quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A Crise da Água

                                        

        Não deveria surpreender tanto assim que o Brasil e a região sudeste venham a sofrer de escassez de água.

        Zuenir Ventura, em O Globo de hoje, se ocupa dessa questão, na crônica ‘Um Tema Esquecido’.  Essa desatenção ao problema se reflete na própria omissão de qualquer referência pelos  principais candidatos.

        Faz tempo que São Paulo sofre com  a estiagem no Sistema Cantareira. Essa falta d’água obriga ao racionamento, com todos os seus inconvenientes.

        Por causa disso, como São Paulo e a bacía do Paraíba é partícipe no abastecimento hídrico do Rio de Janeiro, já se antecipa para o ano próximo a má notícia de que haverá menos água no Rio, com as previsíveis consequências.

        No passado, o Rio de Janeiro já sofreu de falta d’água, que era particularmente sentida entre Copacabana e Ipanema. Entre os anos cinquenta e sessenta, esta escassez foi atendida pela adutora do Guandu. Desde então, não houve grandes obras, e por isso esse problema pode voltar.

        Com o aquecimento global, se a extensão de gelo tende a diminuir, com a consequente elevação do nível dos oceanos (sem falar das geleiras do Himalaia), há muitas consequências ruins para as áreas ribeirinhas. Países estão destinados a desaparecer como as Ilhas Maldivas, sem falar de outros, que terão de recorrer a muito engenho e arte, como v.g. os Países Baixos.

         Esta é uma vertente da questão. As casas à beira mar deixarão de ser interessantes no sentido normal para, em certos casos, se tornarem interessantes na acepção que esse termo tem para os chineses.

          As gerações futuras imprecarão contra a desídia e a negligência de seus antepassados – no caso nós – por não termos atuado com  o empenho e a diligência que alguns países europeus têm demonstrado.

          Para quem lê e se interessa por quanto o bicho homem possa ser nocivo como principal agente do aquecimento global, é uma estória assaz triste e melancólica, eis que as conferências de alto nível hierárquico (mas de baixo nível de eficiência no combate ao efeito estufa) se assinalam por fracassos consistentes, resultado da falta de empenho de chefes de governo. Copenhague, por exemplo, foi uma delas, em que tanto Barack Obama, quanto os então líderes chineses não saíram bem na foto.

           Se os Estados Unidos e a República Popular da China tivessem tanta consciência ecológica, quanto muitos dos líderes europeus têm demonstrado, decerto estaríamos em melhor situação. No que nos diz respeito, com a eleição de Marina o Brasil disporia de quem no mais alto nível cuidaria de melhor defesa do nosso maior recurso natural - a hiléa amazônica. É devido a um alto nível de desmatamento naquela região que o fator pluviométrico nos tem aprontado tantas falsetas.

           Em matéria de estupidez ambiental – se permitem o termo – a desatenção com as matas ciliares poderia ser coibida. Ao retirar, essas matas que margeiam o litoral dos rios, os agricultores e eventuais moradores, seja pela ignorância, seja pela burrice retiram as defesas de suas terras. Daí as inundações calamitosas que Santa Catarina sofre, por ter a população da área abatido o anteparo natural contra as inundações fluviais. Outro exemplo dessa negligência está na área de Campos de Goytacazes. O rio Imbé vem da serra, mesmo em seu período de cheia, não invade, em geral, as margens, pela força da corrente, que se projeta para os baixios da área costeira, na Lagoa Feia. Sem embargo, por estarem as margens do rio na planície litorânea por inteiro desmatadas – não há sombra da antiga vegetação ciliar – os moradores da região têm amiúde de ver-se   com grandes enchentes, que lhes ocasionam muito prejuízo. Se tivessem cuidado de manter a proteção natural dos espaços ribeirinhos, sofreriam muito menos as suas terras e propriedades com as águas fluviais...

               O ambientalismo é uma maneira inteligente de preservar as respectivas culturas. Por outro lado, nas cidades, deveria existir consciência ecológica. É comum ver-se porteiros e serventes de prédio utilizarem mangueiras de pressão para a limpeza das calçadas e dos pátios. É uma atividade que dada a escassez do precioso líquido é tão estúpida, quanto criminosa.

                Até o presente, a autoridade pública municipal não demonstra maior interesse nesse campo, quando deveria ter.  É lamentável que não exista legislação a respeito, impondo multas pesadas aos condomínios que praticam tal tipo de limpeza. É mostra sem dúvida de falta de consciência ambiental, e a sua gravidade – pelo desperdício que ocasiona – deveria motivar medidas pontuais das autoridades competentes.

                A consciência ecológica começa também pelo bolso  do infrator.

 

( Fonte:  O  Globo )   

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