quarta-feira, 10 de setembro de 2014

É necessário um BC autônomo ?

                        
   

       A  propósito do anúncio de Marina que, se eleita, dará autonomia ao Banco Central, a publicidade de Dilma Rousseff na tevê preparou ataque à candidata do PSB que é um modelo de má-fé.
        Em primeiro lugar, o marqueteiro presume a ignorância do público-alvo. Para início de conversa, a ‘publicidade’ põe no mesmo saco Banco Central e banqueiros em geral.

       Nas principais economias mundiais – v.g., Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França – os bancos centrais gozam de autonomia do poder político. Nos Estados Unidos, por exemplo, acaba de ser nomeada por primeira vez uma mulher, Janet Yellen, para mandato de três anos, renovável.  A designação presidencial tem de ser referendada pelo Congresso. O Banco Central americano, que se chama Federal Reserve Bank, é, por conseguinte autônomo. A sua Chefe dispõe de junta de diretores, que decide autonomamente, sem nenhuma ingerência do poder político, sobre todas as medidas financeiras, que são de sua exclusiva competência.

      Por quê as grandes economias adotaram o modelo do Banco Central autônomo? Para garantir a autoridade financeira de ingerências políticas, e nesse sentido com vistas a determinar as medidas e providências necessárias para assegurar o bom funcionamento do setor financeiro.

      Como se verifica, as grandes economias cuidam para que o setor financeiro fique livre de ingerências políticas, assegurando a necessária estabilidade para os seus procedimentos. 

      É bom que se relembre que até o presente o Banco Central do Brasil não tem autonomia política. Fernando Henrique, enquanto presidente, se negou a fazè-lo, no que foi imitado por Lula da Silva.  A verdadeira motivação do Planalto é enfeixar mais poder, preferindo declarar que o presidente do Banco Central goza da confiança do presidente da república, e por isso não carece de dispor formalmente de autonomia.

     Isto é conversa para boi dormir. O interesse da economia está em que o Presidente do Banco Central tenha formalmente autonomia, e não dependa da boa vontade do Presidente da República para tanto.  A necessidade disso não foi tão grande sob Lula, eis que Henrique Meirelles tinha certa autonomia, a título concessional (portanto à discrição do Presidente Lula). Bastou que Meirelles solicitasse a Dilma a mesma autorização, sem autonomia no papel, para que a presidente-eleita escolhesse Alexandre Tombini para sucedê-lo. A conveniência e a importância de se ter Banco Central autônomo, com o seu Presidente dispondo de mandato seguro – e portanto sem ingerências do poder político – foi, se preciso fora, amplamente demonstrada pelas seguidas intervenções politiqueiras de Dilma na taxa Selic, ditadas por interesses políticos, e que constituíu uma das razões do recrudescimento da inflação e do enfraquecimento do Plano Real.

       Verifica-se, portanto, que a medida proposta por Marina Silva está no interesse do Brasil. Se quisermos dispor de economia estável e com boas perspectivas de crescimento – o oposto do legado de Dilma Rousseff, que nos trouxe a inflação de volta, e com um Ministro da Fazenda fraco, também recorreu a todo tipo de expediente malvisto no campo da boa gestão financeira (ou será que ficções na contabilidade fiscal, enfraquecimento da Lei da Responsabilidade fiscal, trazer de volta a chamada conta-movimento etc., são procedimentos sérios e respeitáveis ?) – grita aos céus que interessa ao Brasil tornar legalmente autônoma a autoridade do Banco Central.

         Isto posto, caberia à Justiça Eleitoral mandar retirar o anúncio feito pelos marqueteiros de Dilma no que tange à tentativa de crítica desonesta da proposta de Marina Silva.  Que esta proposta atende ao interesse nacional, já está S.M.J. demonstrado pela argumentação acima. Até o momento, e a partir de FHC os presidentes preferiram manter esse poder, contra o que seria mais adequado, como o demonstra amplamente o exemplo das grandes economias ocidentais.

         Além disso, há evidente má-fé na propaganda eleitoral transmitida no programa de Dilma. Faltaria comida na mesa de uma família da classe C porque se entregaria aos banqueiros a direção do Banco Central. Na verdade, o presidente do Banco Central disporia de mandato determinado e a  indicação do nome de conceituado profissional  seria discutida e votada pelo Senado Federal, a exemplo de o que é feito para os ministros do Supremo Tribunal Federal.

          Um bom e autônomo presidente do Banco Central do Brasil seria, ao contrário, um defensor relevante daquela família de classe C do filmeto propagandístico, porque seria um obstáculo contra a inflação.  E até o marqueteiro de Dilma sabe que a carestia é a maior inimiga da mesa do trabalhador e de sua família.

 

 (Fonte:  propaganda eleitoral divulgada ontem no ‘programa’ da candidata Dilma Rousseff)

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