segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Esquizofrenia Eleitoral

                                       

            Então, ficamos entendidos assim.  O Governo de dona Dilma Rousseff, e por seu alto intermédio declara que o depoimento de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás “não lança suspeita nenhuma (sic) sobre o governo”. E adiante vai, acrescentando a sua interpretação restritiva das revelações do delator, eis que,  até agora, “ninguém foi oficialmente acusado”.

            Como estampa a reportagem da VEJA deste fim de semana, “segundo Paulo Roberto Costa, o esquema da Petrobrás funcionou ao  longo dos dois governos Lula e adentrou no governo Dilma Rousseff”. E mais diante,é afirmado: “Paulo Roberto diz que, por várias vezes, despachou diretamente com Lula”.   Por outro lado, o ex-diretor da Petrobrás, indicado inicialmente pelo PP, continuou no cargo nos dois primeiros anos do governo de Dilma Rousseff”.

            Em meu primeiro blog sobre o tema – o de 6 de setembro corrente Mar de Lama na Petrobrás  - me referi a esse mar de lama também na Petrobrás (a expressão foi talvez o desabafo derradeiro do grande Presidente Getúlio Vargas, ao dar-se conta da corrupção que grassava na guarda presidencial de Gregório Fortunato)[1]. Hoje, Ricardo Noblat se reporta à circunstância de que a Petrobrás está sob a ameaça de um mar de lama”.

            Data vênia, não há ameaça de mar de lama, pois ele aí está, submetendo essa grande criação de Getúlio Vargas a uma condição iniqua e vergonhosa, que esse nosso patrimônio nacional decerto nunca fez por merecer.

           Na cerimônia do Sete de Setembro houve ausências significativas, ligadas às denúncias de Paulo Roberto: Renan Calheiros, presidente do Senado (PMDB), e Henrique Alves (PMDB) Presidente da Câmara dos Deputados.

           No intento – consoante a nota de primeira página de O Globo – de reduzir a influência do presidente do PT, Rui Falcão,  a Presidenta   o substituíu na coordenação da campanha por Miguel Rossetto (que não pertence à corrente majoritária do Partido). Rossetto – o Ministro do Desenvolvimento Agrário e que tem bom trânsito com o MST - não é próximo (como Falcão) de João Vaccari Neto, secretário nacional de finanças do Partido dos Trabalhadores (sucessor do condenado pelo mensalão Delúbio Soares).

             Marina tem mantido a respeito atitude discreta, o que se explica pela indicação de Eduardo Campos pelo delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás, como um dos políticos que teria recebido a propina. Campos, do PSB, tinha em comum com Sérgio Cabral e Roseana Sarney o fato de seus estados abrigarem grandes obras da Petrobrás. Marina afirmou a respeito “ser leviano ligar Eduardo Campos às denúncias”.

              De qualquer forma, isso pesa e constrange, em consequência, a sua reação a mais este escândalo.

                  O único que nada tem a ver com o escândalo – embora o seu partido, o PSDB, enfrente outro, o chamado Mensalão Mineiro  - é Aécio Neves. Por isso,  dirigindo-se à  Presidenta, o candidato tucano afirmou que Dilma “não poderá dizer que não sabia de nada”.  Trata-se de diretíssima indireta, com a referência à postura de Lula na época da explosão do escândalo quando, depois de pedir desculpas aos eleitores, declarava alto e bom som “que não sabia de nada”.

 

( Fontes:  O  Globo, Lira Neto (Getúlio 1945-1954) Cia das Letras, VEJA ) 



[1] Mar de lama: a referência está no livro de Lira Neto, Getúlio 1945-1954, a pp. 327: “Osvaldo, está confirmado. Debaixo do Catete há um mar de lama”.  A frase de Getúlio Vargas, pronunciada na sua última semana de vida, se dirigia ao Ministro da Fazenda, Oswaldo Aranha, um dos poucos amigos fiéis que lhe restavam.

Nenhum comentário: