quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Revista da Semana (V)

                                     

Lord Acton e Erdogan

        Lembramos amiúde nesses dias que correm, em que o poder absoluto ou quase dá as mãos à corrupção de célebre frase de Lord Acton: o poder tende a  corromper e o poder absoluto corrompe de forma absoluta.

        Gravação de conversa telefônica supostamente entre o Primeiro Ministro Recep Tayyip Erdogan e o seu filho Bilal os implica em corrupção. No telefonema, os homens (no caso, Erdogan e Bilal) se acordam em entregar o dinheiro (US$ 66 milhões) a um empresário turco e desfazer-se da quantia.

        Como sói acontecer, o primeiro ministro alçou-se nos coturnos da honra ferida:’Este não é um ataque contra mim, mas contra a república da Turquia. Eles estão ouvindo os telefones criptografados do governo – vejam quão baixo chegaram.’

        Pensando que a melhor defesa é o ataque, o governo Erdogan afastou desde dezembro mais de três mil policiais e seiscentos magistrados, que fizeram parte das investigações (a operação anti-corrupção terminou com a prisão dos filhos de três ministros). Erdogan aumentou ainda o controle sobre a Justiça e a internet, o que tem gerado críticas seja da União Europeia, seja de entidades de defesa dos direitos humanos, como a Human Rights Watch.

        Recep Erdogan está há dez anos no poder, e esta é a maior crise com que se defronta. Com fumaças de líder do mundo islâmico, ele controlara o exército – o tradicional fiel da balança na Turquia – e vinha adotando uma linha sempre mais repressora. Em debate, o líder do partido opositor CHP, Kemal Kilicdaroglu, reproduziu a gravação em plenário, aditando que é prova bastante do envolvimento de Erdogan com a corrupção: “Meu conselho a Você, Erdogan: pegue um helicóptero, deixe o país e renuncie. Quem rouba o Estado, não pode continuar como Primeiro-Ministro.”

       Não por acaso, a televisão estatal cortou por diversas vezes, a transmissão do discurso.

        O telefonema também levou às ruas da capital milhares de pessoas, assim como em outros grandes centros urbanos da Turquia. Em Istambul – a Constantinopla do passado grego – outra bala de borracha atingiu um jovem manifestante no olho.

        Ah!, a hipocrisia da polícia no emprego de o que chamam uma arma não-letal, como meio supostamente dissuasivo da nova munição da repressão. Que progresso é este? Entre outros, em São Paulo, nas manifestações do passe-livre, uma repórter da Folha (que estava a serviço) foi atingida por um policial na vista. Dentro do mesmo contexto dos protestos populares, pergunto: Qual é o propósito de cegar um jovem porque se manifesta contra a corrupção de Sua Excelência Recep Tayyip Erdogan?

 
Quinze dias de prisão por crime não-cometido

 
        Todas as vezes que alguém vai parar na cadeia por uma razão absurda – como no caso do homem pobre que fora trancafiado pela justiça por arrancar de uma árvore parte da casca, porque tinha fome, e agora no do ator negro, que ficou duas semanas preso após ter sido acusado por engano pela vítima, será que é só o caso de dizer tudo foi lamentável equívoco ?
         Vinicius Romão de Souza permaneceu detido  por mais de duas semanas sob a acusação de roubo, após haver sido identificado por engano pela vítima do crime.

          Formado em psicologia, Souza fez parte do elenco da novela ‘Lado a Lado’, da Rede Globo, e trabalhava como vendedor em um shopping da zona norte do Rio.

          A 25 de fevereiro, a copeira Dalva da Costa, vítima do crime e que havia identificado Souza, retratou-se em novo depoimento. No roubo que sofreu, foram levados celular, a bolsa com documentos, cartões de banco, dez reais e um bilhete único.

          Segundo o delegado Niandro Lima, a prisão por roubo foi um ‘equívoco’, mas que não houve má-fé da vítima.  Dalva declarou que cogitara de recuar da identificação já no dia seguinte ao crime, mas que não tinha dinheiro da passagem para a delegacia. Para o amigo de Vinicius, o psicólogo Bernardo Roxo, Vinicius foi vítima de racismo. Segundo ele, em um país onde ninguém é preso, é muito estranho um inocente ir parar na cadeia. O caso teria sido uma sucessão de erros, desde a identificação feita sem a comparação com suspeitos que tivessem o mesmo biótipo de Vinicius.

          A severidade, no entanto, contra Vinicius Romão ainda não se desfez de todo. O Tribunal de Justiça, segundo noticia a Folha, concedeu a liberdade provisória após a polícia reconhecer a falha – e em resposta a pedido protocolado pelo advogado três dias após a prisão. No entanto, pela decisão do TJ, apesar de liberado, Souza ainda terá de se apresentar à Justiça para informar e justificar suas atividades, não podendo ausentar-se do Rio.  Nesse sentido, deverá ir mensalmente ao fórum e não pode sair do Rio. É de esperar-se que tais formalidades – por se tratar de um inocente – sejam prontamente dispensadas.

          Vinicius já está livre, saindo com o pai da Casa de Detenção ‘Patrícia Acioli’, em São Gonçalo. Ainda devem ser apurados o comportamento do policial que, acompanhando a vítima, foi instrumental na determinação da alegada identificação do ‘assaltante’.  Também seria investigado o comportamento do delegado de plantão, William Lourenço Bezerra. 

 

Jovem repreendido espanca professor

 
         O professor de educação física Lucas Silva Lopes Xavier, de 28 anos, foi espancado por dois jovens na noite do último domingo, no shopping Pier 21, em bairro nobre de Brasília.
         O ‘erro’ do professor foi haver solicitado a Yago Ferreira da Silva, de 21 anos, e ao companheiro deste, Matheus Rodrigues, 20 anos, para que não urinassem fora do banheiro. Os dois já tinham consumido muito álcool e ficaram irritados com a solicitação do professor.

          Yago partiu para a agressão. Quando Xavier já estava caído, desmaiado, Matheus se associou ao amigo para dar socos e pontapés na vítima indefesa.

           Segundo a delegada Mabel Correia, no depoimento Yago não demonstrou arrependimento, apenas preocupação com a situação legal (ele não é reu primário, eis que já fora condenado em 2011, por roubo). Agora estuda educação física, pois faz curso de formação para segurança. Consoante a delegada ‘pessoas próximas  indicam que o estudante não  tem controle sobre sua agressividade e comportamento explosivo.’

           Por força da agressão sofrida, o professor Xavier teve traumatismo craniano e a mandíbula quebrada em duas partes. Três coágulos se formaram  no cérebro da vítima, que está com os movimentos do lado esquerdo paralisados. Tudo isso por ter solicitado de Yago que utilizasse o banheiro para as suas necessidades.          

 

 
(Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo,  O Globo on-line)

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