quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A Trapalhona na Economia


       Aquilo que se procura esconder, em geral tende a aparecer bem mais depressa do  que se pensa.    O lulo-petismo bem cedo fez a sua escolha pelo aparelhamento do partido através do Estado. Daí a ênfase no empreguismo desvairado, com a contratação maciça dos companheiros e dos camaradas de viagem.
       A princípio, porém, havia a intenção, mais do que manter as aparências, de respeito senão integral, pelo menos com ênfase na ortodoxia econômico-financeira. Nesse sentido, Antonio Palocci (até que repontasse o escândalo do caseiro) em coordenação com Henrique Meirelles, no Banco Central, trataram de respeitar na essência o Plano Real.

      Posto que no segundo mandato de Lula da Silva, as coisas não andassem da mesma maneira, com o encanto do Presidente pelas capitalizações (que aumentam a dívida bruta e distorcem as despesas fiscais) e a presença de Guido Mantega na Fazenda, a situação continuou administrável.
      A entrada de Dilma Rousseff se mostraria desastrosa para o real e a economia. Tomando, na prática, o timão das mãos de Mantega, transformou a Fazenda em um conglomerado de feudos, com destaque no Tesouro para o favorito Arno Augustin.

      Já escrevi o bastante sobre a inconsciência de tirar a inflação do frasco. Sua peculiar maneira de combater o dragão – pela retórica de frases vazias, que pareciam retiradas de uma cápsula do tempo da hiperinflação (do gênero não permitirei que a carestia volte, etc.etc.) – só contribuíu para agravar o problema, com a fraqueza do Ministro da Fazenda, e a docilidade do Banco Central.
      Com a quebra das metas e, sobretudo, a alça generalizada dos preços nos supermercados e no comércio, a leviandade foi posta a nu, e castigada com a queda abrupta nos índices de aprovação. Na terra dos impostos, se ressuscitou o mais iníquo, que é a inflação. De repente, atingida por um golpe a que não atinara, Dona Dilma acordou sobressaltada, e tratou de vestir os trajes dos penitentes. Fê-lo não porque tenha apreço pelo Plano Real, a que não vê como conquista da nacionalidade, mas sim como engenho do PSDB.  Na essência, cometeu o idêntico erro de seu criador, que perdeu duas eleições seguidas para a nêmesis FHC por descrer no que o povo brasileiro tivera o bom senso de acreditar.

      Quando se quebra o frasco, recompô-lo será sempre tarefa ingrata e não de todo satisfatória. Veja-se o que está acontecendo com a economia e as finanças. As promessas de envergar o camisolão dos penitentes são vistas com desconfiança pelo mercado. E porquê? Os malabarismos nas contas fiscais não logram esconder os truques e os artifícios. É a sina de todos os que seguem os passos da contabilidade imaginosa de Cristina Kirchner e similares.
      Não há nada mais burro do que tentar tapar sol com peneira. Além de ressuscitar práticas do tempo inflacionário – que deveriam estar enterradas pelo mal que fizeram – não só são reexumadas, como indica Miriam Leitão na sua coluna, como pensam que voltarão a ter as boas notas dadas à economia brasileira sob Lula da Silva.

     A ênfase nos gastos correntes, além de ser  pesado ônus para a gestão financeira, dada a sua inteira falta de flexibilidade, só tende a agravar o quadro fiscal, com o desequilíbrio das contas, e a triste, penosa situação de recorrer a sovados expedientes (que oneram o Tesouro e os bancos públicos), que ao cabo redundam na quase insolvência das contas. Mingua o superávit fiscal. Veja-se o que assinala Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC: “Não é por acaso que o resultado (oficial) acumulado nos nove primeiros meses de 2013, superávit equivalente a 1,3% do PIB, é o mais baixo dos últimos 15 anos, apesar do uso crescente de receitas extraordinárias (tipicamente concessões e dividendos) para ‘engordar’ o saldo fiscal. ‘Limpo’ desses truques, o superávit primário dos últimos 12 meses corresponde a mero 0,7% do PIB, distância considerável da média superior a 3% do PIB registrada no período 2003-2008, assim como da observada entre 2009 e  2012 (1,6% do PIB).”
      Com a credibilidade de quem já chefiou diretoria no Banco Central, Schwartsman, outrossim, assinala: “ o que não é patético, mas trágico, é a credulidade do BC, que, mesmo em face de promessas quebradas e da extraordinária degradação das contas fiscais, prossegue com a ladainha afirmando que ‘o balanço do setor público se desloca para a zona de neutralidade’.”

      Compreende-se, neste contexto, de manietação do BC à dona Dilma – e bem se sabe o que tal significa em termos de submissão incondicional – a iniciativa de Lula da Silva de dar autonomia por lei ao Banco Central, como é prática corrente nas grandes economias. Já frisei que não conceder autonomia ao BC foi rematado erro de Fernando Henrique.  Lula, durante os seus dois mandatos,  concedeu ao BC de Meireles, senão completa autonomia, pelo menos margem de manobra. Bastou que Henrique Meireles solicitasse a referida autonomia (ainda que de boca) para a futura Presidente, para que ela  resolvesse não mantê-lo.

      No entanto, Lula recuou depois de encontrar-se com a pupila, que não admite deixar de ter sob seu controle o BC. Teria sido mais inteligente de sua parte, que houvesse concordado com a proposta de Lula e do senador Renan Calheiros.
      Tendo um eleitorado cativo – à custa do dinheiro do contribuinte – pela política assistencialista do PT, e, ignara das consequências econômico-financeiras, de possíveis bondades  (como a recentíssima idéia de uma quota aos negros no serviço público) deverá crescer nas sondagens aquela que acredita ter o controle do Erário, mas pela própria irresponsabilidade o esvazia perigosamente.  A Presidenta parte com inegável vantagem na  próxima eleição. Não creio que isto seja o melhor para o Brasil.

       A maneira de Marta Suplicy, com as suas indagações ao então  candidato à reeleição Gilberto Kassab, perguntemos a respeito de Dilma:  Tem  juízo ?  Trará de volta mais inflação?

 

 
(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo)

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