segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Maduro saberá governar ?

                                        
 

       As coisas vão mal na Venezuela. O Presidente Nicolás Maduro só fala de um golpe em marcha contra ele. No entanto, nenhuma tentativa de putsch, pronunciamiento, ou o velho golpe sul-americano, pareça esteja sendo urdido por ora. Nesse contexto, Maduro semelha ter um de dois problemas: tende a chamar de golpe qualquer manifestação contrária mais concorrida, ou pensa ser esta a melhor maneira de encurralar a oposição.

     Assim como o menino que gritava sem razão acerca do lobo, quando o bicho realmente apareceu, ninguém deu crédito ao mentiroso contumaz. Por outro lado, a crise na Venezuela se terá acentuado com a enfermidade de Hugo Chávez. A inflação é a mais alta da América Latina (56,2%) e o viés é para cima! Com o descontrole orçamentário, o desabastecimento generalizado, os operadores econômicos contra a parede (a economia precisa de regras firmes e equitativas, e não da ameaça de fuzis) e, de novo, a carestia, a insatisfação social não para de aumentar.

     Tampouco ajuda a corrupção generalizada, o controle dos meios de informação, a subordinação da justiça, e o arrocho da opinião pública, com o fechamento de jornais e rádios (não há mais tevê que não seja oficialista). Diante desse quadro, não se dá à opinião (e sobretudo aos jovens) outra saída do que a manifestação nas ruas e praças.

     Os dois principais problemas de Maduro são (a) ele não é Hugo Chávez, nem tem a habilidade e o carisma do caudilho; e  (b) tudo leva a crer que o sucessor de Chávez não tenha feito nenhum curso noturno de governança, nem tenha noção de o que seja administrar um país.

     Se Chávez é responsável pela situação geral da economia venezuelana, assim como pelo agravamento da crise energética, com os seguidos apagões (também devidos à falta de reposição no equipamento elétrico, assim como na decadência da estatal do petróleo venezuelano);  por outro lado, desviou a mais valia do petróleo na época das vacas gordas para o financiamento de Cuba[1] e da Alba (a OEA pró-Chavez, com estipêndios para o Equador de Rafael Correa, a Bolívia de Evo Morales, a Nicarágua de Daniel Ortega e até a Argentina (lembram-se da mala ?) dos Kirchner.

     O  desatino presidencial multiplica ações colaterais que mais parecem tentativas de desviar a atenção para supostas ameaças ao regime constitucional, quando o principal perigo reside na incompetência de Maduro.

      Agindo de forma errática, chama os estudantes de agitadores, e ao invés de mensagens de condolência pelos jovens assassinados por forças irregulares chavistas – a milícias dos coletivos tupamaros - ele manda prender os estudantes como ameaça à ordem estabelecida.

      Na verdade, tudo indica que a principal ameaça à ordem esteja no Palácio presidencial de Miraflores. Perdendo a batalha contra a inflação – quiçá a mais alta do mundo! – e o desabastecimento, a Venezuela, a  que nominalmente preside, é um país à deriva. Quem sabe, talvez a designação do desconhecido Nicolás Maduro, na vigésima-quinta hora tenha sido o erro terminal de Chávez. Enjeitou a hierarquia chavista tradicional – e decerto haveria gente mais preparada para assumir o gravoso encargo – e, como no velho México do PRI destapou na despedida alguém que decerto não é muito chegado a governar.

     Maduro gosto de fazer ameaças, convocar manifestações de apoio, assim como arranjar bodes-expiatórios para as mazelas do país, de preferência estadunidenses. Não foi por acaso que ao assumir o governo, expulsou o encarregado de negócios americano e mais dois outros diplomatas.

     Antes em março de 2013, no mesmo dia em que anunciou a morte de Hugo Chávez,  resolveu expulsar mais dois adidos militares da superpotência. E agora, para não fugir à regra, de tentar responsabilizar o grã Satã pelos males da Venezuela, ei-lo a anunciar a expulsão de três funcionários consulares, sob o fundamento de visitarem universidades privadas e oferecerem vistos a estudantes!

      O Mercosul – que jogada política a sua, dona Dilma, de aproveitar um afastamento paraguaio para admitir afinal a Venezuela ! – através de seus líderes vêm adiando a reunião de cúpula que deveria realizar-se em Caracas. Os motivos são atribuídos a motivações protocolares, mas a verdade é outra – como aponta Eliane Cantanhede na Folha – quem pensa na loucura de reunir-se no caos caraquenho atual?

       O cumprimento entre Maduro e o principal líder oposicionista Henrique Capriles foi fotografado, mas nenhuma palavra foi trocada.

       Agora, a ameaça de prender o político oposicionista Leopoldo López – a quem se atribuiria responsabilidades pelos distúrbios e as manifestações da juventude - marca mais um degrau na descida para o regime de força. Nesse sentido, o Secretário de Estado John Kerry manifestou preocupação com a violência na Venezuela, em situação que só se agravaria mais se confirmada a intenção do presidente Maduro de prender López.

       

(Fontes: Veja, New York Times, Folha de S. Paulo)




[1] Por falar em Cuba, o Brasil de Dilma Rousseff também tem feito das suas. Com o estado de nossos portos, e os empecilhos que colocam para a exportação de grãos e outros, não é expor demasiado o BNDES o financiamento secreto de cerca de um bilhão de dólares para o porto de Mariel ? Será que o contribuinte brasileiro concordaria com o financiamento da ditadura cubana ?

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