quarta-feira, 24 de setembro de 2014

IBGE: Mouros na costa


                                            
          Para o lulo-sindicalismo – de que são irmãos o chavismo e o peronismo-kirchnerista – o IBGE é um animal a ser perseguido e dominado, assim como a terrível grande mídia.

           Mesmo em período eleitoral, quando a Presidenta  corre perigo de se tornar  história, o alto-comando petista pareceu bastante excitado com as perspectivas abertas pela gravíssima falha (conforme a Ministra Miriam Belchior) cometida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

           Calçando altos coturnos e com o gesto turvo da raiva sob encomenda, na audiência em Palácio, Dilma Rousseff “reagiu absolutamente perplexa que o IBGE possa ter cometido um erro tão básico”. A descrição, feita pela direta auxiliar Miriam Belchior, guardava talvez um pouco de ressaibo de uma derrota do grupo petista (entre os indigitados, Gleisi Hoffman e a própria Miriam), que desejara censurar uma anterior divulgação da Pnad.

           A vingança – aquele proverbial prato que se come frio – luzia nas expressões  e nas providências dos superiores petistas. Serão criadas duas comissões por causa dessa falta banal (Dilma). Em uma intervenção não tão branca no IBGE, foram criadas as tais comissões, uma para avaliar a consistência da Pnad. Integrarão essa primeira especialistas, nomeados por portaria. A segunda, a de sindicância, para investigar os erros da pesquisa e apurar responsabilidades. Essas duas comissões terão trinta dias para apresentar os resultados.

          Não é propriamente a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, que corre um sério risco. Como Vinicius Mota assinalou em nota-editorial na Folha, ‘agora, com o erro na Pnad e em meio a uma guerrilha sindical contra a presidente do IBGE, alguém no governo Dilma enxergou uma oportunidade’.

          O mais estranho é que o IPEA, outro órgão federal de estudos, não teve a mesma sorte madrasta. Como Vinicius Mota sublinha, o Ipea “cometeu uma barbaridade numa pesquisa a respeito da violência contra a mulher. Divulgou que 65% dos brasileiros concordava com uma frase machista sobre ataque sexual. A cifra real era 26%. Corrigiu-se, mas não foi alvo da reação ‘perplexa’ da presidente da República, tampouco foi ameaçado com intervenção.”

          A diferença no tratamento é fácil de explicar. O IPEA já foi domesticado há tempos, eis que a sua direção “desde o governo Lula alinhou-se ao esquerdismo de oportunidade e sobretudo ao governismo desbragado.” Trocando em miúdos, o IPEA  está aparelhado pelo PT, o que não é ainda o caso do IBGE.   

           Nesse contexto, é importante ler o testemunho de Míriam Leitão, colunista econômico-financeira de O Globo. Ainda que a presidência  negue ‘com números e mais números que haja sucateamento do IBGE’, o que dizer então do “corte que houve recentemente no orçamento pedido pelo instituto para pesquisas (em 2015) foi de 73%. Isso levou à suspensão de duas pesquisas, uma delas a importantíssima Contagem da População, e conspira contra a ideia de que houve aumento de meios e recursos humanos no órgão.”

            Apesar de ser um órgão vital para o Brasil, como esta no próprio título do artigo de Miriam Leitão, datado de 23 do corrente, e de ser qualificado como “fundamental ao Brasil”, o IBGE no presente universo de poder petista, está fragilizado.

            Não creio, contudo, que no atual momento político a presidenta Dilma vá com muita sede ao pote.  Se o erro, decerto instrumentalizado e exacerbado dentro do esquema lulo-petista, enfraquece o Instituto, Dilma ora enfrenta o seu maior desafio em termos de sobrevivência política (em comparação, a disputa com José Serra foi um passeio, malgrado a necessidade do segundo turno).

             Por isso, no campo dilmista será hora de ensarilhar armas, na esperança de poder usá-las brevemente. Tudo indica que Marina logrará vencer a prova de enfrentar com dois pífios minutos os dezesseis da Presidenta (e de  João Santana), no que concerne a torrente de mentiras despejadas pela propaganda política do lulo-petismo. Essa ‘vitória’ será, como é óbvio, chegar ao segundo turno, e então dispor de tempo igual para a propaganda (é de esperar-se, nesse contexto, que mais fundos e meios sejam encontrados para enfrentar com êxito o desafio das fabulações da máquina adversária).

             No entanto, por ora, a argumentação terá de cingir-se às contingências presentes. De qualquer forma, não interessa ao Brasil esvaziar o IBGE e transformá-lo na sombra ambulante (como os mortos no Hades) do Indec. A sôfrega arrogância dos Kirchner destruíu “a credibilidade” do Instituto argentino de estatísticas. Não se pode fundamentar o projeto de desenvolvimento econômico e social de um país em ficções e  dados de frágil conexão com a realidade.

 

(Fontes:  O  Globo, Folha de S. Paulo)

Nenhum comentário: