domingo, 25 de janeiro de 2015

Colcha de Retalhos C 3

                              

 Dilma mudou? 


           Talvez seja cedo para emitir opinião, mas a impressão que se tem é de que, no essencial, a presidente pode adotar uma nova postura, embora no estilo e na atitude política geral, a  tendência é seguir a práxis do primeiro mandato.

           Assim a farra ministerial continua, e a sigla partidária tem precedência sobre a qualidade do encarregado. Dá-se precedência à quantidade sobre a qualidade, como se a inanidade do presente gabinete fosse preferível ao mérito.

           A desculpa está nos votos no Congresso. Mas o peso desse gabinete e o seu nível sobrecarregam a Nação e pouco prometem em termos de realizações. O provável é que tenhamos mais do mesmo, vale dizer, abuso na mediocridade e na política com p minúsculo. Dados os precedentes, quem se aventura excluir de plano ulteriores escândalos de corrupção?

           Por outro lado, o futuro do governo está no Ministério da Fazenda. Joaquim Levy tem o compromisso de resgatar as loucuras nas finanças e na senda fiscal do primeiro mandato.

           O Brasil sabe quem trouxe a inflação de volta. Levy tem a missão de pôr as coisas no lugar. Não há dúvida de  que a economia se arrasta e a carestia nos ronda. Se a presidenta tiver juízo, conterá o próprio temperamento – já houve recaída no Planejamento – e deixará a Fazenda por conta de quem entende do riscado. Senão...

 
Nomeações pétreas?  

 
         Interessante a coluna de Bernardo Mello Franco ‘Os intocáveis’, na Folha de 23 de janeiro. O Senador Renan Calheiros, cuja última eleição para a presidência do Senado, pelos seus antecedentes, despertara viva reação popular em Brasília, se hoje, graças ao rio do Letes atravessa período de tranquilidade – embora tenha caído na mira da Operação Lava Jato – mostra igualmente quão durável pode ser indicação sua.

        Como informa a coluna, em junho de 2003, primeiro ano de Lula, o Senador indicou o ex-senador cearense Sérgio Machado para o comando da Transpetro. Doze anos já passaram, Lula e os ministros mudaram, mas o afilhado de Renan, não. 

        Desde outubro passado, delator do esquema Petrolão, Paulo Roberto Costa, disse à Justiça Federal que recebeu R$ 500 mil das mãos dele. Informada, Dilma disse que o demitiria. Renan e os chefes do PMDB reagiram com fúria e Dilma, para variar, cedeu. Entrando em licença, até hoje Sérgio Machado não se dignou dizer se renuncia.

        Entrementes, Dilma nada faz. Espera acaso que o ‘intocável’ se digne renunciar?

 

A incrível farra municipal



         Se não são os movimentos populares, que, por acaso, acampem diante da Gaiola de Ouro (Câmara Municipal do Rio de Janeiro), ou a ação de um punhado de edis – que se contam, em geral, nos dedos de u’a mão – o prefeito Eduardo Paes parece movido por húbris olímpica. Não há outra explicação para o aumento em cargos na cúpula municipal.

         O Globo coteja o primeiro escalão da Prefeitura com o ministério de Dilma Rousseff. A Presidenta tem um gabinete inflado de 39 nomes, e Eduardo Paes nomeia por decreto municipal 64 cargos de primeiro escalão para o Rio de Janeiro. Ter mais de 25 postos de primeiro escalão do que o ministério de Dilma – que já é havido por inchado – pode até que  encontre justificação pelos leguleios de Sua Senhoria, mas não tem qualquer apoio no bom senso, que deveria ser a cartilha de todo bom político, seja federal, estadual ou municipal.

O Racionamento Anunciado

        Em política, manda a sensatez que se deva evitar, na medida do possível, imperativos categóricos negativos. Reporto-me, como é óbvio, àquele campo de atividade que, por maior que seja o poder da excelência, não se acha exatamente circunscrito à vontade do alto e poderoso senhor (ou senhora).

       Racionamento, como o segundo governo de Dilma Rousseff tem presente sempre mais, não é aquele espantalho que a então candidata ‘mulher do Lula’ afastara com sobranceira empáfia em debate televisivo contra o candidato José Serra.

       Eliane Cantanhêde, a ex-colunista da Folha e agora com janela mais ampla no Estadão, trata, com a propriedade habitual, da questão energética.

        Para resumir, o governo de Dilma Rousseff aboliu do dicionário da República os termos ‘apagão’ e ‘racionamento’. Os fatos, no entanto, brigam com isso. “Eduardo Braga botou vagamente a culpa numa tal ‘falha técnica ou humana’, e apelou para ‘ Deus é brasileiro, vai dar um jeito de mandar frio e chuvas e salvar a Pátria’. Por sua vez o técnico e diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS), Hermes Chip faz a equação calorão mais aparelhos elétricos domésticos e daí o pico de consumo que o sistema não suportou. E por faltar, tem de ser desligado preventivamente.

       Como sumariza a Cantanhêde: “houve um apagão para evitar o risco de um apagão”.

       Dormir em berço esplêndido é coisa de hino, mas não é aconselhável como política. No primeiro mandato de Dilma, a craque em energia, muitas obras deixaram de ser feitas em termos de conexão de sistema, como a ligação do parque eólico que talvez seja o fio pendente mais embaraçante. Mas há otras cositas más, que não atendidas forçam o apelo in extremis a Cristina de Kirchner.

 

( Fontes:  O  Globo; Folha de S.Paulo; Estado de S. Paulo )  

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