domingo, 26 de outubro de 2014

Colcha de Retalhos B 41

                         

A batalha em Kobani


      A luta nesta cidade síria, com população de maioria curda, já se estende por quarenta dias. Submetida a contínuo bombardeio e cerco do Isis, o movimento do islamismo sunita absolutista, talvez o mais surpreendente é que Kobani não haja caído diante desta agressão, dada a indiferença inicial do governo turco de Recep Erdogan. Dada a pressão internacional, essa omissão turca na defesa da população de Kobani (de maioria curda) só poderia levantar suspicácias sobre as reais motivações do Presidente Erdogan.

      É conhecida a maneira com que a minoria curda é tratada pelos governos turcos e o de Erdogan – que já está há mais de dez anos no poder – não difere desse modelo, apesar de propostas recentes de melhores condições de vida para essa relevante minoria.

      O número de mortes ascende a 815, e não surpreende que a maior parte delas seja de curdos e de militantes do Isis.

       

Queda  nas  cotações  do petróleo

 
       Em nota recente neste blog já me ocupei da queda nas cotações do petróleo e o que isto significa para a Venezuela de Nicolás Maduro (V.O Modelo Chávez de exportação – in Colcha, de 19.10.14). A crise ligada a essa importante commodity é muito mais ampla de o que se previa, e a baixa no preço do petróleo - queda de 30% desde junho p.p., depois de estabilidade de quatro anos (US$ 110.00) -  pode ser resultante de fatores mais duradouros (cotação atual em torno de US$ 70.00).

       Os Estados Unidos se estão dissociando da sua dependência do ouro negro externo, o que pode ser muito bom para Tio Sam, mas não o é para os grandes produtores, como Rússia, Venezuela e Irã. Quanto à Arábia Saudita que é a maior deles, talvez a sua longa permanência na dianteira e a sua aliança com Washington, tendam a criar-lhe melhores condições de arrostar o desafio.

       De o que essa queda significa para Caracas, já se sabe pela nota de domingo passado.

         A situação na Federação Russa de Vladimir Putin de séria pode tornar-se dramática. Permito-me, a respeito, citar o comentário de O Globo, publicado a 23 do corrente: A queda das cotações do barril de petróleo “põe em situação difícil países da petrocracia, como Rússia, Venezuela e Irã, em que o poder é altamente dependente da receita dos hidrocarbonetos.

“Os últimos indicadores mostram que a economia russa estagnou ou mesmo se contraíu em setembro, enquanto o rublo teve desvalorização recorde frente ao dólar e ao euro, contribuindo para a elevação da inflação via encarecimento de produtos importados. Dados oficiais mostram que a inflação ao consumidor atingiu taxa anualizada de 8,3% no terceiro trimestre, a mais elevada do ano. Isto obrigaria o banco central a considerar a quarta elevação dos juros neste ano. Apesar de dispor de amplo colchão de reservas cambiais acumuladas durante o período de bonança, a queda na receita e o efeito das sanções ocidentais, em função da questão ucraniana, criam situação delicada para o Presidente Putin. A exportação de óleo e gás responde por cerca de metade da receita do governo russo. A alternativa seria cortar gastos ou aumentar impostos – o que desgastaria o Kremlin. O risco é a Rússia se tornar mais imprevisível em todos os sentidos.”

            Por trás da factual frieza das informações acima, que são um resumo bastante veraz da situação em que se meteu a Rússia, percebe-se que a política imperialista de Vladimir V. Putin, se não tem os dias contados, vê diminuído drasticamente o seu potencial de agressão, eis que a situação econômico-financeira da Rússia não é mais comparável àquela anterior, onde o seu caixa não apresentava a vulnerabilidade que a sensível redução na potencialidade de sua economia não tem condições no momento de contra-arrestar.

