sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Adeus, Mantega

                                       

       Segundo noticia a Folha, em manchete, Dilma afirma que Guido  Mantega  não estará num 2º Governo. Na verdade, a presidenta ficou a um passo de declará-lo explicitamente, mas para a imprensa pareceu óbvio. 

        Disse a candidata petista: ‘Eleição nova, governo novo, equipe nova’. Tudo isso dá o embasamento para a ilação da mídia. Não se pense, porém, que Dilma assim procede por elegância e respeito ao colaborador.

        Ao formular-se tal qualificação, dá para imaginar o riso escarninho do poder petista, para quem não cabem tais mesuras em hora de onça beber água.

        É a própria Dilma quem prega os pregos: “Eu não falo isso (nomes da equipe). Sabe por quê? Por que dá azar falar de uma coisa que ainda não ocorreu. Mas é governo novo, equipe nova. Não tenha dúvida nisso.”

        A longevidade política nem sempre depõe a favor do funcionário interessado. Mantega foi guindado à Fazenda por Lula da Silva, por causa do levantamento do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa pelo Ministro Antonio Palocci. Este último fora demitido pelo Presidente Lula a 27 de março de 2006. A decisão era politicamente inevitável, por mais prejudicial que tenha sido para a economia.

         Saindo Palocci e a sua gestão firme, entrou Mantega, e não tardaram as capitalizações, tão do agrado de Lula.

          Aconselhada pelo chefe, Dilma manteve Guido Mantega na Fazenda. Os estilos dos dois ministros são bastante diversos. Não vejo a novel presidenta cometendo tantos erros de avaliação ao abrir o vaso das bondades inflacionárias, se Palocci houvesse continuado.

          Por outro lado, atendido o retrospecto da economista Dilma ao assumir as rédeas da governança, das duas uma se a hipótese Palocci permanecesse válida: ou ele a teria dobrado, mostrando-lhe o contrassenso de redespertar o dragão, ou a fogosa mandatária o teria substituído por alguém mais manipulável.

          De qualquer forma, como Mantega foi confirmado, não há dúvida de que a situação veio a calhar para Dilma. Pois há apenas uma precisão a fazer: reconfirmando Guido Mantega, a presidenta na verdade assegurou a própria permanência à testa da Fazenda. Além disso, Mantega seria apenas um primus inter pares, eis que outros altos funcionários como Arno Augustin, do Tesouro, tem acesso direto à Chefa.

             Tudo o que ocorreu neste quadriênio foi consequência, em boa parte, da imprevisibilidade presidencial que semeou a confusão na economia e a incerteza nos empresários, a fortiori por ignorarem onde cairiam as desonerações fiscais et al.

             Dessarte, quando Dilma sinaliza que em governo novo, Mantega salta, o mercado pode deduzir das duas, uma: ou tudo isso são assertivas veleitárias, que os fados políticos disporão de outra forma (com a eleição de Marina), ou a nomeação de substituto para Mantega não mudará a realidade preexistente, que é a economia perdurar nas mãos de Dilma Rousseff.

             Não é comovente a maneira atenciosa e respeitosa de Dilma para com seus auxiliares diretos?  Até me pergunto por que Nelson Jobim saíu batendo a porta nas primícias do dílmico poder...

 

( Fonte:  Folha de S. Paulo )

Nenhum comentário: