quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Misturando etapas ?


 

            O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), essa hiperestrutura em termos de aferição de conhecimento do universo discente do ensino médio – que pretende equiparar-nos a países europeus (França: bacalaureato) e aos Estados Unidos (SAT) – pode mostrar disparidades inquietantes entre avanços na informática defronte de um corpo estudantil que pode refletir o atraso e  lacunas no ensino público.

            Dadas as dimensões do continente Brasil e os conhecidos desníveis nos colégios e corpos didáticos deste ensino – a baixa remuneração em muitos deles, as diferenças em termos de assiduidade de professores, o grevismo (que não sói ser compensado adequadamente) – não é de estranhar que haja variações de monta nos cômputos regionais.

            Partindo da redação, que representa integração do conhecimento discursivo, e a capacidade de expressar-se sobre um tema produzido a esmo, os resultados da composição espelham o baixíssimo nível de tal capacidade. Assim, só 250 candidatos dentre 5,9 milhões alcançou a nota máxima (1000). Por outro lado, 529 mil tiveram nota zero!

            A queda de 9,7% na nota média da redação do Enem em relação à edição anterior se acende os avisos no governo e especialistas, é  de atribuir-se à progressiva queda em um índice já baixo de leitura, mas também à pouca familiaridade com o tópico selecionado – publicidade infantil.

            Houve também queda (7,3%) na avaliação da matemática.  Esses dois resultados ruins produziram diminuição de 1% na nota geral.

            Em relação a 2013 houve baixa em redação e matemática, e alça em ciências humanas e linguagens e suas ciências. Por sua vez, o tópico ciências da natureza se manteve praticamente na média, com ligeiro acréscimo.

            Por isso, a despeito das fortes quedas em redação e matemática, as autoridades tentaram minimizar a queda, dada a circunstância da média achar-se praticamente estável, com 1% na margem de erro.

            Refletindo as disparidades econômicas na Federação, o Sudeste apresenta os mais altos níveis nas cinco matérias, e o Norte, seguido do Nordeste, o mais baixo desempenho. Como tal reflete o nível de renda e desenvolvimento econômico no Brasil, o Conselheiro Acácio já diria que, não obstante o ensino mereça cuidados em todas as regiões, aquelas de menor desenvolvimento carecem de maiores.

            O mais relevante no capítulo é que avanços na informática não nos façam esquecer  as enormes lacunas existentes, como o exame síntese do Enem – que é a redação – o exibiu sem piedade. O único aspecto a ser relevado, contudo, foi a seleção do tema, que se afigura um tanto esotérico para o projeto, e pode por isso haver contribuído residualmente para imagem mais distorcida.

 

  ( Fonte:  O Globo )

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