terça-feira, 30 de setembro de 2014

Trincheiras da Liberdade: Hong Kong


                        

          Colônia britânica até 1997, Hong Kong é hoje região administrativa especial na República Popular da China  que, com 7,1 milhão de habitantes, goza de situação excepcional em relação à RPC.
          Na parte continental, vige uma férrea ditadura.  O estado policial é enfatizado pela punição infligida a  Liu Xiabo, Prêmio Nobel da Paz (2010), condenado a onze anos de prisão no norte interiorano da China. Por isso, segundo um humorista sublinhou, a RPC é a única nação no Universo que tem um Prêmio Nobel preso! Ao ver-se a chamada Carta 2008, com as débeis e bem-comportadas reivindicações de direitos democráticos por Liu Xiaobo verifica-se o grande temor do estamento dirigente chinês diante da democracia. A sua esposa, Liu Xia se acha em virtual prisão domiciliar.

         Corre no ‘império do meio’ o boato que foi engavetado, por ordem dos gerarcas do poder, o resultado de  pesquisa de opinião que assinalava a desejada meta da ‘democracia’ e a sinalização do principal mal na China, i.e., a ‘corrupção’.  Isso mostra que o povo chinês não é burro, nem ignora os males da ditadura de partido a que está por infindas décadas  submetido.

          Como Hong Kong gozava de ampla democracia quando foi devolvido à China, estabeleceu-se  regime especial para a antiga colônia britânica.

          Apesar das concessões feitas, Beijing tem procurado ao longo dos anos aumentar o respectivo controle (através de prepostos), com a consequente redução das franquias democráticas.

         Por conseguinte, a China Continental tem envidado esforços continuados no sentido de cercear as liberdades em Hong Kong. Nesse sentido, o atual chefe do executivo local – Leung Chun-ying – foi eleito em 2012 com 689 votos (em um total de 1.200 eleitores)!

         Dadas as regalias democráticas que presidiram ao entendimento, esse estreitamento do colégio eleitoral  implica em descumprimento de tais condições. Por força disso, o líder de Hong Kong seria escolhido em 2017 por sufrágio universal. Essa disposição (de 2007) teve, no entanto,  o seu espírito democrático desvirtuado, eis que em agosto último Beijing determinou que somente os candidatos aprovados por um comitê eleitoral teriam os nomes nas cédulas de votação.

         Tal restrição autoritária  é inaceitável para os ativistas (pois quem indicaria os membros do dito comitê seria o governo de Beijing). As manifestações democráticas do ‘Occupy Central’ tem multitudinário apoio na população da região administrativa.

         Houve diversos confrontos com a polícia (41 feridos) e 78 detidos.  A Occupy Central, que é a organização pró-democracia mais importante da ilha, teve o termo respectivo bloqueado no Weibo (a versão chinesa do Twitter). Também o Instagram, que é usado pelos manifestantes para compartilhar imagens dos protestos,  sofreu igual censura de Beijing.

            No momento, os protestos pró-democracia em Hong Kong continuam crescendo. Depois de apelar para a repressão, o governo regional recuou, e retirou a polícia das ruas.  Em troca, o governo de Hong Kong pediu aos manifestantes “que liberem as ruas ocupadas o mais rápido possível, para dar passagem aos veículos emergenciais assim como restabelecer os serviços de transporte público.”  A solicitação, no entanto, foi ignorada.

           Existe a convicção entre os líderes da manifestação que somente através da pressão do número (em que está a força respectiva) se poderá obter a compreensão da autoridade central.

          Como não é de surpreender, os protestos maciços da população de Hong Kong tem recebido escassa atenção no resto da China. Com a respectiva aguda sensibilidade à ameaça democrática, o Governo de Beijing só divulga as condenações rituais às manifestações, pela autoridade regional (largamente superada pelos eventos).

          Por sua vez, a Casa Branca, através do porta-voz Josh Earnest, afirmou que os Estados Unidos apoiam  “o sufrágio universal e as aspirações do povo de Hong Kong”.

 

( fonte:  Folha de são Paulo)      

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