sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Fenômeno esquisito e inconsistente ?

                            

          Ao ensejo da presente eleição, é natural que surjam as teorias mais diversas na tentativa de explicar os rumos do eleitorado brasileiro.

          Agride, no entanto, ao bom senso que se procure rotular as manifestações de junho de 2013 como um fenômeno “esquisito e inconsistente”.

          Por que o cientista social da UFMG Fabio Wanderley dos Reis investe contra as passeatas do passe-livre de junho de 2013 ? Com efeito, não considera ele uma contradição a possível continuidade do governo petista em tempos de pedidos por mudança, como nas citadas manifestações de junho de 2013.

          Chamá-lo de fenômeno “esquisito e inconsistente” é uma agressão não só ao bom senso, mas também semelha indicar total desconhecimento de sua repercussão em grande parte das principais cidades brasileiras, além do desafio que colocou para as autoridades executivas e legislativas. Estas, por sua vez, temerosas diante de seus questionamentos e cobranças, não duvidaram da seriedade de  suas colocações.

          Atarantada pelo desafio, a Presidenta foi a São Paulo consultar o seu guru a respeito da reforma política e de nova Constituição. O Congresso achou necessário retirar das gavetas as emendas aos respectivos regimentos, suprimindo restrições corporativas à votação da perda do mandato por infringir o decoro parlamentar, para tanto abolindo o voto secreto.

          Esse movimento “esquisito e inconsistente” provocou forte reação da força pública em São Paulo. Com os habituais excessos na repressão, jornalistas sofreram lesões corporais, a começar pelo emprego abusivo da violência, com tiros de balas de borracha, que lesionaram a visão de jornalista da Folha de S. Paulo, que ali estava no exercício de suas funções constitucionais de informar a sociedade.

         Ainda é cedo para que se disponha de estudo abrangente do sentir e das consequências das passeatas pacíficas do movimento de junho na Paulicéia, que a exemplo de tantas outras manifestações populares de lá oriundas se estenderia a inúmeras  cidades brasileiras, enfatizando a respectiva oportunidade e pertinência no momento nacional.

        Na verdade, o imediatismo de sua difusão mostrou o quanto de autêntico, apropriado e necessário havia nessas passeatas de gente jovem. E uma de suas características mais relevantes está na recusa de serem instrumentalizadas pelas ávidas bandeiras dos partidos políticos. O caráter apartidário do movimento, que lhe evidencia a força e abrangência, é também sinalização do desprestígio desses partidos, os quais mergulhando no toma lá – dá cá de suas disputas, perderam a conexão com a realidade nacional e suas prioridades.

         Não são muitos os movimentos no passado que pensaram o Brasil de forma tão funda e autêntica. A maneira com que as passeatas de junho repercutiram nesses brasis é a prova mais cabal de que elas nada tem de “esquisito e inconsistente”. Ainda hoje elas ecoam e demandam respeito.

 

( Fonte subsidiária:  O  Globo )

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