quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Obama: reforma da saúde começa mal

               

         Pensou-se que Barack Obama aprendera a lição do primeiro biênio de seu mandato inicial, em que, dispondo de maioria nas duas Casas do Congresso, transformara a Casa Branca em local insular, quase autista. Aí o presidente Obama, como se fora ainda chefe de instituição de ensino, realizou sem-número de seminários em que seu Assessor para Assuntos econômicos, Larry Summers, exercia inaudito controle. Com efeito, conforme assinalado pelo livro Homens de Confiança, de Ron Suskind, Obama concordava em que fossem rediscutidos temas debatidos na véspera, e nos quais já havia manifestado a respectiva opinião.
        Em outras palavras, ele, o 44º presidente dos Estados Unidos, admitia que assessor seu reabrisse questões em que ele batera o martelo, sinalizando o favor presidencial a respeito de determinada posição.

        Tal flexibilidade, se pode ser praticada em ambientes como Harvard – de que Barack Obama tinha sido o primus inter pares – dificilmente se coadunaria com as normas e usanças atinentes à Casa Branca.
        Todos nós sabemos como terminou tal período, senão no desastre eleitoral do shellacking (tunda), em que não só o Partido Democrata perdeu a maioria na Câmara de Representantes, mas também tornou possível  instrumentalizar  a construção pelo GOP de bases para a permanência de artificial maioria republicana na Câmara Baixa, com as danosas consequências de  representação partidária que não está afinada com a vontade política nacional. O assunto em tela já foi objeto de estudo em mais de um blog, aos quais me permito remeter o leitor (Eleições intermediárias nos EUA (I e II), de primeiro e dois de outubro p.p.).

         O velho Buffon tampouco perdeu a aplicação no caso. Se o estilo continua a definir o homem, mesmo que tal maneira de ser tenha implicações negativas para alguém na posição de Primeiro Mandatário, fica mais fácil entender porque Obama reincida em práticas que decerto não se coadunam com os fins de seu presente ofício, para o qual foi reeleito em 2012.
         Recentemente, como reportado neste blog, o Presidente convocou Jeffrey D. Zients, ainda jovem executivo para encarregar-se da operacionalização do deficiente site da reforma para a saúde. O prazo que se concedeu Zients vai até 30 de novembro corrente. Chamado in extremis, resta verificar se ele terá condições de operacionalizar a contento o dito site  HealthCare.gov

       Segundo relata o recente best-sellerDouble down”,  o ex-presidente Bill Clinton – que, apesar de não ter relação próxima com Obama, o ajudou bastante na campanha pela reeleição, disse a amigos que “Obama faz certo toda a parte difícil de governar, mas não sabe fazer a parte fácil”.  Nesse contexto, Clinton está de acordo com as grandes conquistas de seu sucessor – reforma da saúde, retirada das tropas do Afeganistão e a política do estímulo econômico, mas no particular considera que o presidente é insular, alienado, distante da cozinha política com aliados e opositores, e até mesmo de sua equipe.
       A esse respeito, Obama foi surpreendido pelos problemas burocráticos da implantação da reforma da saúde, deixado por conta da Secretária de Saúde Kathleen Sebelius, cujo conhecimento da questão ela demonstrou pelas abismais respostas dadas às perguntas dos congressistas.

       Atualmente, Barack Obama está empenhado em um “tour de desculpas”, em que já visitou cinco estados.
       Não surpreende, portanto, que a popularidade do Presidente tenha despencado de 51%, em maio, para 41% agora.

       Por outro lado, o baixo número de pessoas inscritas no programa de saúde (106  mil) em que a maior parte, i.e. 76.319 provém das câmaras estaduais (exchanges) e não daqueles que recorreram ao site oficial da assistência custeável da saúde (26.794)  manda mensagem desfavorável para o Congresso.
       As previsões anteriores, veiculadas pelo não-partidário C.B.O. (Escritório Congressual do Orçamento), em que cerca 465 mil pessoas se registrariam no primeiro mês  se acham muito aquém da marca.

       Malgrado o nervosismo dos congressistas democratas, é preciso ter presente que os primeiros meses nos planos desse gênero (como aconteceu em Massachusetts) se caracterizam por movimento fraco. A notar que o prazo de inscrição se estende até 15 de dezembro p.f., para cobertura completa para o ano vindouro. Para efeito de matrícula, essa cobertura para 2014 se fecha até 31 de março. Tudo isso, por conseguinte, além de indicar um habitual menor número de adesões nos meses iniciais, não exclui que os totais cresçam quando estiverem iminentes os prazos finais de registro.

 

(Fontes: Folha de S. Paulo, New York Times)

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