sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Palavra de Papa Francisco


                                        

           O Papa Francisco, em boa hora eleito para suceder ao pontífice emérito, Bento XVI, mais uma vez vem a público para trazer-nos não só o próprio bom senso, mas também a respectiva coragem.

           Não é que o Pontífice não teme pôr a mão em vespeiro, e dar a sua opinião sobranceira, em área convulsionada, em que muitos preferem manter silêncio?

           O que disse o Santo Padre? A bordo do avião pontifício, a exemplo da entrevista à imprensa que concedera ao retornar da visita ao Brasil, frisou: “Matar em nome de Deus é uma aberração, mas a liberdade de expressão não dá o direito de insultar a fé do próximo. Acredito que tanto a liberdade religiosa quanto a de expressão são direitos humanos fundamentais. Todos têm não apenas o direito, mas a obrigação de dizerem o que pensam pelo bem comum. Mas podemos fazer isto sem ofender.”

          E para contextualizar a situação, não hesitou em dar um jocoso exemplo próprio: “Se meu bom amigo, o doutor Gasparian (assessor pontifício para as viagens) xingar minha mãe, pode esperar que levará um soco. É normal. Você não pode provocar, insultar, debochar da fé dos outros.”

          Sua Santidade não trepidou, inclusive, em tocar em tema pessoal e delicado.  “Estou nas mãos de Deus. Vocês sabem que tenho o defeito de ser imprudente (sic). Às vezes, me pergunto se isso (atentado) vai acontecer.”

          Assim, enquanto o Sumo Pontífice criticava de certa forma o “Charlie Hebdo”, o Presidente François Hollande, em longo discurso, durante visita ao Instituto do Mundo Árabe, em Paris, deu mostra evidente no sentido de apaziguar os ânimos.  Para o Presidente, não se pode confundir terrorismo e Islã, e os atos antimuçulmanos devem ser punidos.

         “Os muçulmanos são as primeiras vítimas do fanatismo e fundamentalismo. O Islã é compatível com a democracia. Os franceses de fé muçulmana devem ser protegidos, respeitados, do mesmo modo que eles devem respeitar a República.”

          Papa Francisco trouxe de volta para a Igreja o espírito joanino, de que carecia a Igreja desde muito, e notadamente com a partida do Papa Bom, João XXIII, na sua morte dita pontifical, a três de junho de 1963. Nunca o falecimento de um Santo Padre, hoje canonizado, despertara tanto genuíno pesar, não só na comunidade católica, mas também nos ditos irmãos separados, e além disso no mundo político, de que não se excluíu a liderança do então mundo comunista, na pessoa de Nikita Kruchev.   

          Papa Francisco, pela sua espontaneidade, simplicidade e coragem, trouxe de volta esse espírito de congraçamento e união, que falta nos fazia.

          Nesse sentido, os fiéis – e os seus admiradores, que certamente incluem outros credos – devem instar Sua Santidade que no interesse menos dele do que da ampla comunidade a que preside – tenha presente que em tudo o excesso pode ser perigoso e até pernicioso.  Não deveria, por conseguinte, exagerar da imprudência, na medida em que tal postura venha a ser contraproducente para a boa realização da respectiva  pregação e obras para o mundo ecumênico.

 

( Fonte:  O  Globo )

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