sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Obama: incompetência para questões práticas ?

                                

         Forte na teoria, mas deficiente na prática, seria descrição adequada de Barack H.Obama, o 44º Presidente dos Estados Unidos da América ?
         Existe prevenção, a que já me referi, do eleitorado americano quanto a um primeiro mandatário que se defina como intelectual. O que em outros países é visto como qualidade, na terra de Tio Sam a condição de intelectual não é necessariamente um ponto positivo na avaliação do eleitor para postulante à Casa Branca.

        Por uma série de fatores, essa característica não foi empecilho para que o Senador por Illinois vencesse a favorita Hillary Clinton nas primárias do Partido Democrata para a nomination e, chegado aos comícios de 2008, superasse, sem maiores dificuldades, o candidato republicano e igualmente Senador, John McCain.
        No entanto, este imprevisto contratempo na implementação da Reforma Sanitária Custeável (Affordable Care Act), que o GOP chama derrisoriamente de Obamacare, constitui, na realidade, decorrência da personalidade e do estilo político de Barack Obama.

        Semelha de difícil compreensão, à primeira vista, que um problema técnico – na verdade rasteiro – represente óbice para a implementação do ACA, este grande esforço legislativo aprovado no primeiro biênio presidencial sem um voto sequer do Partido Republicano, e, posteriormente, para surpresa de muitos, validado pela Suprema Corte de maioria conservadora, sob a liderança do Chief Justice (presidente da Corte) John G. Roberts.
         Como definir o que um político democrata corretamente qualificara como simples problemas técnicos na implantação de um site, a controvérsia nacional surgida em torno da implementação da reforma da saúde ?

         Antes de procurar situar, analisar e entender a matéria, tenha-se presente que nos recentes comícios as dificuldades com o Obamacare  foram problema de âmbito nacional, e contribuíram para aumentar os juízos negativos na opinião pública quanto à sua qualidade. A tal propósito, muitos senadores da bancada democrata – sobretudo os que devem enfrentar as urnas em 2014 em estados vermelhos, i.e., republicanos – estão inquietos e tentam minorar os supostos aspectos negativos da reforma através de projetos de lei pontuais.
         Por outro lado, o GOP e, em especial, a facção extremista do Tea Party, tenta pescar em águas turvas através de sessões na Câmara de Representantes (com maioria do GOP desde a debacle de 2010) que exploram a ineficácia na implementação e as dificuldades encontradas pelos cidadãos que desejam inscrever-se no programa.

         Dessa maneira, um aspecto técnico (a configuração do site do ACA) tem sido usado para desmerecer e, mesmo, ridiculizar a qualidade e a importância da Reforma da Saúde.
         O Presidente Obama viajou ao Texas para sublinhar uma escolha sectária do governo do Estado que prejudica a população carente daquela unidade federativa. Por ora, os republicanos controlam o Texas. Dada a presença maciça de cidadãos de origem mexicana naquele estado, as possibilidades de a médio prazo o Texas continuar como um estado vermelho (i.e., republicano) são no mínimo discutíveis. Há uma luta já em curso nesse sentido, para que no futuro ocupe a governança político que venha a resgatar a herança de Ann Richards, a última democrata – foi derrotada por George W.Bush – a ocupar o governo do Estado da Estrela Solitária.

          Por  decisão que decerto não consulta o interesse da população, o governador do estado se recusou a instalar uma câmara (exchange) para o ACA no Texas. Como Obama sublinhou, isto implica em negar tal benefício a um milhão de pessoas, atualmente não cobertas pelo seguro médico. Essa  decisão sectária, que  pode valer-se da falsa polêmica sobre a implementação da Lei, é decerto etica e politicamente inaceitável.          
         Como foi referido no blog de sete do corrente, o governador Steve Beshear, democrata do Kentucky – um estado sulista limítrofe, mostrou que as dificuldades com o site do ACA podem facilmente ser vencidas, como estão sendo naquele estado.

         Beshear na verdade fez tudo o que a Secretária da Saúde Kathleen Sebelius e o próprio Presidente Obama não fizeram.  O Kentucky não esperou que soasse o prazo limite para a entrada em função do site para testá-lo e operacionalizá-lo. Para tanto, se vale de auxiliares que orientam os interessados, a ponto de que a câmara daquela unidade federativa registre já um bom número de inscritos (antes sem qualquer cobertura). Ao abrir as portas do Medicaid para os postulantes, se dissipam as polêmicas em torno da Assistência Custeável.
          Salta aos olhos que estamos diante de um falso problema, criado tanto pela Secretária de Saúde Sebelius – que deu na respectiva audição pelo Congresso impressão penosa no que tange ao seu domínio de o que deva ser feito  - quanto, pelo próprio Presidente, ao pairar em autismo que recorda o seu desastroso distanciamento da opinião pública no primeiro biênio.

          É essa liderança – como conseguir que as coisas sejam feitas – que parece colocar inaudita dificuldade para Obama. Além de discursar – como foi o intuito de sua viagem ao Texas – o presidente carece e muito de intervir no plano prático para, afinal, evidenciar que a dificuldade da aplicação da reforma da saúde decorre, na verdade, de má-administração (mismanagement), como definiu o Senador democrata Mark Begich, do Alasca (um dos mais ameaçados de perder o assento em novembro de 2014): “É absolutamente inaceitável que nos dias de hoje a Administração não possa, na prática, atender (can’t deliver) as promessas feitas aos americanos por causa de problemas técnicos com um site na internet”
       É esta dificuldade de lidar com o prático mas indispensável (nuts and bolts) que constitui um dos maiores inimigos de Barack H. Obama. Em certas ocasiões, o Chefe de Governo tem de descer à arena do prático e do elementar. Manter-se sempre nas alturas da intelectualidade pode implicar – como ocorre no presente – em dar oportunidade ao adversário político de confundir a opinião pública, e desmerecer da qualidade de um programa, que só precisa dispor de gente eficiente (como no Kentucky) para operacionaliza-lo e, assim, dissipar as inverdades e as calúnias do Tea Party e do próprio GOP contra a Reforma da Saúde.


 
(Fonte: New York Times)

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