terça-feira, 7 de outubro de 2014

Será hora de atirar pedras em Joaquim ?

                           

           O rancor não é sentimento cristão. Essa reação costuma aninhar-se em corações pequenos, talvez mesquinhos. Decerto é humana, mas em geral  costuma arreganhar os dentes quando o suposto causador do agravo ou dano se acha na planície, e não estaria mais em condições de causar maior dano ao ofendido.

           Não conheço pessoalmente o ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal. Primeiro negro a integrar a nossa mais alta Corte, teve soberba atuação no caso da Ação Penal 470, o famoso Mensalão.  Estudou a fundo a questão, dominou as intricâncias do processo e adotou teoria inovadora para levar a cabo este marco na jurisprudência do Brasil.

          Tal parecer altamente favorável ao Ministro Joaquim Barbosa lhe é atribuído por Mestre Joaquim Falcão.

          Julgo, outrossim, oportuna a iniciativa do Presidente Luiz Inacio Lula da Silva em indicar-lhe o nome para o Supremo.

          Desde muito, o Brasil carece de que o negro seja chamado a desempenhar trabalhos também nos altos cargos da República.

          Mas afora o conhecimento, a missão levada a termo, e o desempenho sobranceiro à testa do Supremo a que ascendeu ao tocar-lhe a vez, o Ministro Joaquim Barbosa pode frequentar locais públicos, aonde encontrará mostras de respeito e admiração que não  são votadas com igual unanimidade junto a personalidades de outros grupos que atuem na área jurídica.

           Ao contrário de muitos, a cor da pele representou para Joaquim Barbosa fonte nem sempre de lembranças prazerosas. Ao tentar por exemplo ingressar na carreira diplomática, a sua pretensão foi denegada de forma sinuosa e pouco clara, eis que o reprovaram em função de entrevista da qual o ministério não guardou qualquer documentação.

            Não negarei, por isso, que Joaquim Barbosa seja, por vezes, pouco diplomático. A vida, no entanto, se lhe proporcionou – e por mérito próprio – ser ministro do Supremo e notabilizar-se na condução de  grande e relevante processo, também lhe terá apresentado obstáculos – que são desafortunadamente comuns para muitos de seus compatriotas. Não há negar também que a sua natureza, pelas pedras no caminho,  pode induzi-lo a reações havidas como fortes e quiçá ríspidas por muitos daqueles que, por motivos profissionais ou não, com ele privaram ou eventualmente discordaram de suas decisões.

            Quando alguém volta à planície, será por acaso ocasião de valer-se de privilégios corporativos e que tendem, justa ou injustamente, a ser confundidos com ataques furtivos, e assim tentar golpeá-lo por rancores antes sopitados, e que de uma forma um tanto mofina – reminiscente das antigas inacessíveis corporações que a Revolução Francesa varreu – deseja negar a licença que lhe é devida pelos estudos e exames prestados?

            É  ato no mínimo discutível, que, SMJ, não dignifica quem dele pretende valer-se. Sejamos generosos e não instrumentalizemos esses expedientes menores, que se alimentam de um prato frio sem muitas calorias.

              Respeitemos o direito ao trabalho. Joaquim Barbosa, associando-se à grei dos advogados, está disposto pelo visto a labutar na planície jurídica. Nessa convivência poderá até fazer novos amigos e respeitar outros colegas.

              É o conselho de quem não pretende ingressar na OAB, apesar de haver concluído o curso da velha Faculdade Nacional de Direito, na Moncorvo filho, nos idos de dezembro de 1960.

 

( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )                                      

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