segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A Ucrânia se alinha ao Kremlin

                          

         Diante da larga via europeia antes aberta para Kiev, a Ucrânia cede às pressões de gospodin Vladimir Putin e se encaminha para agregar-se à União Aduaneira com Moscou.  As pressões do Kremlin valeram tanto para a pequena (e pobre) Moldova quanto para a Ucrânia, um dos maiores países que se dissociaram da suserania de Moscou, ao ensejo do desaparecimento da URSS, no início da última década do século vinte.
         Para assegurar-lhe o ingresso no curral russo de União Aduaneira, o presidente Putin – cuja índole autoritária, após o hiato de liberdade dos anos de Boris Ieltsin, tem pesado bastante sobre o sofrido povo russo – teria exercido fortes pressões sobre o governo de Kiev, inclusive com a ameaça de retaliação com sanções comerciais a atingirem a Ucrânia oriental, que constitui a principal base de apoio político para o Presidente Viktor Yanukovytch.

        Assim, a Rússia de Putin acrescentaria à União Aduaneira sob a sua égide a participação de país de considerável extensão territorial e relevância econômica, o que implica, de certa forma, em disfarçada reconstituição parcial de sua antiga esfera de influência.
         A Ucrânia está dividida diante desta encruzilhada.  Enorme e multitudinária manifestação popular, vocalizando a opção pela Europa ocidental e democrática, foi  organizada neste domingo pelos três principais partidos de oposição. Ocorreu nas principais avenidas da capital Kiev, e, embora cercada por grande dispositivo de segurança, terminou sem incidentes diante da sede do Parlamento.

         Dela participaram o UDAR (Aliança Democrática Ucraniana para a Reforma), com Wladimir Klitschko (que substituía o ausente líder e campeão de box Vitali Klitschko); o partido Pátria, cuja líder Yulia Timoshenko continua encarcerada; e por fim o partido nacionalista Svoboda.
         Como o blog tem amiúde referido, a União Europeia negociara acordo comercial com Kiev, cuja relevância para o governo do Presidente Viktor Yanukovytch e do Primeiro Ministro Mykola Azarov se afigura inegável, abrindo para a Ucrânia grandes correntes de comércio.  A assinatura em Vilnius, na Lituânia, desse importante instrumento comercial, com boas perspectivas de abertura para a economia ucraniana, fora condicionada à liberação para tratamento de saúde da condenada política e ex-Primeiro Ministro Yulia Timoshenko.

          Dado o precário estado de saúde da Timoshenko – líder inconteste do principal partido de oposição a Viktor Yanukovytch – as razões humanitárias sobrelevam inclusive às políticas, para que o Presidente permita-lhe a saída da Ucrânia para ser tratada em hospital da  Alemanha. A ex-Primeiro Ministro se encontra em lazareto de Kharkov e padece de grave afecção na coluna.
         Através de uma série de desculpas pretextuosas,  o presidente Yanukovytch vem eludindo há tempos a autorização para que a Timoshenko receba o indispensável tratamento a que a piora em seu estado de saúde torna inadiável.
  
        Não subsistem dúvidas de que a punição aplicada a Yulia Timoshenko tem motivação política. Ela concorrera com Yanukovytch  para a presidência da Ucrânia, e não foram decerto dissipadas as suspeitas sobre a confiabilidade do resultado de  eleição renhida e definida por frágil maioria em favor do atual Presidente.

            Malgrado as pressões de Putin, há observadores que explicam a opção de Yanukovytch em favor da União Aduaneira de Putin, como uma escolha já anunciada. Para o atual presidente – cuja força política reside precipuamente na região do país mais ligada a Moscou – não surpreende deveras que conduza esta grande nação à  aliança ainda mais estreita com o Kremlin, de que, de resto, participam as ‘democracias’ do Kazakstão e da Bielorrússia, além da Moldova, país mediterrâneo (landlocked) e de parcos recursos.

            Benvindos ao passado, pois!

 

(Fonte subsidiária: The  New York Times)

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