           Se Petro Poroshenko, novel presidente da Ucrânia, e seus aliados ocidentais tiverem juízo e habilidade, a ‘crise ucraniana’ poderia ser resolvida a contento para Kiev, batendo-se nos instrumentos de  ferro do Kremlin enquanto estão maleáveis, e proporcionando-se uma saída honrosa para Putin. Até mesmo a questão da Crimeia poderia ser deixada em suspenso, como aqueles intrincados problemas internacionais que os negociadores internacionais preferem por vezes deixar dormitando entre parênteses. Ao invés de o que pensam alguns governantes, a agressão armada não é meio aceitável para a aquisição de território. A esse respeito, é mais do que aconselhável a leitura da nossa Constituição – inclusive para as autoridades brasileiras – eis que a República Federativa do Brasil se rege nas suas relações internacionais, segundo o artigo 4º, dentre outros, pelos princípios da autodeterminação dos povos (III), de não-intervenção (IV) e da solução pacífica dos conflitos (VII).    

           Nesse campo dos intentos de arrancar nacos da Ucrânia oriental, a firmeza daquela região muito ganharia com maior integração com o restante da Ucrânia, o que se poderia conseguir  com progressos no campo da cidadania, no combate à corrupção, e nas medidas tendentes a aumentar  a coesão no tecido social ucraniano oriental.

 

Denúncia da VEJA. Repercussões.

 

         O ministro do Tribunal Superior Eleitoral Admar Gonzaga – que, como assinala a Folha de S.Paulo (caderno Eleições, p. 5) foi advogado de Dilma durante a campanha de 2010 – decidiu censurar a revista VEJA impedindo-a de veicular publicidade em rádio, TV, outdoor e internet de sua edição desta semana, além de conceder direito de resposta ao PT contra a publicação. (O veto à publicidade foi determinado na sexta,24, a pedido da campanha de Dilma. Já a concessão do direito de resposta foi decidida em sessão extraordinária na noite de sábado, 25).  Como se sabe, a decisão é liminar e tem efeitos imediatos. Como ainda será julgada pela Corte – e será depois das eleições de hoje domingo – a resposta deve ser publicada de imediato no site da revista.)

            De que se trata? Segundo a VEJA, o doleiro Alberto Youssef disse à Polícia Federal e ao Ministério Público que Dilma e o ex-presidente Lula da Silva tinham conhecimento do esquema de corrupção na Petrobrás. Ambos negam e ameaçam ir à Justiça contra a revista.

            Assinale-se que para o ministro Admar Gonzaga, a publicidade da revista transformou-se em “publicidade eleitoral” em favor do presidenciável Aécio Neves.

             A respeito, o Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Domingos Meirelles considerou inconstitucional a decisão do TSE de vetar a publicidade da revista.  Para ele, a intervenção, além de extemporânea, “fere a liberdade de imprensa e agride o Estado de Direito”.

             Em comentário à parte, o caderno Eleições 2014 analisa em coluna de Nelson de Sá a reação da Globo – e notadamente do Jornal Nacional – perante a reportagem da Veja. Mantida em silêncio – malgrado a sua divulgação geral pela mídia e a internet – pela Globo, através de seus jornais de notícia, e pelo próprio Jornal Nacional -  a maior rede televisiva do país mudou de atitude com a pichação das paredes da Editora Abril, por um grupo de duzentas pessoas que atacou o prédio da Abril.

               Nesse contexto, durante o JN, foi afinal veiculada a denúncia da reportagem da revista Veja pela  TV Globo:

               “Segundo a ‘Veja’, durante interrogatório na Polícia Federal, o doleiro Alberto Youssef, perguntado sobre o nível de comprometimento de autoridades no esquema de corrupção na Petrobrás, afirmou que o Planalto sabia de tudo. ‘Mas quem no Planalto?’, perguntou o delegado. ‘Lula e Dilma’, respondeu.”

                Na sua análise do comportamento do Jornal Nacional e da própria Rede Globo, Nelson de Sá afirma: “Globo pautou sua cobertura pelo equilíbrio, ou talvez medo.”

 

 

( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo, CNN, New York Times )    

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