segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A reeleição de Dilma Rousseff


                                

        Na mais acirrada e apertada disputa da história pela presidência da república, sob a Constituição de cinco de outubro de 1988, Dilma Rousseff (PT) obteve 51,64 % dos votos válidos – 54,501 milhões de eleitores – e  Aécio Neves (PSDB) colheu 48, 36% dos sufrágios, seja, 51,041 milhões de eleitores.

       Com isso, o Partido dos Trabalhadores deverá estender a manutenção do poder por dezesseis anos. Não é coisa de somenos, eis que a caneta petista continuará na silenciosa mas abrangente tarefa de aparelhamento do Estado.

       Tão longa extensão do mando começa a colocá-lo na esfera do antigo Partido Revolucionário Institucional (PRI) do México. Decerto, as condições são diversas e a democracia tem sido, como regra, aqui respeitada. No entanto, o número de pessoas que dependem de tal supremacia tende a crescer seja de modo natural, seja de forma vegetativa.

       Esse predomínio, pela sua inchação, pode constituir um desafio embutido à própria instituição democrática.

       Em tal sentido, as tendências autoritárias de alas do PT se farão sentir, e a presidente Dilma Rousseff carece de mostrar à sociedade que não é pelas vias enganosas de rolos compressores e de pressões de segmentos não comprometidos com a equidade da democracia que se logrará continuar no silente trabalho democrático, em que o respeito aos direitos e, em especial, ao espírito da Constituição Cidadã se afirme na política.

       Teria preferido que a presidente-eleita houvesse demonstrado grandeza ao estender a mão para o seu rival. Se ele cumpriu a norma não-escrita da boa convivência democrática, não se diminuiria, como vencedora de uma porfia renhida, mas de resultado indiscutível, se correspondesse ao gesto do adversário que foi também ator da disputa ‘mais apertada da história’, e que colheu a preferência de quase metade do corpo eleitoral brasileiro.

       Com efeito, não se apequenaria se mostrasse a nobreza de aceitar o cumprimento e de criar condições para que continue o diálogo democrático. Afinal de contas, por trás da gritaria da militância, persiste a presença de uma quase metade da Nação que optou pelo estandarte rival.

       A função precípua das lideranças inclui, uma vez contados os sufrágios e sacramentada a lisura respectiva, mostrar que por cima das rivalidades sectárias está o interesse do Brasil.

       Nunca é tarde para um gesto largo e sobranceiro, em que a Nação esteja acima das quizílias partidárias.

       Não será desembrulhando um velho pacote de reforma política decorrente do movimento de junho de 2013, com incluso plebiscito – ambos já superados por decisões do Congresso – que se adiantará a questão do entendimento nacional.

      Como a palavra indica, ele não decorre de decisões de Palácio, mas sim de amplo diálogo, que pressupõe a participação daqueles que são os seus dois principais atores.

      Não estão lá por acaso, mas por magna conjunção de votos (cerca de 105,5 milhões).

      A democracia também está aí. Afinal, que mal faz conversar com a outra metade ?

 

(Fontes subsidiárias: Site de O Globo, Rede Globo, Folha de S. Paulo)    

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