiu, em parágrafo lapidar, tanto a displicência das autoridades, quanto as facilidades de que os bandidos dispõem:

                         Ladrões armados sempre agem por aqui.  Na última vez, um rapaz assaltou uma aluna da UFRJ, ordenou que   .
                                   ela fosse embora e permaneceu calmamente no ponto, até embarcar em ônibus que ía para a Central. Os bandidos          

                                   se aproveitam da má iluminação, e não há policiamento. Nesse local, roubos fazem parte da rotina.”

                                

                                A regra aplicada pelos marginais, com o total menosprezo da vítima – qualquer que seja a sua condição, é o contraponto da incúria em termos de segurança. Os bandidos, ao  parecer, gozam de imunidade: tanto da população, que nada faz – como no caso do assaltante que fica na fila da condução, como se fosse um passageiro como os outros -, quanto dos PMs., que só costumam aparecer em praias frequentadas por turistas.

                        A amarga e incontestável frase da mãe do jovem morto reflete triste realidade. E a realidade está no desânimo de D. Mausy Schomaker, genitora de Alex Schomaker Bastos, de 23 anos, universitário, baleado três vezes, ao reagir a assalto em ponto de ônibus da rua General Severiano, em Botafogo, quase em frente a uma das entradas do campus na universidade da Praia Vermelha. Alex tinha 23 anos e estava determinado a descobrir a cura de doenças raras.  Brilhante, aprovado em primeiro lugar no vestibular para a Faculdade de Biologia da UFRJ, iria se formar nesta segunda-feira e estudava para a prova do mestrado na Universidade. Além disso, estava prestes a fazer o concurso para o Pedro II e já planejava doutorado na Finlândia, onde estudaria o mapeamento genético de doenças degenerativas.

                        Pobre Alex!  Não sabia que o seu ideal seria brutalmente escarnecido e lançado ao chão, na reação de um grupo de bandidos, que vivem do saqueio e da violência.

                       Nessa sociedade de meliantes, não há respeito pelo semelhante, tampouco existem atenuantes. O que vigora é a lei da selva, que grassa por toda parte na cruel impiedade – a mesma que matou a jovem que voltava do feérico réveillon de Copacabana e que já avisara ao pai inquieto que estava quase em casa.

                       O mantra das sisudas autoridades não varia. A situação preocupa e providências serão tomadas. Encarecem, no entanto, a compreensão do público.

                       Que compreensão é esta, onde se sucedem as mortes e em que os meliantes ditam a lei? Não há segurança em ruas e logradouros vazios e mal-iluminados, na aparência apenas povoados por vultos que se esgueiram – ou até se pavoneiam de dia – à cata das presas da vez, sobre quem aplicam  a pena de morte – que os tribunais não aplicam – deixando aos togados a determinação das progressões de pena, que diminuem caritativas o tempo de prisão do assaltante ou homicida.
                       O Brasil vem a ser estranho país. Os bandidos, nos logradouros públicos, decretam a morte para os infelizes (como a jovem do réveillon e o estudante da UFRJ) que acenam uma reação. Por sua vez,  a  polícia se distingue pela ausência, e quando os marginais são presos, julgados e condenados, podem esperar uma rápida aplicação da doutrina de progressão da pena, estabelecida pela Corte Suprema. Assim, o decurso da pena fica muita vez reduzido a um terço.
 
                       Assim, o nosso país, além de exibir avançada doutrina no campo das progressões de pena - como a sociedade verificou nas reduções das penas aplicadas no juízo da Ação Penal 470 (mensalão) - tem prisões em que o Ministro da Justiça preferiria morrer a ser aí encarcerado e que ora justificam a denegação da extradição de nacionais brasileiros sob o argumento das condições que nelas prevalecem.   

 

( Fonte:  O  Globo )

 

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